Empresa responsável por “iscas” na internet fatura meio bilhão por ano

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Provavelmente, ao ler uma notícia, você já deve ter se deparado com alguma reportagem de nome extravagante e que costuma ser apresentada na parte inferior da página. Por exemplo, “Conheça a refeição mais maluca do Mc Donald's”, “11 astros mirins que você não reconheceria hoje em dia”, “Homem emagrece 20 quilos comendo apenas essa frutinha misteriosa”, “Nove pessoas que você não acreditaria que existem” etc.

A empresa Taboola é uma das principais responsáveis por esse tipo de conteúdo. Claro que nem todos gostam de publicidades direcionadas, mas as reportagens patrocinadas já garantiram uma bolada para Adam Singolda, o CEO da companhia.

Em geral, esse tipo de conteúdo é mostrado na parte inferior da tela, possui links e fotos para notas externas e contam com subtítulos chamativos, como “Talvez você goste”, “Recomendados para você” ou “Mais histórias da internet”.

Além disso, as imagens escolhidas para ilustrar essas reportagens costumam ser apelativas: mostram alguns famosos, mulheres de biquíni, séries de TV, resultados de dietas mirabolantes ou qualquer outro tipo de assunto que consiga atrair o clique.

Os críticos conservadores não apoiam o método de trabalho da Taboola – afinal ela recomenda notícias baseando-se em seus hábitos de navegação. Mas, ainda que seja chamada de “spam”, “click-isca” e “degradante”, mais de 400 milhões de pessoas em todo o planeta clicam mensalmente em alguma das URLs da empresa, que foi fundada em 2007. Atualmente, ela fatura US$ 250 milhões (cerca de R$ 610 milhões) por ano.

Um nascimento de um novo império

Adam Singolda fundou a Taboola após trabalhar quase sete anos como oficial de criptografia de elite das Forças de Defesa de Israel (IDF). A companhia funciona basicamente com a distribuição de publicidade online.

Entretanto, ainda que a tecnologia da empresa seja bastante sofisticada, o modelo de negócio é bem simples e direto. Os sites que estiverem interessados em fazer parceria com a empresa não precisam pagar nada para incluir os links e ainda ganham uma parcela da receita da publicidade que a Taboola adquiriu com o anunciante de cada história. Dessa maneira, o site ajuda a divulgar os endereços patrocinados e ganha parte do lucro.

Como atualmente o jornal impresso está decaindo bastante, as editoras conseguem com o serviço uma nova forma de atrair o público e divulgar suas matérias. Ainda assim, por que é tão ruim se deparar com notícias patrocinadas?

Singolda brinca que a culpa é toda dos usuários: “O problema é que, para cada pessoa que odeia o nosso conteúdo, existem diversas outras que o adoram e clicam nele. Dessa maneira, nós registramos uma nota como sendo popular e a deixamos mais tempo no ar para que outras pessoas possam vê-la”, informa.

“Se ninguém clicar ou twittar a respeito, nós tiramos a nota do ar. Uma vez um jornalista reclamou que estava vendo muitas histórias sobre a ‘Kim Kardashian’ no Taboola. Então perguntei se ele costumava clicar nesses links e ele disse que sim. Minha resposta foi: ‘Então por que você está reclamando comigo?’”.

Todavia, ao que parece, a Taboola levou a crítica a sério e, no ano passado, incluiu uma ferramenta simples que permite a remoção das publicidades indesejadas com apenas um clique. Vale lembrar que, enquanto os usuários não removerem os cookies que os identificam na web, o software da ferramenta lembrará deles e oferecerá noticiais direcionadas com o tipo de conteúdo acessado.

Segundo o criador, a ferramenta está em constante aperfeiçoamento. Portanto, se procurar notícias sobre vinho, é bem provável que nos relacionados apareça algo parecido.

Início da carreira

Embora a ideia do Taboola só tenha surgido após Singolda deixar o exército, ele defende que o serviço militar desempenhou um papel importante em sua empreitada, sendo o local o principal responsável por seus conhecimentos em treinamento e gerenciamento.

Desde pequeno o CEO já dava sinais de seu talento, sendo escolhido para o programa de treinamento de informática do IDF assim que entrou para o exército. Aos 20 anos, Singolda já chefiava a equipe de soldados responsável pela criptografia de dados. Era um de seus trabalhos, por exemplo, possibilitar que os generais utilizassem os celulares sem interceptações.

“Não há dinheiro no mundo que pague aquela experiência”, defendeu o rapaz ao se lembrar de seus dias como militar. “Eu aprendi em primeira mão como liderar uma equipe e fazer com que todos trabalhem em conjunto. E, como estava no exército, não podia dar nenhuma recompensa financeira – a única maneira de fazer com que outros fizessem alguma coisa era os inspirando”.

Além disso, o exército possibilitou que Singolda conhecesse muitas pessoas que, posteriormente, entrariam no Taboola. A ideia da empresa surgiu quando ele já estava em casa com os pais. Já o nome é uma adaptação de “tabula rasa”, o que em latim significa algo como quadro em branco.

Os primeiros passos da Taboola

Para começar o trabalho, o CEO conseguiu a ajuda de um “investidor anjo”. Com alguns funcionários e quase nenhum dinheiro durante quatro anos, ele desenvolveu o software anterior ao Taboola antes mesmo de ele ser disponibilizado para o público.

Atualmente a companhia possui 200 empregados, e diversos sites internacionais, como o USA Today e o Huffington Post, utilizam o sistema da Taboola. Embora o escritório principal da empresa esteja situado em Nova York, ela também mantém uma filial em Tel Aviv, a qual é reconhecida como uma das maiores representantes tecnológicas de Israel.

Uma cultura empreendedora

Segundo Singolda, Israel possui, por várias razões, um campo tecnológico muito forte, incluindo o treinamento que o serviço militar proporciona e o fato de que o país possui uma cultura empreendedora muito enraizada.

Ainda que alguns dos funcionários da Taboola também sejam reservistas da IDF – os quais foram chamados para servir durantes os recentes conflitos de Gaza – o CEO informa que a empresa não foi influenciada.

Em vez disso, a Taboola está procurando novos investimentos milionários e pretende se expandir seus negócios para todo o mundo.

Fontes

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