Detalhe do encaixe dos portões submersos (Fonte da imagem: Reprodução/Magistrato Alle Acque Di Venezia)
Um dos locais mais curiosos do mundo é Veneza, a cidade italiana onde as ruas são, na verdade, canais aquáticos.
Para ir de um lado ao outro, você precisa de pequenos barcos, no lugar dos carros, e poucas partes da cidade são cobertas com terra firme.
O problema dessa cidade turística é que ela está muito mais desprotegida contra alagamentos do que qualquer outro local, já que é inteiramente coberta por canais, desde os pequenos, que são como as ruas menores até um bem grande que atravessa toda a cidade, como se fosse a avenida principal de Veneza.
Pode parecer um canal, mas essa é a praça principal de Veneza completamente alagada (Fonte da imagem: Flickr/Roberto Trm)
Em algumas épocas do ano, as águas vindas do Mar Adriático sobem tanto que as praças e ruas de terra firme e o piso das casas ao longo dos canais ficam submersos — só em 2013 foram 11 casos de enchentes graves. Para tentar controlar esse problema sem interferir na paisagem local, um projeto tecnológico ousado está sendo construído, o MOSE.
A sigla, que significa Modulo Sperimentale Elettromeccanico (Módulo Experimental Eletromecânico, em uma tradução livre), é o nome dado para um conjunto incrível de 78 barreiras que estão sendo testadas para serem instaladas nas três aberturas da Lagoa de Veneza para o Mar Adriático, nos locais indicados na imagem abaixo:
As condições geográficas de Veneza favorecem o seu desaparecimento gradual (Fonte da imagem: Reprodução/Google Earth)
Uma cidade construída na água pode alagar?
Se Veneza já está mesmo coberta de água, como é possível que as suas ruas alaguem? A verdade é que exatamente por esse motivo é que essa cidade tem muito mais possibilidade de sofrer com enchentes do que qualquer outra.
Qualquer aumento no nível do mar acaba gerando prejuízos, já que não existe nenhum tipo de proteção e quase nada de espaço entre os canais e a porta das casas. O maior problema é que os estudiosos começaram a perceber que, de alguns anos para cá, o nível do mar subiu bem mais do que o previsto e os estragos foram maiores. Se nada fosse feito, a cidade estaria fadada a lentamente desaparecer.
MOSE, a solução para Veneza
Esquema lateral do portão aberto (Fonte da imagem: Reprodução/i-Italy)
O projeto MOSE começou a ser pensado e calculado em 2004 e atualmente, dez anos depois, está finalmente em fase de execução, sendo previsto que estará 100% funcional em 2016. Ele consiste em 78 barreiras móveis que ficam na parte de baixo das três aberturas que ligam o Mar Adriático à Lagoa de Veneza, bloqueando completamente o acesso da água se for preciso.
Uma das maiores brigas entre os organizadores desse projeto e a população era que muitas pessoas achavam que colocar barreiras permanentes nessas aberturas ia acabar alterando a paisagem da região, considerada uma das mais bonitas do mundo. Por isso, a solução demorou bastante a sair e envolve portões que, fora da época de cheia, são invisíveis.
Os portões do MOSE ficam sempre cheios de água — dessa forma, eles permanecem submersos no fundo dos canais e permitem navegação normal sem interferir na paisagem. Porém, quando as águas do Mar Adriático começam a subir, a água de dentro da barreira é mandada para fora usando ar comprimido e ela, mais leve, sobe.
Girando em um eixo submerso, estes portões ficam em posição quase vertical, bloqueando a maré alta de uma maneira simples porém muito eficiente. A navegação em todo esse período é bloqueada, mas esses dias de enchente não costumam durar muito, então a previsão é a de que o acesso seja restrito durante poucas horas por ano.
Uma ilha artificial foi construída na abertura de Lido para os controles (Fonte da imagem: Reprodução/Magistrato Alle Acque Di Venezia)
Uma ilha artificial foi construída na maior das três saídas da Lagoa para o Mar e abriga os controles necessários para fazer o MOSE funcionar. Na parte de baixo dos portões, existem túneis para a manutenção segura e o deslocamento dos funcionários.
Os primeiros testes desse sistema já foram feitos, com o portão instalado no local, e foram um sucesso, funcionando conforme a previsão dos engenheiros. O projeto é bem ambicioso e custa aproximadamente 7 bilhões de dólares, mas pode salvar para sempre a cidade de Veneza do fim catastrófico que a esperava em algumas dezenas de anos se nada fosse feito.
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