O primeiro cliente da SpaceX a usar esse Falcon 9 comprovado em voo foi a SES, operadora de satélites a nível mundial
Há pouco mais de uma semana, a SpaceX, empresa de tecnologia espacial de Elon Musk, conseguiu um feito histórico: fez decolar e retornar são e salvo um foguete Falcon 9 que já havia participado de um processo de voo pelo espaço e voltado para a Terra. Não é nem necessário apontar que isso pode mudar completamente a indústria aeroespacial, baixando os custos das missões consideravelmente.
E o primeiro cliente da SpaceX a usar esse Falcon 9 comprovado em voo foi a SES, operadora de satélites a nível mundial e fornecedora de serviços de comunicação via satélite para emissoras, prestadores de serviços de conteúdo e internet, operadoras de redes fixas e móveis, governos e instituições, e empresas no mundo todo.
Um satélite só pra gente!
A decolagem, feita a partir do Centro Espacial Kennedy, no Cabo Canaveral, Flórida, colocou em órbita geoestacionária o SES-10, um satélite totalmente dedicado à prestação de serviços para a América Latina, incluindo o Brasil.
O TecMundo teve a oportunidade de conversar com Jurandir Pitsch, vice-presidente de vendas para América Latina - Sul da SES
Esse dispositivo vai substituir a capacidade fornecida atualmente por outros satélites da SES na posição 67 graus Oeste, além de aumentar a capacidade para o México, América Central, América do Sul e o Caribe.
O TecMundo teve a oportunidade de conversar com Jurandir Pitsch, vice-presidente de vendas para América Latina - Sul da SES sobre os desafios da empresa, os riscos em realizar um lançamento com um foguete reutilizado e como será o futuro próximo com esses recursos fornecidos pela SpaceX.
Satélite SES-10
Entrevista com Jurandir Pitsch
Como foi a experiência de colocar no espaço um satélite de maneira mais "arriscada", visto que, além da Falcon 9 já ter sofrido um acidente na decolagem, tratava-se de um veículo reutilizado?
Jurandir Pitsch: Lançamentos de satélites sempre foram e ainda são um negócio arriscado. Sendo um satélite novo ou já lançado anteriormente, a SES aplicou um padrão rigoroso de processo de verificação de todas as partes dos veículos de lançamento para certificar-se de que eles são considerados qualificados para serem lançados antes de tomar a decisão.
A SpaceX forneceu uma tremenda transparência quanto ao design do veículo, motores e aviônicos através de testes
Nós também recebemos um acesso sem precedentes para rever os esforços e preparar o foguete para seu segundo voo e nos certificarmos de sua disponibilidade. A SpaceX forneceu uma tremenda transparência quanto ao design do veículo, motores e aviônicos através de testes. Isso nos deu uma grande confiança quanto sua capacidade.
Satélite SES-10
O satélite colocado em órbita vai substituir algum outro que será desativado? Quais são as funções dele exatamente?
Jurandir Pitsch: O SES-10 substituirá a capacidade prestada atualmente por dois satélites da SES em posição orbital. O SES-10 já estará parcialmente cheio por causa de sua missão de substituição. Então fornecerá capacidade adicional para mercados específicos de alta potência na América Latina.
O satélite fornecerá uma cobertura ideal para serviços de radiodifusão bem como para trazer conectividade à região
O satélite tem três feixes diferentes: um dedicado ao Brasil; um para o México, América Central e Caribe e um cobrindo toda comunidade de língua espanhola na América do Sul. O satélite fornecerá uma cobertura ideal para serviços de radiodifusão bem como para trazer conectividade à região.
Desenvolvimento do SES-10
Por que a SES optou pelo lançamento em um foguete reutilizado?
Jurandir Pitsch: A SES sempre foi uma operadora de satélites inovadora. Ao longo dos nossos 30 anos de operações, fomos os pioneiros da colocalização de satélites, os primeiros a lançar com Próton em 1996 e fizemos a primeira missão geoestacionária com o Falcon 9 da SpaceX em 2013.
Também fomos os primeiros a investir na constelação de primeiro mundo dos satélites MEO (Medium Earth Orbit) através da O3b Network. E agora nós também fomos a primeira operadora de satélite a lançar em um Falcon 9 com foguete que já havia sido lançado anteriormente.
