O Facebook explodiu em popularidade e não atraiu só quem está disposto a fazer novas amizades e compartilhar conteúdos relevantes: a rede social mais usada do mundo virou um espaço de propagação de mensagens de ódio, desrespeito, conteúdos impróprios e quebra de valores tradicionais. Ao menos é isso que pensa quem abandonou a criação de Mark Zuckerberg e fez o êxodo para o Faceglória.
O site se define como "a rede social perfeita para você compartilhar o amor e a sabedoria cristã com outras pessoas" e foi criado em junho de 2015, aproveitando uma ideia que já existia há alguns anos entre a comunidade religiosa.
A página ainda está em fase de testes e deve ganhar uma série de novidades nos próximos meses, mas já entrou no ar, recebeu os primeiros usuários e conta até com algumas restrições – afinal, a ideia é justamente fugir de blasfêmias, heresias e qualquer postagem que possa ferir os ideais dessas congregações. Criamos um perfil rapidamente para matar a curiosidade e conferir como anda o movimento na plataforma.
Escada para o paraíso
Para entrar no Faceglória, você precisa colocar o seu email na caixa de texto da página principal, que não poderia ser mais simples: uma animação de um céu azul cheio de nuvens em movimento. Após receber a confirmação na caixa de entrada, é só criar o cadastro.
Curiosamente, o site ainda carece de regras de serviço, termos de uso e política de privacidade, mas isso deve ser corrigido ao final da versão Beta. De qualquer forma, os valores cristãos devem ser preservados por lá e quem é membro da rede social deve ter consciência sobre o que fazer.
O prefeito de Ferraz de Vasconcelos, Acir Santos (SP), é membro da Congregação Cristã do Brasil e um dos idealizadores e criadores da rede social. Junto está Átila Barros, que é designer e ficou responsável pela parte técnica do projeto. Para ajudar na publicidade, o site recebe divulgações em eventos regionais (como a Marcha para Jesus, que só em São Paulo reuniu 34 mil pessoas) e a partir de cantores populares entre a comunidade, como Aline Barros.
Para olhos e ouvidos
Ao menos na fase atual, a interface do Faceglória tem o predomínio da cor branca – até demais, na verdade. Além do plano de fundo, há muito espaço sem conteúdo na página em si e poucas separações entre as seções, como um box colorido ou limitado por linhas, por exemplo.
A interface é dividida basicamente em três colunas e aproveita recursos mistos entre Twitter e Facebook. Logo no topo, há uma caixa de texto, a “Escreva aqui o que você está pensando?”, que é o espaço das postagens. Elas podem ser em forma de texto ou foto, mas outras mídias (ou seja, músicas e vídeos) devem ser liberadas no futuro.
Na esquerda, o seu nome e a foto do perfil, além de botões com atalhos para seus amigos e posts. Na direita, a primeiro grande diferencial do Faceglória: um player de música integrado do Soundcloud. Nessa rádio virtual, que só toca quando é ativada por você e permanece ligada mesmo durante os cliques, só artistas consagrados da música gospel.
Amém!
Não há um sistema de adição de amigos: você escolhe quais pessoas seguir e não precisa da permissão do usuário para acompanhar as postagens. Nós passamos a acompanhar pessoas de todas as idades no Faceglória e notamos que as postagens seguem um padrão em conteúdo.
Como era de se esperar de uma rede cristã, mensagens religiosas e envolvendo família ou amizade dominam a linha do tempo. Mensagens de autoajuda, montagens com frases de efeito e fotos "fofinhas" também estão muito presentes – ou seja, se você já não aguentava ver esse tipo de conteúdo no Facebook, prepare-se para ainda mais deles no Faceglória.
Além da timeline tradicional, há um menu lateral com as últimas atividades dos seus contatos, além de uma lista completa com os novos usuários do site. No canto inferior direito, há uma caixa de chat com os seus contatos online. Basta clicar em um nome para iniciar o bate-papo em uma janela avulsa.
É possível comentar, compartilhar ou curtir postagens. Porém, aí está outra diferença: em vez de o botão “Curtir”, existe o “Amém”.
Não vale tudo
Porém, é preciso atentar para o fato de que você não pode postar qualquer coisa no Faceglória — afinal, é justamente para fugir de certos conteúdos que a rede social foi criada. Em entrevista ao G1, Barros confirma que o site de relacionamentos permite paqueras entre usuários e fotos em roupas de banho na praia, por exemplo. Porém, há um limite que deve ser respeitado.
Conteúdos pornográficos, que envolvam violência, consumo de drogas lícitas ou ilícitas e fotos de teor homossexual fazem parte da “lista negra" do Faceglória. Os próprios usuários devem ficar de olhos abertos e, ao identificarem uma postagem que não respeite os ideais do site, a recomendação é denunciá-la imediatamente à administração da rede social.
Pode não parecer, mas isso já existe em uma quantidade relativamente alta por lá: especialmente depois da divulgação na imprensa nacional, surgiram fakes ou usuários que não compartilham dos valores da rede social que postam fotos consideradas impróprias ou simplesmente seguem o lema da “zoeira sem limites” nos comentários.
Até agora, segundo a própria pesquisa de usuários do Faceglória, são 44.574 cadastrados — muitos ainda sem foto de perfil e com zero postagens ou "améns".
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Ao menos por enquanto, o site não dá indícios de que será um sucesso, pois o público é baixo, a frequência de postagens é pequena e as funções do site ainda não atraem tanto quanto deveriam. Além disso, trolls começaram a descobrir o Faceglória e podem acabar com a diversão dessa comunidade virtual. Mesmo com problemas, limitações e mais segregar do que unir, o Faceglória é um espaço válido na internet e deve ser respeitado como tal.
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