Na manhã dessa última quarta-feira (13), em São Paulo, a Ford convidou jornalistas e especialistas do ramo automobilístico e de tecnologia para mostrar como o casamento entre os setores rende frutos que podem ser aproveitados por todos os consumidores. Com o nome de Seminário de Tecnologia e Conectividade, o evento contou com a presença de executivos da montadora e de alguns convidados especiais para explicar as inovações desenvolvidas pela empresa e, de quebra, mostrar o Novo Ford Focus – cheio de recursos de ponta.
O astro motorizado do evento teve espaço garantido no palco do galpão onde rolaram as apresentações desde o início, mas – é claro – ficou coberto até o final do seminário, antes de ser finalmente revelado ao público. Assim, com o carro envolto em mistério, Steven Armstrong, presidente da Ford América do Sul, deu início às atividades explicando que, do mesmo modo como Henry Ford queria automóveis para todos, a companhia se empenha agora para democratizar a tecnologia desses produtos, oferecendo-a para um grande número de usuários.
“Estamos trabalhando para antecipar as necessidades e desejos dos consumidores, especialmente em conectividade, mobilidade e veículos autônomos, e para tornar essas tecnologias acessíveis para todos”, analisou o executivo, afirmando ainda que a Ford que ser mais do que uma fabricante de automóveis, ficando de olho no universo mobile. Isso fica claro no engajamento em eventos como a Campus Party 2015, no qual a montadora patrocinou uma Hackathon para a produção de aplicativos para seu sistema SYNC AppLink.
Ainda nesse assunto, ele falou sobre o fato de que, já há algum tempo, uma leva de funcionalidades e recursos ser introduzida no mercado a cada vez que uma nova série de veículos da empresa é lançada. De acordo com Armstrong, o grande responsável por liderar essa pesquisa por inovação é o automobilismo esportivo. É no mundo das corridas, principalmente na Fórmula 1, que grande parte dessas novidades são testadas e desenvolvidas antes de se tornarem um novo padrão para carros de passeio.
Das pistas para as ruas
Com essa ideia em mente, as próximas figuras a subirem ao palco foram Marcio Alfonso, diretor de engenharia da Ford, e Reginaldo Leme, um dos grandes nomes do jornalismo automobilístico. A dupla falou exatamente sobre a influência da tecnologia na F1 e como os avanços na categoria popularizaram uma série de recursos que antes eram reservados a pilotos de elite como Ayrton Senna, Michael Schumacher e Alain Prost.
Além de inovações mais memoráveis, como suspensão inteligente e controle de tração, Reginaldo lembrou que a tecnologia de segurança na Fórmula 1 mudou a história do automobilismo esportivo e, por consequência, revolucionou o setor como um todo. Os carros da categoria mais popular de corrida, por exemplo, têm mais de uma centena de sensores para detectar qualquer falha no equipamento. Uma parte deles já foi implementada em veículos comuns, ajudando o motorista a guiar melhor e de forma mais segura, explicou o jornalista.
Marcio fez coro ao profissional, ressaltando que nem todos os recursos trazidos do “grande laboratório” da F1 são visíveis e, às vezes, acabam passando despercebido ao olhar do cidadão. Funções como freios ABS, direção elétrica e mesmo a aerodinâmica do carro influenciam, e muito, em como o automóvel é conduzido e qual sua performance durante trajetos cotidianos na cidade ou na estrada. Disse ainda que a eficiência é uma grande preocupação da Ford, que investe em motores com mais desempenho e menos consumo.
Ao ser perguntado se a rota de incluir cada vez mais funcionalidades em seus produtos não vai acabar levando a veículos progressivamente mais caros, Marcio confessou que esse “é um desafio que nos tira o sono todos os dias”. Para ele, em um período fascinante e abundante em tecnologia, é preciso achar o balanço certo na adição de novidades e, ao mesmo tempo, desenvolver soluções para que as tecnologias se tornem mais baratas e estejam sempre ao alcance de grande parte do público.
Visão fixa no desenvolvimento
O próximo a comandar o tablado foi Ken Washington, líder global da área de inovação da Ford, e, por conta de sua posição, teve uma apresentação bastante focada na visão que a empresa tem sobre a tecnologia em geral. Ele iniciou sua palestra falando sobre a Ford Smart Mobility, um projeto em larga escala que aposta em diversas frentes para oferecer soluções tecnológicas para uma série de problemas e dificuldades da mobilidade na sociedade atual.
