Durante um comício recente no estado norte-americano de Wisconsin, o presidenciável estadunidense Donald Trump acusou diretamente a Google de manipular a exibição de conteúdo negativo a respeito de sua principal concorrente, Hillary Clinton. Falando a respeito de pesquisas eleitorais recentes, o candidato contou vantagem a respeito de estar na dianteira mesmo enquanto encara a suposta intervenção da Gigante das Buscas.
“A enquete da Google mostra que estamos na frente da Hillary por dois pontos em todo território nacional. E isso mesmo com o fato de que o mecanismo de pesquisas deles está suprimindo as notícias ruins sobre Clinton. O que me dizem disso?”, afirmou Trump. Como o bilionário não aprofundou a acusação, não ficou claro a respeito exatamente do que ele está falando, mas é provável que ele esteja se referindo a um vídeo do canal SourceFed no YouTube, que fez declarações similares e se tornou viral em junho – e que você pode conferir a seguir:
Na ocasião, a equipe do vídeo mostrou que a ferramenta de autocompletar buscas da Google mostrava sugestões relativamente inofensivas quando eram inseridos caracteres que, nos rivais Bing e Yahoo, resultariam em opções como “indiciamento de Hillary Clinton” ou “crimes de Hillary Clinton”. Enquanto isso, a Gigante das Buscas não estaria ocultando indicações como “Donald Trump racista”, por exemplo, o que levou o canal a afirmar que a empresa manipulou os resultados.
Argumentação inconsistente
Embora a argumentação da gravação pareça convincente em um primeiro momento, é necessário apontar que os supostos fatos apresentados têm muitos buracos para questionamento. Segundo Rhea Drysdale, CEO da companhia de otimização de mecanismos de busca Outspoken Media, o SourceFed selecionou especificamente exemplos duvidosos que pareciam provar seus pontos de vista.
No caso, os termos utilizados estão simplesmente incorretos, já que Hillary Clinton não foi acusada ou indiciada por qualquer crime. Como a Google sabe disso, seu algoritmo filtra essas sugestões imprecisas. “Nosso autocompletar não mostrará uma previsão de termo que seja ofensivo ou depreciativo junto ao nome de uma pessoa. A ferramenta não favorece qualquer candidato ou causa. Quem alegar o contrário simplesmente não entende como isso funciona”, afirmou um representante da Google na época que o vídeo se tornou viral.
Segundo a Google, o sistema de sugestões filtra termos depreciativos ligados a nomes de qualquer pessoa
Para mostrar que a afirmação do SourceFed está errada, Drysdale mostrou efeitos similares envolvendo o candidato ao fazer pesquisas que poderiam resultar na sugestão “Donald Trump processos”. A indicação desejada não foi exibida no Google, mas sim outras opções de aspecto mais positivo, independentemente do fato de que muito mais gente costuma usar o buscador para saber mais sobre as disputas legais do candidato.
Comparando maçãs com laranjas
O principal erro do SourceFed está em acreditar que faz sentido comparar o funcionamento do sistema de sugestões da Google com os do Yahoo e Bing. Embora as ferramentas pareçam agir de forma similar para os usuários, os algoritmos por trás das sugestões da Gigante das Buscas são extremamente mais complexos que os das rivais, que interpretam os termos usados de maneira mais literal e dão mais peso para o que a maioria das pessoas está procurando.
No caso do Google, além da já citada preocupação de filtrar termos depreciativos associados a um nome, ainda são levados em conta dados de cada usuário, incluindo seus interesses pessoais, o local onde estão e as páginas que mais visitam, entre muitas outras coisas. Dessa forma, é bastante difícil que duas pessoas em contextos diferentes recebam as mesmas sugestões.
Buscando aqui do Brasil, por exemplo, os resultados para os dois candidatos foram bastante similares
Mesmo um extenso estudo científico publicado no site Sputnik, que alega comprovar a intromissão da Google, faz a ressalva de que “se você tentar replicar as buscas que vou mostrar, provavelmente terá resultados diferentes”. Manipular os algoritmos para filtrar sugestões negativas sobre algum candidato não seria impossível, mas o fato é que não há argumentos irrefutáveis que comprovem que isso realmente está acontecendo.