Estamos falando de um desconto no custo dos lançamentos, bem como um aumento na frequência de lançamento
Para a SES, o impacto do lançamento com este veículo em particular é muito significativo, pois inaugura uma nova fase de acessibilidade ao espaço e muda a economia da indústria do satélite, permitindo que ela seja mais ágil e competitiva em uma era digital.
Apoiando-se no foguete reutilizável Falcon 9 da SpaceX, estamos falando de um desconto no custo dos lançamentos, bem como um aumento na frequência de lançamento devido ao crescimento da disponibilidade de veículos que já voaram e que são qualificados.
Satélite SES-10
O que muda a partir de agora na programação e no processo de colocar satélites da SES em órbita, visto que essa decolagem foi feita com sucesso?
Em termos de lançamentos futuros, a SES tem cinco lançamentos programados para este ano: três com a SpaceX e dois com a Arianespace
Jurandir Pitsch: O impacto do sucesso deste lançamento em um foguete reutilizável é muito significativo, já que impulsiona toda a indústria de satélite e espaço para uma nova era. Significa uma maior eficiência e acessibilidade ao espaço e vai aumentar a frequência de lançamentos.
Outro benefício de foguetes reutilizáveis é uma diminuição do custo da exploração espacial. Isso significa uma melhora na economia da indústria de satélites com mais lançamentos a preços acessíveis.
Em termos de lançamentos futuros, a SES tem cinco lançamentos programados para este ano: três com a SpaceX (SES-11, Govsat-1, SES-14) e dois com a Arianespace (SES-15 e SES-12).
Satélite SES-10
Especificamente para o Brasil, quais são as vantagens em ter esse novo satélite em órbita?
Jurandir Pitsch: Para o Brasil, o SES-10 vai trazer a capacidade adicional de alta potência para aplicação DTH. É esperado para o mercado DTH chegar a US$ 3,2 bilhões (R$ 10 bilhões) em 2021, representando cerca de 44% do mercado de TV paga, com 20,5 milhões de assinantes no país.
O SES-10 permitirá que as comunidades que vivem no rural e localidades remotas recebem melhor acesso à conectividade
Com 55 transponders equivalentes em banda Ku, o SES-10 é um dos maiores satélites da SES fornecendo cobertura na América Latina, sendo uma excelente oportunidade para empresas de radiodifusão estenderem seu alcance em todo o continente e promover a penetração de mercado de HD.
Além disso, O SES-10 vai ajudar os operadores de telecomunicações, prestadores de serviços e empresas para dar suporte à crescente necessidade de dados e banda larga, especialmente em áreas remotas. Isso significa que o SES-10 permitirá que as comunidades que vivem no rural e localidades remotas recebem melhor acesso à conectividade.
Satélite SES-10
Existem novos planos ou projetos para a SES enviar mais satélites usando foguetes já comprovados em voo?
Jurandir Pitsch: Com os três lançamentos planejados com SpaceX para este ano, estamos avaliando as opções de lançamento em um foguete reutilizável em dois deles (Govsat-1 e/ou SES-14). O SES-14 fornecerá uma mistura de cobertura e capacidade HTS (high throughput) para toda a região da América Latina.
Quais são as especificações técnicas do satélite e qual é a previsão de tempo que ele deve ficar em funcionamento? Quais suas dimensões, seu peso, seus recursos e preço?
Jurandir Pitsch: Como o SES-10 é um satélite de propulsão química, esperamos que ele chegue em sua posição orbital, seja testado e esteja pronto para serviços comerciais em aproximadamente dois meses. A expectativa é que no final de maio o satélite comece a oferecer os serviços de vídeo e conectividade para o Brasil e outros países da América Latina.
O dispositivo foi construído pela Airbus Defense & Space e é projetado para operar durante 15 anos em órbita geoestacionária
O SES-10 é o primeiro satélite da SES projetado exclusivamente para atender os mercados da região latino-americana, sendo um dos maiores satélites que cobrem a América Latina com 55 transponders equivalentes em banda Ku. Isso vai possibilitar uma grande expansão de capacidade na região.
O dispositivo foi construído pela Airbus Defense & Space e é projetado para operar durante 15 anos em órbita geoestacionária. O SES-10 tem 5,294 kg e foi lançado da plataforma de lançamento 39A da NASA no Centro Espacial Kennedy, na Flórida.
Categorias