Washington explicou que diversas tendências mundiais apresentam desafios bastante peculiares para qualquer companhia no setor. Entre os itens de destaque para a Ford, estão a densidade cada vez maior dos ambientes urbanos, o crescimento da classe média – que, com um poder aquisitivo maior, coloca mais carros nas ruas, contribuindo para o caos do trânsito –, a busca pela sustentabilidade e a própria mudança dos hábitos de consumo da geração atual, acostumada à rapidez da tecnologia no seu dia a dia.
Durante a conversa, o executivo contou que, para resolver coisas tão abrangente como essas, a empresa não tem medo de testar, falhar e aprender com seus erros para chegar a múltiplas tecnologias diferentes que podem, então, ser refinadas para oferecer respostas mais eficientes. Provando esse ponto, ele falou sobre diversos projetos que atacam aspectos específicos de cada problema levantado. Bicicletas elétricas que são facilmente transportadas no porta-malas podem fazer trajetos curtos em regiões de difícil acesso para os carros, por exemplo.
Por outro lado, o Open XC, um dispositivo open-source, foi criado pela Ford para coletar e analisar dados de percursos feitos pelos usuários para chegar a um nível de informações que não seria possível sem o uso do aparelho. Esse conteúdo pode ser destrinchado para melhorar tanto aspectos estruturais dos veículos como do modo como eles são guiados, ou contribuir ainda para a construção de vias inteligentes. A catalogação desses costumes de mobilidade devem resultar, eventualmente, em uma melhor experiência do consumidor final.
Sobre esse tema, o executivo também acredita em um futuro mais conectado do setor. “Enxergamos um mundo onde os veículos se comunicam uns com os outros, os motoristas e veículos se comunicam com a infraestrutura da cidade para evitar congestionamentos”, afirmou. O chefe de inovação da montadora também analisou que, em um futuro assim, é possível ter carros que operam de forma autônoma em algumas situações específicas – com muitos produtos atuais já trabalhando de forma semiautônoma, assistindo em diversas tarefas.
O Novo Ford Focus
Como não poderia deixar de ser, o painel final ficou dedicado à primeira exibição oficial do modelo 2016 do Ford Focus, que deve chegar no segundo semestre deste ano – provavelmente setembro – ao mercado brasileiro. Além de mudanças visuais seguindo a tendência ditada pela Ford na Europa, o popular hatch traz uma boa leva de surpresas. Essa edição do carro pega emprestado algumas características que antes eram exclusivas de automóveis mais completos – e caros – da empresa, como o badalado Fusion.
Marcio Alfonso foi ao palco novamente para falar de quatro tecnologias importantes que foram acrescentadas ao Focus e que, a partir de muito em breve, devem estar disponíveis para um público muito mais amplo do que anteriormente. O primeiro item a ser abordado foi a inclusão do sistema SYNC, fazendo com que o veículo seja capaz de receber comandos de voz e garantindo que ele esteja sempre conectado ao pareá-lo com um smartphone. Através do AppLink pode-se rodar apps e tocar músicas diretamente de um dispositivo Android ou iOS.
Outra funcionalidade que o novo Focus abriga é a Assistência de Emergência, uma grata opção de segurança adicional no automóvel. O recurso, já presente em linhas mais seletas da montadora, detecta quando os airbags são acionados ou o combustível é cortado – por conta de um acidente ou perda de velocidade muito brusca – e usa a linha de voz do celular para ligar automaticamente para o SAMU (Serviço de Atendimento Médico de Urgência). O sistema dá a localização geográfica do carro e pode fazer a ponte entre as vítimas e o atendimento.
Para quem ainda tem receio de fazer baliza em ruas movimentadas ou precisa de uma ajudinha extra na hora de encaixar o veículo em vagas mais apertadas, a inclusão da tecnologia de estacionamento automático vai cair como uma luva. O recurso já é bastante conhecido lá fora e usa os novos sensores e câmeras do Focus 2016 para monitorar todo o entorno antes de tomar o controle da direção. Vale lembrar que o motorista ainda é o responsável por acelerar o carro, mas todo o resto fica por conta do possante.
