O conceito de um carro híbrido não é exatamente uma novidade: o primeiro veículo do tipo com produção em série foi o Toyota Prius, lançado no Japão nos idos de 1997. Aqui no Brasil, o primeiro automóvel misturando motores elétrico e a combustão foi o Mercedes-Benz S400, que chegou em 2010, alguns meses antes de a Ford trazer seu Fusion Hybrid para cá. Desde então, as tecnologias automotivas evoluíram muito, passando até a contar com alguns sistemas autônomos.
Embora não consigam chegar à marca de zero emissões de gases, uma das principais vantagens dos híbridos é a sua promessa de diminuir consideravelmente a quantidade de poluentes liberados pelos carros na atmosfera, ao mesmo tempo em que consomem menos combustíveis do que os modelos comuns movidos a combustão. Recentemente, a Ford trouxe para o Brasil o modelo 2017 de seu Fusion Hybrid, que une esse conceito ecológico e econômico ao conforto de um sedã grande, a um visual arrojado e ao que a empresa tem de mais avançado em tecnologia.
Será que o consumo reduzido do híbrido traz vantagens de verdade?
Mas como serão o consumo e o desempenho do possante híbrido em comparação com sua variante a combustão e com outros carros de mesmo porte, como o Honda Accord e o Toyota Camry? Será que as vantagens tecnológicas e de conforto fazem valer o investimento de R$ 163,7 mil? O TecMundo teve a oportunidade de passar três semanas examinando o Fusion Hybrid 2017 em várias situações distintas, e vocês podem conferir nossos vereditos no review completo a seguir.
Especificações técnicas gerais do Ford Fusion Hybrid 2017
Como funciona o sistema híbrido do Fusion?
Antes de mais nada, é necessário explicar brevemente como acontece o funcionamento do sistema híbrido de propulsão do Fusion. Dentro do capô, o carro abriga dois motores que funcionam separadamente, mas de forma coordenada. Ao ser ligado, o veículo ativa automaticamente o motor elétrico, permanecendo em total silêncio ainda que já possa sair andando.
Os motores elétrico e a combustão podem trabalhar separados ou juntos
Pisando suavemente no acelerador, somente a eletricidade será usada para mover o automóvel. O motor a combustão só é ativado uma vez que você sentir a necessidade de pisar um pouco mais fundo, seja para acelerar mais rapidamente para uma ultrapassagem ou para usar mais força para superar uma subida, por exemplo. Nesse ponto, a gasolina começa a ser consumida e finalmente podemos ouvir o suave ronco sob o capô.
O som suave do motor só é ouvido em momentos de grande aceleração
Conforme você segue em vias onde velocidades mais altas podem ser mantidas por mais tempo, ambos os motores são ativados ao mesmo tempo para permitir que o carro desempenhe todo o potencial de 190 cv e 175 Nm de torque. O veículo escolhe automaticamente quando ligar, desligar ou combinar os dois motores, o que certifica que a eletricidade seja consumida de forma que garanta não apenas a potência necessária, mas também o menor gasto de combustível possível.
De onde vem a eletricidade do carro?
Diferentemente dos chamados híbridos plug-in, o Fusion Hybrid não precisa ser “ligado na tomada” para receber a energia utilizada por seu motor elétrico. Para recarregar suas baterias, o carro utiliza um sistema de freios regenerativos, que fazem com que o movimento do próprio eixo do veículo seja usado para gerar eletricidade quando o motorista não estiver pisando no acelerador – e mais ainda quando estiver pisando suavemente no freio.
O Fusion Hybrid não precisa ser ligado na tomada
Conforme o automóvel vai desacelerando, a rotação dos eixos das suas rodas funciona de forma parecida com a das turbinas de usinas hidrelétricas, convertendo energia cinética em elétrica. Quando você pisa de leve no pedal do freio, o veículo intensifica esse processo de maneira que a totalidade da força do movimento seja transformada em carga para as baterias. Já, se a frenagem for mais brusca, o freio ABS propriamente dito é ativado plenamente, parando o carro de forma mais rápida, mas também perdendo parte da energia, que se converte em calor nas rodas.
Todo o processo de conversão de energia e a eficiência de cada frenagem é demonstrado para o motorista por meio de uma das telas no painel principal do carro. Sempre que o carro em movimento é parado totalmente, um mostrador surge para exibir qual percentagem da força cinética foi recuperada como eletricidade. Quanto mais suave seu pé for, maiores as chances de recuperar 100% da eletricidade – o que acaba virando quase um jogo e, por consequência, treina o motorista a frear eficientemente para economizar mais combustível.
