Como passamos a maior parte do tempo online ou na correria, às vezes fica difícil manter a organização frente à enxurrada de dados diária – seja de conteúdo externo ou do material que nós mesmo produzimos. Para lidar com isso, muita gente acaba recorrendo a aplicativos de produtividade, que facilitam – e muito – o acesso à informação. Ao que parece, um dos principais representantes da categoria caiu no gosto dos brasileiros e atingiu uma marca de respeito: o Evernote chegou a 10 milhões de usuários no país.
Para entender qual o apelo do serviço em território nacional, fomos a um evento da empresa em São Paulo, na última terça-feira (24) e conversamos com o chefão local dos negócios. Bem-humorado e com um portunhol quase impecável, Luis Samra, gerente-geral da Evernote para América Latina, comentou sobre o crescimento da marca no Brasil, falou um pouco sobre as mais recentes novidades da plataforma e deu uma prévia do que podemos esperar do produto para o futuro.
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Brasil: capital do Evernote na América Latina
Para dar uma noção da importância dos consumidores brasileiros para a operação, o executivo brincou que a adesão local anda dando “inveja” até mesmo no gerente responsável pelo gigantesco mercado chinês. “O Brasil é um dos maiores mercados que temos e o que possui a maior taxa de crescimento em todo o mundo. Isso significa que estamos crescendo por aqui em um ritmo maior de novos usuários do que na China, por exemplo”, disse Samra, em entrevista ao TecMundo.
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Em questão de números, as marcas atingidas pelos usuários brasileiros também são massivas. Além de ajudar a companhia a expandir sua base de clientes exponencialmente desde 2011 – quando tinha apenas 120 mil –, chegando a representar 50% da presença do Evernote na América Latina, o público verde e amarelo produz dados no sistema como ninguém: são mais de 110 milhões de notas e 38,7 milhões de horas de conteúdo criados no aplicativo desde 2008. Esses índices, claro, continuam a crescer dia a dia.
Apelo local e o maior concorrente do serviço
O motivo desse engajamento dos usuários tupiniquins com o app? Segundo o gerente-geral, isso se deve a uma série de fatores, incluindo boas parcerias no cenário local de tecnologia. “Temos relações estreitas com a Samsung já há mais ou menos quatro anos, e isso faz com que o Evernote venha embarcado na maioria dos seus aparelhos. Eles nos apoiam muito e acreditam no programa”, analisou, explicando ainda que a sul-coreana utiliza o serviço para demonstrar as possibilidades de interação em seus dispositivos com canetas stylus.
Isso faz com que o programa esteja disponível logo de cara para o público que parte de um celular comum para seu primeiro smartphone, se tornando uma das primeiras ferramentas de produtividade para esse tipo de consumidor. Ironicamente, outro produto com características semelhantes acaba se tornando um dos grandes concorrentes do serviço na conquista do usuário iniciante: o megapopular Angry Birds.
Ironicamente, outro produto com características semelhantes acaba se tornando um dos grandes concorrentes do serviço na conquista do usuário iniciante: o megapopular Angry Birds
Samra faz piada sobre o fato que é preciso esperar a “febre” dos jogos mobile passar antes que o Evernote possa ter uma chance de conquistar o marinheiro de primeira viagem – que começa a desbravar o uso dos telefones inteligentes. Outra parceria importante, e que acaba rendendo uma boa visualização mesmo para consumidores avançados, é a feita com a Google. O Evernote sempre está em destaque na loja de aplicativos da Gigante das Buscas e bate ponto em seleções de melhores programas e listas de promoções.
Facilitar a aquisição das edições pagas da plataforma, aliás, é outra estratégia para ganhar ponto com os brasileiros. Além de ser possível adquirir o produto no comércio eletrônico específico de cada sistema (seja Android, iOS, Windows, Mac ou Web), o próprio site da empresa oferece um preço diferenciado – não atrelado diretamente ao dólar – para o público local, com valores anuais de R$ 40 para a versão Plus e R$ 80 para a Premium – com opções de débito e boleto sendo estudadas para implementação futura.