A última tecnologia mostrada pelo executivo brasileiro foi o assistente de frenagem de emergência – conhecido também como Active City Stop. O item foi desenvolvido especificamente para o “anda e para” do trânsito nos grandes centros urbanos, se focando em evitar aquelas batidinhas bobas em baixa velocidade (até 50 km/h) – geralmente por um condutor distraído. Se apoiando nos dados captados pelos sensores, o carro reduz a velocidade e aciona os freios automaticamente assim que detecta a possibilidade de colisão.
Mais detalhes da tecnologia
Ainda que Marcio não tenha podido compartilhar muito mais informações sobre o novo modelo do Focus, por se tratar de uma fase inicial do lançamento do carro, a equipe do TecMundo conseguiu falar com o executivo ao final do evento e ele explicou um pouco mais sobre essa nova estratégia da empresa em relação à tecnologia. Sobre a decisão de trazer diversas funcionalidades para um veículo com preço mais em conta, ele foi claro em dizer que muito disso se deu por conta das mudanças no perfil dos consumidores.
“Muitas dessas tecnologias são coisas que os jovens gostariam de ter. Muita gente que tem dinheiro para comprar carros com essas funções não sabem usá-las muito bem, ao passo que o jovem que ainda não tem poder aquisitivo para comprar um modelo caro está ávido por fazer acesso e utilizar toda a tecnologia integrada com seus smartphones”, analisou. Sobre o futuro no qual os carros compartilham informações e guiam sozinhos, o executivo acha que ainda precisam ser definidos alguns parâmetros para que isso se torne realidade.
“É uma discussão que ainda precisa ser feita, alguém vai ter que se responsabilizar por essas frotas, ainda é algo aberto. Se acontece um acidente, por exemplo, com algo do tipo ‘eu não estou dirigindo, foi a máquina que falhou’, quem é o responsável? É algo que ainda precisa ser discutido, mas o tempo vai mostrar como isso vai ser resolvido”, disse Marcio. Ao ser questionado sobre a segurança da informação na hora de tratar de dados detalhados coletados dos clientes, ele disse que esse é um aspecto crucial para a Ford.
Em primeiro lugar, vai ser preciso que o usuário opte e assine um termo para que possa fornecer suas informações à montadora, e, mesmo assim, Marcio garantiu que a empresa tem um forte sistema de proteção em seus servidores e que zela muito pelo sigilo desses arquivos – indicando poucas chances de vazamentos de dados pessoais. Outra pergunta feita para ele foi se, com essa leva inicial de recursos sendo trazidos para o Focus, podemos esperar outras tecnologias migrando dos modelos de ponta para os de uma menor faixa de preço.
“Esse segmento vai acabar, sim, recebendo tecnologias já existentes em outros carros, como sensores mais precisos do Fusion – capazes de detectar pontos cegos. Mais para frente, podemos pensar na hibridização, que está crescendo pouco a pouco. Ao longo dos anos, essa pressão por energias mais limpas deve popularizar o uso combinado de motores elétricos e de combustão”, exemplificou.
Palavras finais
É importante lembrar que, mesmo com esse incentivo da Ford a ampliar a base de consumidores que podem aproveitar de tecnologias integradas aos veículos, ainda não se sabe exatamente quais serão os preços e modelos do Focus 2016 aqui no Brasil. É praticamente certo que a versão mais barata do hatch não vai contar com pelo menos parte das quatro funcionalidades citadas na palestra, por exemplo.
Quem quiser se aventurar no desenvolvimento de aplicativos para o sistema SYNC da fabricante também precisa vencer algumas etapas antes de levar o projeto à frente. Isso porque, apesar de usar uma plataforma aberta, a empresa restringe o acesso às funções do carro até conhecer melhor o software sendo desenvolvido. Uma vez aprovado, o programador tem acesso a um equipamento que imita o console do veículo, permitindo testes mais complexos do app. A Ford disse que ainda vai detalhar todo o processo em um site dedicado.
E aí, curtiu o lançamento da Ford para o mercado brasileiro neste ano? Aprovou as tecnologias aplicadas ao automóvel? Sentiu falta de algum recurso na visão do futuro automobilístico da empresa? Deixe seu comentário mais abaixo.
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