Palestrantes debatem sobre publicação digital (Fonte da imagem: Reprodução/NIC.br)
A web revolucionou diversos campos da comunicação e do entretenimento, inclusive o jornalismo. E para discutir mais sobre as vantagens e desafios de se produzir conteúdo informativo nesta área repleta de avanços tecnológicos, a conferência Web.br 2013 contou com a participação de dois especialistas no assunto que palestraram na manhã desta terça-feira (19), segundo dia do evento que se iniciou ontem.
Fernando Tavares (fundador e presidente da Simplíssimo, empresa especializada na produção de e-books) e Rafael Kenski (redator-chefe de uma série de publicações da editora Abril) foram os responsáveis por agitar o keynote “Digital Publishing”, moderado pelo jornalista ambiental Gustavo Faleiros. Tavares iniciou seu discurso comentando um pouco sobre as vantagens de um periódico digital caso comparado com os tradicionais livros físicos: design responsivo (adaptável para qualquer tamanho de tela) e atraentes recursos de interatividades foram alguns dos pontos destacados pelo especialista.
O executivo ainda apresentou algumas características do ePub 3, mais recente protocolo de padronização para publicações digitais. Trata-se, a grosso modo, de uma série de documentos HTML/CSS compilados em um único arquivo, que será lido e organizado por um gadget específico (um tablet, um celular, um eReader ou um software para computadores). Tavares reforçou ainda que, por ter uma estrutura bastante simples e semelhante a sites convencionais, o padrão ePub é muito simples de ser compreendido e dominado até mesmo por programadores pouco experientes.
Keynote abordou uso do ePub 3 (Fonte da imagem: Reprodução/NIC.br)
Indo muito além do texto
Kenski, por sua vez, usou o microfone para comentar sobre como a internet facilitou o trabalho jornalístico e quais são as principais dificuldades encontradas por profissionais tradicionais durante a transição para essa nova plataforma. Conforme Rafael, é essencial que esqueçamos uma série de conceitos antigos que não se adaptam de maneira alguma ao jornalismo digital.
Um desses conceitos que devem ser quebrados é da reportagem: com o advento das tecnologias, pode-se usar muito mais do que texto, fotos e vídeos durante a construção das narrativas informacionais. Ele cita, como exemplo, os newsgames, matérias investigativas que são construídas no formato de um jogo comum. Elementos de interatividade se mostram armas excelentes para fisgar a atenção do leitor e envolve-los ainda mais no assunto tratado.
Um case interessante de newsgame é o “Jogo da Máfia” publicado pela revista Superinteressante em fevereiro de 2009. Nele, o jogador deve encarnar um sagaz investigador que deve rastrear todas as atividades intercontinentais de uma máfia globalizada. Mais do que uma simples diversão, o título apresenta uma maneira distinta de explicar como funciona o processo de internacionalização de grupos criminosos contemporâneos.
Fernando Tavares durante a Web.br 2013 (Fonte da imagem: Reprodução/NIC.br)
Democratizando a produção de conteúdo
Continuando seu discurso, Kenski também aborda as mudanças radicais no conceito de “história”, “texto”, “público” e “mídia”, citando exemplos famosos como a reportagem “Snow Fall: The Avalanche at Tunnel Creek”. Publicada no ano passado pelo New York Times, a matéria conta em detalhes uma das piores avalanches da história e utiliza de diversas artimanhas interativas para impressionar o internauta – tanto que a obra ganhou o renomado prêmio Pulitzer em sua edição de 2013.
Mas, acima de tudo, Rafael grifa que acredita em um futuro no qual o jornalismo será considerado uma “plataforma aberta”, visto que é cada vez mais fácil produzir conteúdos multimídia que atinjam um público amplo (como blogs ou perfis informativos de redes sociais). Sendo assim, também é necessário que esqueçamos – ou pelo menos mudemos – o nosso conceito de “jornalista”. O profissional explica que, em sua visão, as únicas competências estritamente necessários para exercício do ofício são a capacidade de se comunicar com clareza, o senso de apuração e o respeito às normas éticas comuns para a profissão.
De acordo com especialistas, conceitos antigos do jornalismo devem ser quebrados (Fonte da imagem: Reprodução/NIC.br)
Quais são os desafios?
Por fim, vale observar que ambos os especialistas concordam com uma “ameaça” que vem tendo sido discutida desde o primeiro dia da Web.br 2013: o abuso dos sistemas de gerenciamento de direitos autorais (DRM). Para os palestrantes, não há formas de impedir a pirataria a nível absoluto, e tais protocolos complexos de proteção acabam sendo bem mais custosos do que o prejuízo de uma editora com a replicação indevida de algum de seus títulos.
Além disso, o DRM acaba quebrando a flexibilidade dos e-books e tornando-os menos maleáveis do que os livros físicos. Afinal de contas, na era da tinta e papel, todos nós tínhamos plena liberdade de emprestar (durante alguns dias) uma publicação impressa para amigos ou familiares – algo que está se tornando cada vez mais difícil graças as restrições impostas nesse tipo de conteúdo.