(Fonte da imagem: Shutterstock)
Usamos tecnologias da área de inteligência artificial diariamente, por mais que não percebamos. Os recursos do assistente de voz de diversos celulares, como a Siri do iPhone 5 ou o S Voice, do Galaxy S4, só funcionam por causa de um campo da IA conhecido como Processamento de Linguagem Natural. E esse também é um dos campos mais explorados por outra gigante do mercado: a Google.
São diversos os produtos da empresa que usam inteligência artificial. O Google Googles, por exemplo, faz uso da visão computacional e até mesmo o anti-spam do Gmail precisa ser “inteligente” para separar, com maestria, as mensagens ruins das demais. E não podemos nos esquecer, também, do carro desenvolvido pela companhia para andar sozinho pelas ruas, sem a presença de um condutor.
Durante o Google I/O 2013, que aconteceu entre os dias 15 e 17 de maio, a empresa reforçou o investimento na área da inteligência artificial e anunciou uma atualização do Knowledge Graph, tecnologia de busca semântica e contextual que deixará seu computador parecido com os de seriados de ficção científica.
E, para reforçar todas essas ideias, a Google contratou, em dezembro de 2012, um dos maiores nomes da inteligência artificial do mundo, que promete trazer algumas revoluções tecnológicas em um futuro próximo, especialmente na área do reconhecimento de linguagem natural .
Ray Kurzweil, mestre da IA mundial
O escritor e inventor Ray Kurzweil é um dos grandes nomes não apenas da inteligência artificial, mas também em questões como o futurismo e o transhumanismo. E ele é o funcionário ideal para a Google, já que previu durante a década de 80 o surgimento de algo que a empresa domina perfeitamente: o mecanismo de buscas.
Em entrevista para a revista Wired, Kurzweil declarou que seu papel, na Gigante da Internet, é desenvolver soluções de compreensão da língua natural com sua própria equipe e, também, em colaboração com outros times de desenvolvimento da empresa. Entre as tarefas citadas por Kurzweil está o aperfeiçoamento da busca para que o sistema possa entender um texto publicado em um blog, em vez de apenas encontrá-lo por palavras-chave.
Ray Kurzweil trabalha com o processamento de linguagem natural (Fonte da imagem: Reprodução/Wikipedia)
Em outras palavras, o que Kurzweil está fazendo na Google é aperfeiçoar os sistemas de processamento de linguagem natural, ou seja, fazer com que o os serviços da empresa possam entender não as linguagens de programação, mas idiomas de verdade, como o inglês ou o português.
Para Kurzweil, se o Google passar a compreender textos na internet da mesma forma como nós, humanos, compreendemos, isso seria o mesmo que dar consciência a um computador. E, segundo o autor das pesquisas, isso deve acontecer por volta de 2029, quando as máquinas não serão complexas apenas logicamente, mas emocionalmente, podendo ser engraçadas, amáveis, entenderem piadas e qualquer outro sentimento humano.
Para isso, serão necessários avanços tanto de software quanto de hardware. Mas, no caso dos programas para computadores, Kurzweil acredita estarmos mais adiantados. Parte disso tem sido conquistado pelo estudo do cérebro humano, já que hoje podemos analisar um cérebro vivo e ter acesso às conexões individuais que ele realiza serem usadas em tempo real. Também houve avanço no entendimento de como o neocórtex funciona, que é a região cerebral responsável pelos nossos pensamentos.
Isso tudo tem fornecido métodos biológicos que podem ser emulados em computadores. E, ao combinar esses modelos inspirados pelo cérebro humano com hardwares avançados e as pesquisas realizadas na área da inteligência artificial das últimas décadas, será possível, dentro de algumas décadas, segundo Kurzweil, fazer com que computadores se comportem como seres humanos.