O computador de bordo mostra quanto da energia cinética foi recuperada como eletricidade
Teste de consumo
Com tudo isso em mente, aproveitei parte das três semanas de teste para conferir detalhadamente se o grande sedã híbrido realmente apresenta vantagens significativas de consumo em comparação com concorrentes puramente movidos a gasolina. Para medir com segurança a quantidade de combustível utilizada, anotei a quilometragem no momento em que enchi o tanque, rodando o dia inteiro e registrando a quantidade de quilômetros rodados e de litros necessários para voltar a preencher as reservas na noite seguinte.
Essa metodologia foi aplicada diversas vezes ao longo de vários dias. Os valores foram separados em ocasiões em que meu trajeto incluiu apenas estradas, uma mistura entre elas e via comuns da cidade de São Paulo ou então somente ruas e avenidas urbanas. Os resultados dos testes foram os seguintes:
- Média somente em vias urbanas: consumo total de 3,5 litros de gasolina em um percurso de 57,2 km, resultando no valor aproximado de 16,34 km/l;
- Média em trajeto misto de cidade e rodovia: consumo total de 14,58 litros de gasolina em um percurso de 223 km, resultando no valor aproximado de 15,29 km/l;
- Média somente em estradas: consumo total de 64,69 litros de gasolina em um percurso de 980,3 km, resultando no valor aproximado de 15,15 km/l.
Mais do que usar os valores acima para bater o martelo e dizer quão econômicos eles são para um sedã grande, aqui vale contar uma breve história que aconteceu em um dos últimos dias do teste. Depois de mais de uma semana abastecendo o Fusion Hybrid no mesmo posto, o frentista que sempre me atendia chegou a me perguntar por que eu ia lá todas as noites para completar o tanque, já que a quantidade de gasolina abastecida era pouca.
O frentista ficou surpreso com o baixo consumo do Fusion Hybrid
Quando expliquei para ele qual era o propósito do teste e mostrei os números que havia anotado sobre as quilometragens rodadas e os litros abastecidos, a reação do funcionário foi da mais honesta surpresa. “Nossa, nunca pensaria que um carrão grande desses ia gastar tão pouca gasolina! Não sabia que um híbrido era assim”, disse o frentista com anos de experiência no cargo.
Para conseguir ter uma noção mais palpável de exatamente quanta economia os números do Fusion Hybrid podem gerar, comparei os valores que verificamos com as médias de consumo de alguns dos principais sedãs grandes. Sabemos que o Fusion pode transitar entre categorias pelas variantes disponíveis, mas como o híbrido se trata de um Titanium, optei pela comparação com as versões mais completas dos rivais de ponta disponíveis no Brasil e movidos somente a gasolina.
Os valores acima servem apenas para ilustrar como, comparado a outros sedãs grandes na mesma faixa de preço, o Fusion Hybrid apresenta uma vantagem considerável no quesito consumo. Obviamente, há outras opções de veículos em tamanhos menores que podem gastar menos combustível, mas é inegável que, para quem deseja ser mais ecológico e econômico sem abrir mão do tamanho, conforto e beleza, o carro da Ford é uma boa opção.
Mas e o desempenho?
Se você pensou que toda essa economia de combustível significaria que o Fusion Hybrid deixaria a desejar no que diz respeito ao desempenho, se prepare para uma surpresa. Com o motor 2.0 a gasolina garantindo 143 cv e o elétrico adicionando outros tantos e chegando a um total de 190 cv, o carro garante toda a força necessária para que você dirija como desejar sem sentir qualquer falta de força, seja nas acelerações ou retomadas.
Obviamente, os 248 cv da versão EcoBoost do Fusion dão um impulso extra para o veículo, mas o Hybrid vai bem nas partidas, conseguindo fazer de 0 a 100 km/h em 10,2 segundos, somente 2 segundos a mais que seu irmão a combustão. Nas retomadas, a diferença é um pouco mais perceptível, mas ainda assim o híbrido conta com agilidade o suficiente para garantir que quem esteja no volante jamais se sinta frustrado.
O Fusion Hybrid não deixa a desejar no desempenho
Considerando tudo isso, a sensação que ficou é que dirigir o Fusion Hybrid é algo prazeroso, tanto na hora de pegar leve e garantir economia quanto na de pisar fundo e sair para longe. Nas altas velocidades da estrada ou no anda e para das cidades, o carro vai te levar para onde você precisar, do jeito que você preferir, sem estresses e com muito conforto – e olha que ainda nem falamos sobre os sistemas autônomos, que citaremos mais para baixo.
Falando em conforto e beleza
Talvez não seja necessário que eu diga isso para você, mas o Fusion Hybrid 2017 é um carro muito bonito. Por fora, ele apresenta exatamente os mesmos traços que são encontrados na sua versão a combustão, com direito a todas as mudanças que o novo modelo traz com relação ao seu antecessor. E, se antes o estilo do carro já podia ser considerado elegante e arrojado, agora isso fica ainda mais evidente com suas linhas bem marcadas, detalhes cromados e faróis Full LED.