Ferramentas, muitas ferramentas
Mesmo já cativando os brasileiros e obtendo números expressivos por aqui, Samra acredita que ainda é possível melhorar a experiência do usuário com a plataforma. O excesso de recursos, por exemplo, pode ser algo bastante intimidador para um usuário iniciante ou que quer começar a usar o software de forma leve. “Há algo chamado ‘o problema dos 5%’, no qual as pessoas usam apenas 5% do serviço e 95% dele não é descoberto”, explicou o executivo.
“Faz parte do nosso trabalho comunicar melhor essas funções e fazer o público entender o valor e o benefício dessas ferramentas”, analisou, adicionando que esse é um problema recorrente e que atinge mesmo gigantes do setor, como a Microsoft com seu Word e Excel, ambos softwares poderosíssimos e cheios de funcionalidades, mas que, de uma forma geral, são utilizados apenas para tarefas básicas.
O app é um dos favoritos de Warren Buffet.
Na conversa, ele mencionou que coisas como um poderoso leitor de cartões de visita, escaneamento de lousas ou mesmo a indexação de imagens – habilitando busca em figuras a partir de um termo ou palavra – acabam surpreendendo o cliente quando ele as desvenda. Samra, porém, não acredita que haja ferramentas demais no Evernote, mas, sim, que a empresa adiciona recursos que considera importantes e que, eventualmente, vão ajudar os consumidores em sua rotina e organização.
Conquista ritmada
Questionado sobre se o período de testes das versões pagas apresenta uma taxa de conversão alta de clientes gratuitos para assinantes fiéis, como nos casos do Spotify e Netflix, o executivo foi sincero em sua resposta. “Fico com inveja desses caras, porque eles trabalham com entretenimento, enquanto o Evernote é um produto igualmente valioso, mas que precisa de tempo para se provar”, analisou.
A comparação feita por ele, por exemplo, é que o Netflix apresenta conteúdo desde o primeiro acesso – bastando dar o play –, ao passo que o aplicativo de produtividade começa zerado e só tem seu banco de dados ampliado com o uso contínuo do próprio consumidor. Na opinião do executivo, cada um descobre as suas necessidades dentro do programa em um ritmo diferente, exigindo um certo nível de dedicação até que tudo se torne mais natural e eficiente. “Quem usa o app rotineiramente, passa a achá-lo essencial”, completou.
Cada um descobre as suas necessidades dentro do programa em um ritmo diferente, exigindo um certo nível de dedicação até que tudo se torne mais natural e eficiente
E a popularização do Google Keep, como afetou o desempenho do serviço em escala mundial? Mesmo confessando não conhecer tão a fundo o item da Google, Samra compartilhou uma informação interessante a respeito da relação entre ambos. Como muitos sites anunciavam que o Keep “mataria” o Evernote em seu lançamento, o pessoal que não sabia nada sobre o programa original acabou se interessando em conhecê-lo. “As pessoas se perguntavam ‘Google vai matar quem?!’, e, por conta disso, tivemos milhões de downloads”, brincou.
Feito para você
Durante o evento, também ficamos conhecendo mais sobre iniciativas recentes da empresa, que parece realmente apostar em parcerias para ampliar o valor de seu produto. A amizade com a Google, por exemplo, rendeu há pouco tempo uma integração ainda maior com o Drive, permitindo que documentos criados na plataforma da Gigante das Buscas possam ser consultados diretamente do Evernote. Um acordo recente com a Visa, por sua vez, oferece facilidades para os brasileiros, incluindo três meses gratuitos do app Premium.
O executivo responsável pelas operações da Evernote na América Latina.
Para finalizar, perguntamos ao executivo como ele descreveria o Evernote para um novo consumidor em potencial. “O serviço é como um segundo cérebro. É o local onde você quer armazenar coisas que você não tem tempo para ver agora e gostaria de se lembrar mais tarde. Somos uma companhia que quer ajudar você a colocar informações importantes em um local de fácil acesso e que interconecta todos esses dados”, disparou Samra. E aí, se convenceu com a explicação do executivo?