Você certamente já ouviu falar sobre o transumanismo. Ele consiste em uma filosofia que incentiva o uso da biotecnologia para superar limitações do corpo e melhorar as condições humanas. Pairando entre preconceitos e a alta tecnologia está a possibilidade de superar o envelhecimento, deficiências cognitivas e diversos sofrimentos causados por fatores até então incontroláveis.
Transumanistas acreditam que a maior parte do potencial humano ainda não foi apreciada, porém assumem que existe um risco de que o uso incorreto de tecnologias pode gerar diversos tipos de problemas. Por isso, estudiosos afirmam que investimentos em pesquisas são essenciais, além de serem necessários cálculos para que qualquer tipo de risco seja reduzido.
O que o transumanismo pode fazer por nós?
Entre as diversas possibilidades que o transumanismo pode trazer, algumas chamam muito a atenção da comunidade cientifica e aparecem em forma de pesquisas, que mostram todo o potencial da modificação corporal ou genética em prol de uma qualidade de vida melhor.
(Fonte da imagem: Reprodução/H+)
Avanços recentes da engenharia genética permitem que tenhamos em nossas mãos as chances de modificarmos os genes humanos antes mesmo do nascimento, gerando o que é chamado por alguns entusiastas como a evolução para uma “nova espécie humana”.
Embora o processo de terapia genética em tecido germinal ainda seja ineficiente e proibida em grande parte do ocidente, as potencialidades da tecnologia fazem pesquisadores vislumbrarem a possibilidade de vermos super-humanos nascendo em algumas décadas.
David Pearce destacou na revista Humanity+ (entidade disseminadora do transumanismo) cinco razões que podem fazer com que o sofrimento seja eliminado com o avanço de pesquisas transumanistas.
Doenças podem ser eliminadas
Os transumanistas compartilham o entendimento de que a evolução dos humanos não deveria continuar entregue apenas à natureza, que faz com que os genes passem por um processo de mutações “aleatório”, mas sim que haja uma intervenção com a finalidade de otimizar o processo.
Com estes conceitos do transumanismo, seria possível criar pessoas imunes a doenças como a AIDS e a malária, além de garantir a prevenção de doenças genéticas, como asma, diabetes, cancro, hemofilia, mongolismo, alguns tipos de doenças cardiovasculares, entre outros. Além disso, alguns aspectos do envelhecimento poderiam ser retardados ou, até mesmo, eliminados.
Outra possibilidade do transumanismo seria a melhoria do sistema imunológico, o que pode gerar uma resistência ainda maior aos mais diversos tipos de doenças, mesmo com o passar dos anos e o enfraquecimento físico decorrente da idade avançada. Essa “reprogramação” de genes representaria um ganho gigantesco na qualidade de vida e na quantidade de anos vividos.
Um futuro sem dor
Uma das possibilidades seria a de escolher o nível de sensibilidade à dor que uma pessoa vai sentir. A melhoria no corpo seria feita com foco em dores crônicas, ou seja: dores impossíveis de serem aliviadas e que são causadas por doenças ou disfunções.
As dores crônicas, que atualmente são um tormento para milhares de pessoas em todo o mundo, podem ser eliminadas no futuro com a escolha de perfil genético de tolerância à dor, antes mesmo do nascimento dos indivíduos. Além disso, o que está sendo chamado de “terapia genética autossômica” seria capaz de fazer o mesmo por adultos.
Isso seria feito com um tipo de modelação genética com base em diagnósticos prévios: com o avanço das pesquisas, em uma ou duas décadas os cientistas serão capazes de modular as respostas emocionais à dor aguda com base em variantes do gene SCN9A.
(Fonte da imagem: Reprodução/NHM)
No entanto, uma fina linha divide a diminuição saudável da dor e problemas causados pela eliminação total da experimentação de sensações de desconforto. Segundo Pearce, ainda não é possível analisar e fazer mudanças genéticas de forma segura no gene SCN9A.
No futuro, humanos totalmente livres de dor só poderiam habitar em um mundo com dezenas de outros avanços, como uma inteligência artificial avançada, além de uma revolução ideológica.
O que pode ser a salvação no futuro poderia se tornar um problema caso fosse aplicado a humanos nas condições de vida atual. Um ser que permaneça em ambiente hostil, sem qualquer possibilidade de identificar dores ou problemas no corpo, pode vir a perecer – um osso quebrado, por exemplo, pode não ser sentido, o que acarretaria em dezenas de outros problemas físicos.
Felicidade artificial
Pense em um futuro em que todos podem ser felizes em grande parte do tempo. A ideia pode parecer incrível ou loucura, mas alguns transumanistas defendem que, se utilizada na dose certa, a técnica pode ser capaz de melhorar muito a qualidade de vida dos humanos no futuro.
Embora o cérebro seja muito complexo, uma pesquisa publicada na Reproductive Revolution mostra que a ausência de um único alelo pode ser capaz de prejudicar muito a percepção de uma pessoa em relação a recompensas do dia a dia. Por outro lado, a presença dele pode ajudar a dar uma visão mais otimista sobre o mundo.
No entanto, isso implica também em dezenas de questões éticas e o questionamento sobre os efeitos de termos uma população biologicamente predisposta a ser mais feliz. Os ajustes genéticos seriam feitos após a escolha feita pelos pais, que definiriam se a criança teria um “alelo da felicidade” ou se isso seria definido pela natureza, como acontece atualmente.
Visões controversas
Segundo a Declaração Transumanista, a maior prioridade do transumanismo deve ser a redução de riscos à vida e o desenvolvimento de novas formas de preservação da vida humana e da saúde, além do alivio de sofrimentos graves. No entanto, os riscos de que isso seja canalizado de forma errada são grandes e, por isso, algumas questões filosóficas sobre a dignidade humana tomam conta das discussões sobre o tema.
(Fonte da imagem: Reprodução/BrasilEscola)
A polêmica ocorre por diversos fatores, mas o principal deles seria o medo de que as pesquisas percam o foco e o controle, aumentando mais ainda a desigualdade ao criar um tipo de segmentação genética.
Em outras palavras, muitos acreditam que a possibilidade de modificar genes em pouco tempo se transformaria em um privilegio de pessoas com grande poder aquisitivo, que passariam a ter filhos mais inteligentes e saudáveis do que o resto da população. Ou seja: com muito dinheiro, você poderia ter filhos “melhorados” geneticamente – ou, ao menos, com uma predisposição a terem melhores desempenhos em uma série de tarefas.
Alguns pesquisadores falam na criação de “genes puros”, o que também assusta parte da comunidade científica mais conservadora, que teme pelo fim da diversidade na espécie. Ao mesmo tempo, alguns religiosos também combatem as pesquisas com argumentos variados em torno de temas já vistos em praticamente todas as inovações relacionadas à saúde e ciência, como a condenação de um suposto “desejo de superar criações divinas”.
Em contrapartida, a Declaração Transumanista, criada em 1998, determina que o transumanismo tem como dever “definir regras éticas, incentivar e difundir pesquisas científicas, popularizar novos inventos e evangelizar métodos científicos de aprimoramento humano – claro, sempre preservando a liberdade de escolha e dignidade de toda forma de vida, tanto humana quanto não humana”, o que garantiria a eliminação de grande parte dos temores atuais em relação ao assunto.
Você acredita que a humanidade está preparada para receber gerações de super-humanos? Deixe sua opinião nos comentários.
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