O Fusion é elegante e arrojado tanto por dentro quanto por fora
No lado de dentro, a impressão de que o Fusion se trata de um veículo luxuoso rapidamente se transforma em certeza. Os acabamentos em couro nos bancos, na lateral interna das portas, no volante e nos consoles se somam ao uso de materiais sintéticos texturizados para reforçar a sensação de que você está em um automóvel de qualidade.
Como se não bastasse o assento da frente envolver o motorista com conforto e poder ser amplamente ajustado por meio de controles elétricos, o veículo se lembra desses ajustes e se move automaticamente para facilitar a entrada e saída de condutor sempre que o motor for ligado ou desligado. O passageiro da frente também pode controlar a distância, altura, inclinação e ajuste lombar, mas sem o mimo da movimentação automática.
Especificações de conforto e entretenimento
Durante meu primeiro teste do Fusion Hybrid no Rio de Janeiro (sobre o qual você pode ler clicando aqui), não senti qualquer desconforto ou falta de espaço no banco de trás, mesmo considerando meu 1,86 metro de altura. No entanto, após relatos de parentes um pouco mais altos que reclamaram do teto baixo na traseira, experimentei por conta própria e reparei que ele realmente pode ser bastante incômodo para quem tem 1,9 metro ou mais. Se esse não é o seu caso, no entanto, não há motivo para preocupação – e o mesmo não acontece na frente.
Falando ainda em espaço, um ponto negativo da versão híbrida com relação ao Fusion a combustão é o tamanho do bagageiro. O conjunto de baterias utilizadas pelos sistemas elétricos do veículo forma um degrau que ocupa bastante espaço no porta-malas, que acaba com um volume e 392 litros – contra os 514 litros. Além disso, o carro não conta com estepe, oferecendo um kit de reparo de roda no lugar.
A cabine é cheia de recursos
O ar-condicionado é dual-zone (com saída também para o banco de trás), controlável por meio de botões físicos, da tela touch do sistema de infoentretenimento e também por meio de comandos de voz, garantindo a praticidade. O Fusion tem até um sistema de aquecimento e resfriamento dos assentos da frente, que funciona independentemente do climatizador. E isso tudo é só o começo de todos os detalhes tecnológicos que o carro apresenta.
Tudo em uma tela
O SYNC de terceira geração é basicamente tudo o que a Ford precisava para garantir que o sistema de infoentretenimento do Fusion Hybrid não ficaria para trás da concorrência em sentido algum. Além de ele vir com compatibilidade de fábrica tanto com o Android Auto e Apple CarPlay – algo que já vemos em veículos de várias faixas de preço –, a própria interface nativa sofreu melhorias drásticas com relação às suas encarnações anteriores.
Além de vir com Android Auto e Apple CarPlay o próprio SYNC teve melhorias
Pela tela de 8 polegadas, você não terá qualquer dificuldade para selecionar estações de rádio, trocar músicas no celular via Bluetooth, em CD ou pendrives. O conjunto Sony Premium Sound conta com nada menos do que oito alto-falantes e quatro tweeters, garantindo que o som possa ser tão forte quanto você quiser, e também é usado para emitir frequências inaudíveis que diminuem os ruídos vindos de fora, da mesma forma que vimos no Honda Accord 2016.
O GPS embarcado se tornou ainda mais rápido e intuitivo, dando também indicações mais claras sobre bifurcações e curvas no caminho. Além disso, o climatizador apresenta um conjunto completo de opções práticas para quem não quiser usar os botões físicos mais abaixo. Tudo isso pode ser controlado por meio de comandos de voz, cuja utilização se tornou mais prática agora que opções de frases aparecem na tela quando você ativa o botão de fala no volante.
Somando-se a isso tudo, a integração com o Android Auto e o Apple CarPlay adicionam mais versatilidade ao sistema de infoentretenimento como um todo. Com eles, é possível se beneficiar de recursos compatíveis do Google Now e da Siri, curtir suas músicas direto do Spotify e até ouvir e responder por voz mensagens recebidas tanto por SMS quanto por apps como o WhatsApp, tudo sem tirar as mãos do volante.
A praticidade do piloto automático
A tecnologia embarcada no Fusion Hybrid 2017 não se resume ao pacote híbrido e ao sistema de infoentretenimento, vindo acompanhada de tudo o que a Ford tem de mais avançado no quesito de assistentes autônomos. Entre eles, o mais impressionante é, sem dúvidas, o piloto automático adaptativo com “stop and go”, que vai um passo além do simples ato de configurar uma velocidade que o carro deverá manter.
