(Fonte da imagem: iStock)
Não é de hoje que se debate o fato de a internet, ou a tecnologia de uma maneira geral, estar tornando as pessoas mais burras e mais preguiçosas. Entretanto, recentemente um jornalista e escritor canadense, Clive Thompson, reviveu essa discussão devido ao lançamento do seu livro “Smarter Than You Think”.
Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.
Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo
Para quem não o conhece, Clive Thompson é famoso por escrever textos sobre tecnologia e o seu impacto social e cultural na vida das pessoas. O autor deixou contribuições para o The New York Times, The Washington Post, Wired, entre várias outras publicações. No livro, ele trata sobre o fato de que a internet,na verdade, está ajudando as pessoas a aprender mais e reter informações por mais tempo.
Como assim?
A ideia que o autor defende no seu livro é que sempre houve pessoas que não se interessavam por cultura ou pela retenção das informações recebidas. Da mesma forma, sempre existiram indivíduos que se interessavam por discussões que não poderiam ser consideradas “intelectuais”.
(Fonte da imagem: iStock)
Ou seja, tal característica não é algo exclusivo trazido com o avanço da tecnologia ou pelo fato de a internet hoje estar acessível a grande parte da população. Um exemplo interessante citado pelo autor para reforçar a sua ideia está no fato de existir uma diferença na resposta cerebral referente ao tempo no qual o ser humano costumava ler poemas e depois que incorporamos a prosa no discurso moderno.
Isso não quer necessariamente dizer que o cérebro era mais estimulado naquela época, mas poderia facilmente ser interpretado dessa forma.
Educação e internet
A internet e a evolução dos meios de distribuição de conhecimento trouxeram toda uma nova gama de possibilidades tanto no quesito comunicação quanto aprendizado. De certa forma, o que faz com que às vezes se tenha essa percepção de que a internet nos deixa mais burros é a falta de interesse em determinados assuntos, mas mesmo isso pode ser relativo.
(Fonte da imagem: iStock)
Afinal, o mesmo indivíduo que faz um trabalho de escola apenas para alcançar a média bimestral pode ser uma pessoa que publica algo extremamente complexo no seu blog. A questão, aqui, é que no primeiro caso o estudante sustenta o pensamento de que aquilo não passa de uma obrigação formal. Já no segundo, há o interesse em formar opiniões e ouvir críticas a respeito do seu trabalho.
Além disso, a internet avançou muito a metodologia de educação à distância. Os recursos proporcionados pela rede para a transmissão de aulas e para a entrega do conteúdo, além de “material de apoio infinito”, certamente ajudaram muito a quem não tem tempo de frequentar uma classe em um estabelecimento físico.
Além disso, a educação pela internet faz com que a pessoa economize tempo com locomoção e possa realizar o curso em horários nos quais seria impossível caso fosse presencial. Da mesma forma, também há uma questão de custo envolvida, fazendo com que estudar online seja mais barato do que em uma sala de aula.
(Fonte da imagem: iStock)
Outro ponto que vale atenção é que, com o avanço dos equipamentos necessários para as interações online, em um futuro não muito distante será possível simular todo o ambiente ideal para o aprendizado. Dessa maneira, o único requisito será uma conexão adequada para participar da experiência completa de estar em uma sala de aula, mas sem sair da sua casa.
O mesmo será possível para atender a palestras ou debates com outros estudantes e profissionais. Talvez a tecnologia nunca substitua o modelo “pessoal” para a educação, mas sem dúvidas terá um papel muito importante como um suplemento para enriquecer ainda mais o aprendizado.
Problema: excesso de distrações
Entretanto, se há algo com o que mesmo o autor previamente citado concorda é que a internet traz muitas distrações. Não existem dúvidas com relação à quantidade de informação disponível na internet, porém isso é algo realmente aproveitado pelas pessoas? Todo esse volume de dados prontamente disponível a todo o momento é algo benéfico para a nossa capacidade intelectual?
Se você trabalha utilizando o computador ou o usa para atividades como escrever trabalhos escolares já deve ter percebido que a cada dia é mais difícil se concentrar em uma única tarefa por um período maior de tempo. Isso ocorre por causa da grande quantidade de informação à qual somos expostos sempre que acessamos a internet.
(Fonte da imagem: Reprodução/Qmee)
Você começa a ler um email, então entra no seu Twitter e, instantes depois, alterna a aba para visualizar uma publicação no Facebook. Ao mesmo tempo, abre uma guia com o seu jornal favorito enquanto conversa com alguns amigos por meio de um mensageiro instantâneo que estava aberto em segundo plano no computador.
