Mesmo antes do lançamento oficial do iPad por Steve Jobs, muito se falou sobre como o tablet da Apple substituiria completamente os leitores digitais como o Kindle ou o Nook.
Enquanto Cupertino comemora o terceiro milhão de unidades vendidas de seu equipamento e várias outras empresas – como HP, LG e Asus – preparam seu próprio tablet, a livraria Barnes & Noble (responsável pelo Nook) e a Amazon (do Kindle) disputam um mercado cada vez menor e competitivo, graças à entrada de concorrentes de peso leve como o Kobo.
Tinta eletrônica
A principal vantagem de um e-reader sobre os tablets reside na tela E-Ink. Enquanto telas normais – LCD, LED e tantas outras siglas – emitem luz, uma como a do Kindle – e de quase todos os e-readers disponíveis no mercado hoje – funciona de maneira bastante semelhante ao papel: refletindo luz ambiente.
Essa diferença bastante simples é responsável pelo conforto durante a leitura. Enquanto telas convencionais “cansam” a vista por bombardear o rosto do leitor com luz o tempo todo –da mesma forma que um monitor comum faz –, telas E-Ink oferecem a experiência de leitura que todo mundo conhece, e, por apenas refletir a luz ambiente, mantém-se confortável por longos períodos.
Além disso, graças à simplicidade do equipamento – e do software – utilizado em um e-reader, os preços desses gadgets tende a ser bem menor do que o de um tablet.
Livro ou computador?
Uma coisa deve ficar clara desde o princípio: os tablets não são leitores de e-books. Essa categoria de equipamento compreende computadores que não dispõem de teclado físico e utilizam telas sensíveis ao toque como interface com o usuário.
Assim, mesmo que iPad e outros tablets disponibilizem softwares que permitam a leitura de e-books, eles também oferecem uma infinidade de outras possibilidades. De certa forma, usar um tablet apenas para leitura seria como morar sozinho em um apartamento duplex – é possível, mas também é um desperdício.
Analisando friamente, dificilmente alguém compra um computador com a intenção de realizar apenas uma tarefa. Por outro lado, MP3 players – sem nenhuma função extra, como o iPod Shuffle – são vendidos diariamente a milhares de pessoas graças ao seu custo mais baixo. Quem não precisa de outras capacidades além da reprodução de áudio não deve pagar mais pelas características desnecessárias.
Pode-se encarar a situação dos e-readers de forma semelhante: existem várias alternativas capazes de desempenhar a mesma tarefa, adicionando a ela muitas outras, porém com um custo mais elevado.
Vale lembrar também que, normalmente, equipamentos não especializados não oferecem – via de regra – a melhor experiência possível, mas sim o máximo de qualidade que suas configurações permitem. No caso dos e-readers e tablets a já mencionada diferença na tecnologia de tela é um exemplo claro dessa situação.
Questão de costume
Segundo o Ministério da Cultura, através da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, 55% da população é considerada leitora. A média nacional – encontrada na mesma pesquisa – mostra que cada habitante lê pouco mais de cinco livros por ano, configurando um consumo baixo de literatura no país.
Assim, especialmente em território nacional, é fácil perceber que os tablets têm muito mais apelo ao consumidor do que um e-reader uma vez que, além de servir como plataforma de leitura, um computador desse tipo oferece possibilidades de navegação na internet, jogos e aplicativos que a pessoa já usa em seu PC convencional.
Da mesma forma, no exterior essa tendência também se consolida. Lá fora, os preços mais baixos – devido à ausência de impostos e taxações (o famoso “custo Brasil”) – e a maior disponibilidade de conexões sem fio estimulam a utilização de dispositivos mais versáteis.
Ainda existe espaço
Claro que a redução de preços ocasionada pela competição com os tablets e com leitores digitais mais baratos é preocupante para as empresas que investem mais em e-readers.
O Kindle – que custava quase 300 dólares – teve reduções de preço e hoje pode ser comprado por US$ 189. A Barnes & Noble também passou a cobrar menos pelo Nook, que já é vendido por menos de 150 dólares.
Essa queda nos preços tem um lado positivo para o mercado, facilitando o acesso dos interessados nos e-readers à tecnologia. Da mesma forma, preços mais atraentes também podem gerar um nicho de mercado para estes equipamentos: a educação.
Em sala de aula
A academia se tornará – provavelmente – o grande reduto dos leitores digitais. A grande maioria das escolas particulares, por exemplo, utiliza apostilas para fornecer conteúdo pedagógico aos seus matriculados. Os gastos com impressão e logística desse material é alto, tornando-se um incentivo à busca por alternativas.
Como os e-readers são capazes de ler arquivos PDF, nada impede que – em um futuro próximo – o valor de material didático seja transferido das gráficas para as empresas que comercializam leitores digitais. Além disso, livros cobrados no vestibular e material complementar também podem ser facilmente incluídos no aparelho, permitindo assim a utilização ao máximo de suas facilidades.
Na escola, os e-readers também apresentam uma vantagem importante sobre os tablets justamente por não oferecerem muitas alternativas de utilização. Pela própria limitação de suas funções, o potencial de distração de um leitor é muito menor, mantendo o máximo possível do foco dos alunos no conteúdo apresentado.
Mercado específico
Percebe-se facilmente que, apesar do enorme potencial apresentado inicialmente pelos e-readers, o espaço ocupado pelos tablets é real e tende a aumentar cada vez mais. Apesar dessa situação não decretar o fim dos leitores digitais, certamente restringirá seu impacto a determinados nichos de mercado.