As configurações do piloto automático ficam ali do lado esquerdo do painel
Usando os controles no volante e o sistema no canto da tela esquerda do painel do veículo, você também pode determinar a distância que o carro vai manter do automóvel da frente. Depois disso, é só tirar o pé do acelerador e o veículo segue na velocidade desejada e passa a frear automaticamente para manter a distância escolhida. Para isso, ele usa informações de seus sensores, câmera e radar para detectar a presença de tudo o que estiver na sua frente.
O piloto automático adaptativo não é exclusividade do Fusion, mas é uma mão na roda mesmo assim
O sistema funciona muito bem, melhor do que qualquer um pensaria ao testá-lo pela primeira vez – o que gera certa insegurança inicial, mas que é rapidamente substituída por confiança e deslumbramento. Sentir o carro avançando, reduzindo e parando sozinho é relaxante e permite que você se concentre apenas no volante, algo particularmente agradável nas aceleradas e movimentadas avenidas das cidades grandes e nas estradas.
Vale lembrar que esse tipo de tecnologia não é difícil de encontrar em automóveis na faixa de preço do Fusion Hybrid, mas a praticidade que traz para o veículo no dia a dia é digna de nota, aliviando o trabalho do motorista. O risco aqui é justamente acabar confiando demais na tecnologia.
Por mais que o piloto automático seja excelente e interessante, mesmo com você ainda no controle do volante é fácil esquecer que o Fusion Hybrid não é um carro autônomo e, portanto, você ainda deve ficar atento para momentos em que carros e motos entram na sua frente vindos de outras faixas. Nessas situações, o veículo pode ocasionalmente demorar para reagir, levando a alguns sustos que poderiam ser evitados.
Especificações de segurança e assistentes autônomos
Segurança e praticidade
Embora não chamem tanta atenção quanto o piloto automático, outros assistentes autônomos estão presentes no Fusion Hybrid e agem constantemente para aprimorar a experiência de condução e tornar as viagens mais seguras. O sistema de permanência em faixa, por exemplo, usa os recursos do carro para garantir que desvios suaves do veículo na direção da faixa ao lado sejam corrigidos automaticamente sem que o motorista precise se preocupar muito – mas sem jamais forçar o condutor a ter que “lutar” com o automóvel quando quiser realmente ir para os lados.
O carro também conta com todo um conjunto de assistentes focados em frenagem, capazes de detectar pedestres, veículos e obstáculos que podem gerar acidentes, alertando o motorista de riscos de colisão para que possa reagir e auxiliando para que o automóvel pare mais rapidamente em emergências – com ativação automática das luzes externas como alerta. O Fusion até emite avisos de que pode ser uma boa hora para um café se notar que você está cansado.
Os assistentes autônomos tornam a tarefa de dirigir mais segura e prática
E para quem pensa que parar um carro grande em uma vaga paralela ou perpendicular é um trabalho que preferiria evitar, o automóvel conta com o sistema de estacionamento automático de segunda geração da Ford, bastando apertar um botão para que o veículo faça sozinho todo o procedimento de achar um local em que caiba e executar os movimentos necessários no volante para se encaixar lá.
Vale a pena?
Sem medir muito as palavras, podemos dizer que o Ford Fusion Hybrid 2017 é um ótimo carro, muito agradável em praticamente todos os aspectos. O seu pacote de benefícios e a experiência que proporciona para o condutor e passageiros são dignos de muitos elogios e o posicionam muito bem frente aos demais sedãs grandes, especialmente se você se preocupar com emissões de gases e consumo de combustível.
O Fusion Hybrid se posiciona bem frente aos sedãs grandes, especialmente se você se importar ecologia e consumo
O preço de R$ 163,7 mil certamente coloca o carro em uma posição fora do alcance de boa parte da população brasileira, mas torna o híbrido uma opção bem atrativa para quem está disposto a pagar. O Hybrid é apenas R$ 5 mil mais caro que a versão de ponta do Fusion Titanium EcoBoost, custa só R$ 1,2 mil a mais do que o Honda Accord e é consideravelmente mais barato que o Hyundai Azera e o Toyota Camry, que saem por respectivos R$ 182.649 e R$ 204.990 – e isso sem colocar a economia com gasolina na conta.
A versão híbrida do top de linha da Ford traz a mesma beleza e conforto do que seu irmão a combustão, trocando apenas um pouco de seu desempenho (e muito do espaço em seu bagageiro) por um consumo consideravelmente menor. Além disso, o carro apresenta tudo o que a fabricante tem de mais avançado em assistentes autônomos, incluindo aqui o impressionante piloto automático com “stop and go”, que é uma benção nas estradas e avenidas de alta velocidade.
Somando-se a demais facilidades tecnológicas e as bem-vindas melhorias da terceira geração do sistema de infoentretenimento SYNC, com direito a Android Auto e Apple CarPlay, podemos dizer que o Fusion Hybrid 2017 sem dúvida tem um pacote bastante completo e para lá de interessante.