O problema é que o nosso cérebro não consegue lidar com tantos dados ao mesmo tempo, e é por isso que estamos a cada dia com mais problemas de atenção. Atualmente, você não precisa necessariamente saber coisas específicas, pois, qualquer dúvida, é só recorrer ao Google. Porém, quem se lembra do que andou pesquisando no buscador na semana passada?
(Fonte da imagem: iStock)
As pessoas buscam respostas, leem, compreendem e esquecem. Na melhor das hipóteses, você vai ser capaz de se lembrar do tema como um todo, mas possivelmente os detalhes não serão palpáveis na sua memória. Alguns cientistas acreditam que esse “bombardeio” de informações apresentadas ao mesmo tempo está nos tornando “pensadores superficiais”.
Informações rápidas, esquecidas em pouco tempo
Esse tipo de discussão acerca do que o ambiente digital está fazendo com o nosso sistema cognitivo é explicado por autores como Nicholas Carr. Para quem não o conhece, ele é um escritor norte-americano que publica conteúdo na área de tecnologia, negócios e cultura. Alguns dos seus trabalhos mais famosos incluem o artigo “Is Google Making Us Stupid?” e o livro “The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains”.
De acordo com Nicholas Carr, nosso cérebro ainda não é tão bom em processar a quantidade de informação que recebemos no tempo em que ela está disponível. Ainda segundo o autor, “o ato de pensar ocorre em dois passos: você coleta a informação e pensa profundamente a respeito disso”. Porém, o que a internet tem feito é aumentar o peso apenas da primeira etapa.
Assim, você nem sequer possui tempo para pensar sobre o que você leu e uma nova informação já aparece na sua frente, sobrecarregando a sua memória de curto prazo. Dessa maneira, você está acostumando o seu cérebro a receber mais e mais informações “de uma só vez”, e fazendo com que ele não tenha interesse em leituras profundas.
(Fonte da imagem: iStock)
Ou seja, nossa capacidade de concentração pode ser extremamente afetada por tal característica. Se você parar para pensar por alguns instantes, isso não é tão surpreendente; se você faz a leitura de um jornal físico, as informações serão passadas de maneira linear e um conteúdo por vez, sem maiores distrações, algo que também ocorre com livros.
Todavia, se você for abrir o mesmo exemplar na internet, você possui várias abas abertas no navegador, com emails, redes sociais e outras distrações. Isso sem contar os links internos, relacionados no decorrer do próprio texto. Embora eles facilitem a vida na hora de saber mais sobre algum assunto citado, podem fazer com que você não conclua um único artigo, pulando de link a link para outras matérias.
Então, a internet é boa ou má?
A internet é uma ferramenta excelente, não há dúvidas sobre isso. No entanto, o uso que fazemos dela pode não ser o mais adequado, especialmente porque estamos acostumando o nosso cérebro a não armazenar informações por um tempo mais longo, afinal, esses dados vão estar sempre disponíveis e basta outra pesquisa do Google para acessá-los.
O fato de você poder armazenar conteúdo online e “liberar” espaço na sua mente é algo bom, especialmente para explorar novos assuntos. O problema é que o cérebro também precisa ser exercitado e estimulado, como os músculos do nosso corpo, e a qualidade de uma leitura é parte desse processo.
Muitos se acostumaram a ler apenas 140 caracteres de determinado conteúdo ou somente os títulos e subtítulos de um artigo, quando o ideal seria aproveitar a disponibilidade de qualquer assunto para aumentar as fronteiras do seu conhecimento.
(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)
Ninguém está querendo dizer que todos deveriam ler matérias científicas durante todo o tempo, porém, pequenas coisas, como tentar ler “um assunto de cada vez” ou terminar um artigo antes de checar as atualizações das redes sociais, já são grandes passos para utilizar melhor a internet a seu favor.
Muitos pesquisadores e escritores, incluindo o citado Nicholas Carr, acreditam que o cérebro humano está passando por uma fase de adaptação para o ritmo de informações trazido com a internet. Entretanto, até que essa “transição” seja concluída, cabe a nós aprendermos a utilizar a internet e todos os avanços tecnológicos à nossa volta da melhor maneira possível.
As informações estão disponíveis e com fácil acesso, basta querer empregá-las para melhorar ainda mais os nossos conhecimentos pessoais.
Categorias