Cada vez mais as câmeras digitais permitem que amadores consigam bons resultados em suas fotografias. Além do desenvolvimento de sensores cada vez melhores, e a utilização de lentes de qualidade, novos processos começam a fazer parte do dia-a-dia do fotógrafo casual.
Isso começou com o face detection (detecção facial), que reconhece rostos em imagens, para facilitar o foco e o cálculo de exposição das imagens, garantindo belos retratos. Essa mesma tecnologia também já é usada em computadores para facilitar a catalogação das fotografias, reconhecendo os rostos de seus retratados.
Agora chega uma extensão dessa tecnologia, trazida pela Sony e inicialmente disponível nos modelos Cybershot T200, T300 e T70, que além de facilitar a composição, foco e exposição, permite que a própria câmera decida quando disparar o obturador.
Diga xis!
A ideia por trás do smile shutter é facilitar a vida de quem quer guardar recordações de família, férias e festividades. A câmera, quando regulada para funcionar com o smile shutter não irá disparar nenhuma vez sem que alguém esteja sorrindo para a câmera. Alguns podem achar isso ruim, porém existem muitas ocasiões em que sorrisos são tudo o que representam aquele momento. Festas de crianças, casamentos e outras celebrações são as mais óbvias, mas mesmo um passeio de fim de semana no parque também fica mais bonito com rostos felizes na lembrança.
Olha o passarinho!
Para que o smile shutter funcione, é necessário – obviamente – que você tenha pelo menos uma pessoa enquadrada. Até aí não tem segredo: o face detection acha a pessoa, analisa o formato do rosto e regula a câmera para a foto ser bem tirada. Mas e quando você precisar fotografar várias pessoas ao mesmo tempo? Sem problemas, nesse caso você tem duas opções. Uma delas é mais recomendada para ocasiões sem um “personagem principal”, em que o primeiro sorriso que aparecer irá disparar a câmera e capturar a imagem. A outra – melhor utilizada em aniversários, casamentos e outras festas com um foco específico numa pessoa – permite que você, com um toque na tela LCD da câmera, selecione quem deve sorrir para disparar a foto. Assim, o sorriso único da noiva na porta da igreja ou da criança comemorando seu décimo aniversário com os amigos é o mais importante da festa, e ficarão lindamente registrados. Esses dois modos são necessários pois ainda não é possível, para a câmera, organizar seu processamento para “prestar atenção” em todos os rostos ao mesmo tempo.
Para acionar o smile shutter, basta ligá-lo no menu de configuração da câmera e, já no modo de fotografia, pressionar o botão de disparo uma vez. Com esse toque a câmera irá regular foco e exposição. O bip tradicional das câmeras compactas soará quando esses ajustes estiverem prontos e só o que falta para a foto é o sorriso do retratado. Simples, rápido e fácil.
Outras configurações do smile shutter são possíveis, ajustando a quantidade de disparos e a sensibilidade (ou o quão atenta está a câmera a sorrisos). É possível fazer até seis disparos em cada toque no botão da câmera, ou apenas um. A escolha, nesse caso, depende do retratado. Em situações mais tranquilas, um único disparo pode ser suficiente, mas com certeza ao fotografar crianças, os disparos extras serão bem vindos, aumentando a chance de se conseguir a foto perfeita.
A Mona Lisa não!
Antes de comentar sobre a sensibilidade, alguns comentários técnicos são necessários.
Tanto o face detection quanto o smile shutter funcionam a partir da interpretação do sensor pelo firmware da câmera. Isso quer dizer que, para identificar um rosto, ou um sorriso, o sensor está continuamente enviando informação para o processador de imagem da máquina fotográfica. O chip então vai procurar – a partir de uma predefinição genérica – rostos no cenário enquadrado. Essa predefinição diz ao sensor que conjuntos de pixels com determinadas características de luminosidade e cor relativa, em certas posições, caracterizam olhos. Com esses grupos identificados, o sensor procura então outros grupos de pixels que possam ser identificados – também contra a predefinição – como nariz, boca e cabelos. Ao identificar todos esses grupos, a câmera começa a considerar a área que os comporta como sendo um rosto. Até aqui, é o face detection funcionando.
O smile shutter é um refinamento do processo realizado pela detecção facial. O que o processador da câmera faz, depois de reconhecer um rosto, é esperar uma alteração no grupo de pixels correspondente à boca, contra a predefinição genérica e contra a visualização do face detection. O formato da boca muda quando sorrimos, bem como a cor da área correspondente, graças ao branco dos dentes e a mudanças nas sombras, principalmente devido aos lábios que se abrem. Ao identificar essas alterações contra uma predefinição “sorriso”, o processador da câmera ordena ao obturador que realize a captura da imagem. É essa predefinição “sorriso” que impede a câmera de fotografar gritos e outras expressões que alteram o formato da boca tanto quanto – ou mais que – um sorriso.
Perceba que a câmera irá analisar não só os padrões, mas também alterações na leitura inicial do sensor. Fazendo isso, é possível aumentar a sensibilidade de forma a não precisar regular um padrão de smile shutter para peles negras e outro para peles brancas, por exemplo.
O ajuste de sensibilidade citado anteriormente é justamente uma limitação nos padrões de processamento tanto das predefinições quanto das leituras iniciais de cada imagem. Em sensibilidade baixa, apenas sorrisos muito abertos, com dentes à mostra e olhos mais apertados serão suficientes para o disparo do obturador. Nessa configuração, por exemplo, a Mona Lisa de Leonardo da Vinci foi reconhecida como um rosto, porém o enigmático sorriso da Gioconda não foi suficiente para disparar o obturador, pois além de discreto, ele é imutável.
Um segundo grau de sensibilidade permite que sorrisos mais discretos, sem mostrar tanto os dentes, mas com estes ainda visíveis, seja fotografado. Já no nível mais sensível, mesmo aqueles sorriso leves, que não são mais do que apenas uma curvatura da boca, já podem ser captados.
Mas não é perfeito
Como toda tecnologia nova, ainda em fase de refinamento dos processos, o smile shutter tem seus defeitos. O primeiro – que já foi comentado – é a impossibilidade de fotografar qualquer coisa manualmente enquanto o smile shutter está ativo.
Um segundo problema que pode atrapalhar fotógrafos mais criativos é a dificuldade da câmera em reconhecer rostos em posições que não estejam olhando diretamente para a câmera e com os olhos nivelados. Essa dificuldade é originária justamente nas predefinições que o face detection usa para identificar os rostos e os sorrisos. Claro que é possível o reconhecimento do rosto em alguns casos, porém a maior eficácia é encontrada na posição de retrato frontal.
E vale a pena?
Bom, essa escolha depende da situação de cada fotografia. No artigo foram comentados alguns exemplos de utilização, e muitos outros podem ser descobertos no cotidiano de cada um.
De qualquer maneira, é mais uma possibilidade trazida com a tecnologia, e como toda inovação, só tende a melhorar com o tempo. No momento, é mais uma curiosidade e um artifício para momentos difíceis, mas pode vir a tornar-se característica presente em todo tipo de câmera.
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