Google Brain: sistema que aprende sozinho
“Quem entender como o cérebro processa informações acabará criando a nova geração de computadores”, disse o diretor do Instituto Nacional da Saúde Mental dos Estados Unidos, Dr. Thomas Insel, em entrevista para a Wired. E a Google está interessada em não apenas acompanhar os avanços no campo da neurociência, como também aplicá-los à computação. Para isso, a empresa recorre a outro profissional que está por trás de um projeto muito ambicioso, conhecido popularmente como Google Brain.
O professor de Ciência da Computação, Andrew Ng, é o responsável na empresa pelo desenvolvimento de técnicas de deep learning, método que se baseia na construção de redes neurais, ou seja, redes que imitam o comportamento do cérebro humano: uma série de camadas desse tipo de rede pode reagir às informações de maneira semelhante à que fazemos, chegando, inclusive, a entender o que é um determinado objeto ou som.
Andrew Ng, o cérebro pro trás do Google Brain (Fonte da imagem: Reprodução/Wired)
O que é um gato?
Uma das implementações desse tipo de tecnologia pode, por exemplo, simular a visão humana. Ao analisar uma imagem, o programa seria capaz de detectar contornos de objetos nessa imagem e descobrir o que ele é. Seria como se o programa pudesse diferenciar entre a fotografia de um carro ou de uma moto sem que elas tivessem uma etiqueta ou descrição, com base apenas nos pixels da foto, ou seja, na imagem em si: o programa aprende sozinho alguns conceitos do nosso mundo.
Algoritmo aprendeu a detectar gatos em vídeos do YouTube (Fonte da imagem: Reprodução/Google)
No ano passado, um dos algoritmos desenvolvidos por Andrew Ng aprendeu a reconhecer gatos depois de analisar milhões de imagens da internet. A princípio, o software não conhecia a palavra “gato” e o programador precisou ensiná-lo, mas o sistema aprendeu sozinho a identificar aquele bichinho peludo que adoramos como “gatos”.
Para os cientistas, isso é semelhante ao que acontece com ser humano em seus primeiros anos de vida. Quando bebês ou crianças, aprendemos a observar o mundo, a reconhecer suas formas e a entender a estrutura dos objetos que encontramos. Mas até que os pais ou responsáveis nos contem de que forma devemos chamar aquilo que reconhecemos, nós não conseguimos nomeá-lo.
Google e NASA: unidos pela IA
O Tecmundo já publicou diversos artigos sobre computação quântica e, por mais que a humanidade tenha feito avanços nesse tópico, o assunto ainda parece proveniente de filmes ficção científica e não do mundo real. Mas, agora, a Google acha que computadores quânticos podem ser a solução para sistemas de deep learning.
Conexões neurais podem ser simuladas por programas de computadores (Fonte da imagem: Shutterstock)
Com investimento de US$ 15 milhões (R$ 30,5 milhões) em um computador quântico criado pela D-Waves System, a empresa anunciou que está se unindo com a NASA para explorar meios de a computação quântica processar as informações que a Google coleta. E como essa tecnologia não permite apenas mais agilidade em cálculos, mas também novas maneiras de resolver problemas computacionais, a companhia já declarou que se interessa no uso dessa máquina para sistemas que aprendem sozinhos a partir de dados coletados.
Exemplo de IA no Google Docs
Quer um exemplo muito pequeno e simples do que pode acontecer no futuro? Acesse o Google Docs e crie uma planilha eletrônica. Agora, digite, em duas células, palavras de uma mesma categoria, como o nome de dois planetas ou de dois poetas. Selecione essas duas células e, mantendo a tecla Control pressionada, clique e segure o botão esquerdo do mouse sobre o quadradinho que aparece no canto inferior direito da seleção das células.
Google Docs completa lista de tipos de vinho em poucos cliques (Fonte da imagem: Reprodução/BuzzFeed)
Depois disso, arraste a seleção para as células abaixo. Ao soltar o botão, um truque muito bacana acontece: as demais células passam a ser preenchidas com outros verbetes da mesma categoria, como nomes de outros planetas ou poetas.
Apesar de ser apenas “a ponta do iceberg”, essa função inteligente e oculta do Google já pode dar uma dica do que virá no futuro. Parece promissor, não?