A história do WhatsApp é o mais novo capítulo aqui da série de história da tecnologia. Ele é bem novo comparado com as outras empresas que a gente fala por aqui, mas você sabe como ele surgiu? Pois é, a gente só ficou sabendo uma hora aí que ele existia, baixou no celular e agora não larga mais.
A seguir, confira a origem, a evolução e a situação atual do mensageiro mais usado do mundo.
O momento certo
Antes de falar como ele surgiu, é importante explicar por que ele fez tanto sucesso. Em 2009, a situação era a seguinte: os smartphones estavam muito no começo, com o iPhone tendo dois anos de vida e o Android era ainda mais jovem, mas muita gente já procurava alternativas ao SMS para não estourar os créditos ou a conta com torpedos.
Saudades do MSN?
E a concorrência ainda era pequena. O falecido MSN, que já se chamava Windows Live Messenger, ainda não tinha versão mobile. O Facebook Messenger se chamava Facebook Chat e só funcionava dentro da rede social. O Skype não pegou fora do ambiente de trabalho e focou mais em áudio e videoconferência. O GTalk era meio ignorado e por aí vai.
O início de tudo
É nesse contexto que o WhatsApp nasceu em 2009, como uma empresa fundada por Brian Acton e Jan Koum. Brian é norte-americano, trabalhou como engenheiro em vários lugares e perdeu muita grana com a bolha da internet, que já foi tema da nossa história. Jan é ucraniano de uma família pobre, foi para os Estados Unidos ainda criança e teve que trabalhar até como zelador antes de fazer faculdade de programação. Os dois se conheceram no Yahoo! no final da década de 90 e trabalharam lá até 2007.
Jan e Brian (com o moletom da empresa).
A dupla viveu por um tempo com a renda do antigo emprego, viajou pela América do Sul e jogou muito ultimate frisbee — sim, eles adoravam o esporte. Jan então compra um iPhone e percebe o mundo de possibilidades para os próximos anos em mensagem instantânea e aplicativos. Em 4 de fevereiro de 2009, ele registrou a empresa WhatsApp na Califórnia ainda sem um produto.
O nome é uma criação dele mesmo porque soa bem e é parecido com a expressão em inglês “what’s up", que é tipo um "e aí?".
Em um encontro com amigos, ele conheceu o russo Igor Solomennikov, que programou a primeira versão do app. O Acton também topou na hora e virou cofundador. Só que a versão 1.0 era muito instável, não fez sucesso e nem era um mensageiro. Ela só tinha a sua lista de contatos e mostrava só uma frase de status, como avisar se você tava ou não disponível pra receber chamadas.
Igor foi o primeiro engenheiro iOS da empresa.
Jan pensou até em desistir, mas Acton falou pra ele ter paciência e esperar mais alguns meses. E não é que ele tava certo? Em junho, a Apple lançou o sistema de notificações no iOS 3.0 e isso mudou tudo. O WhatsApp foi totalmente redesenhado para exibir mudanças de status em tempo real em forma de avisos na tela, e isso animou bastante os primeiros usuários, a maioria da comunidade russa de amigos em comum.
Decolando
Acton virou cofundador quando reuniu 250 mil dólares de seus colegas no Yahoo! na primeira rodada de investimento da empresa, em setembro. Aos poucos, essa troca de status ficou tão frequente que o WhatsApp simplesmente virou um mensageiro. O WhatsApp só saiu do beta em novembro e era exclusivo do iPhone. Ah, e ele só passou a aceitar fotos em dezembro de 2009.
Em pouco tempo, ele apareceu na lista de mais baixados da App Store pra nunca mais sair.
Quem usa o WhatsApp faz pouco tempo pode não lembrar, mas ele já foi pago. Ele foi lançado gratuitamente, aí passou a custar 99 centavos de dólar e depois mudou pra uma taxa anual com esse mesmo valor, paga a partir do segundo ano de uso. A versão pra BlackBerry saiu em janeiro de 2010 e no mesmo pra Android e Symbian. O Windows Phone teve versão própria a partir de 2011.
Nesse ano, o WhatsApp recebeu um investimento de 8 milhões de dólares que coloca ele de vez no topo e permitiu várias novidades. Os famosos recados em áudios, por exemplo, vieram em agosto de 2013. E ele fechou o ano com 400 milhões de usuários ativos.
O Facebook e seus bilhões
Aí vem a grande bomba. O WhatsApp foi adquirido pelo Facebook em fevereiro de 2014 por 19 bilhões de dólares, valor dividido entre dinheiro e ações, incluindo uma bolada pros cofundadores. O valor é alto por si só, mas foi considerado surreal na época especialmente por ser um só aplicativo. Pra você ter uma ideia, a Oculus custou 2 bilhões no ano seguinte e o Instagram, adquirido em 2012, virou propriedade do Zuckerberg por 1 bilhão de dólares.
Zuckerberg e seu império de apps.
Aliás, olha que curioso: Jan e Brian tentaram trabalhar no Facebook logo depois que saíram do Yahoo! e quando a rede social ainda não era tudo isso, mas foram rejeitados na entrevista. Mas até que foi uma boa notícia, né.
Nessa época, a empresa já tinha uma preocupação que segue até hoje. Afinal, como o WhatsApp ganha dinheiro? Ela se deu muito bem no começo com os downloads pagos e as taxas anuais, mas isso foi extinto em janeiro de 2016. Tinha quem achasse que iam aparecer anúncios e até banners no aplicativo depois da compra, mas monetizar ele continua sendo uma tarefa difícil até hoje.
Uma novidade atrás da outra
Voltando pra 2014, em novembro surge a função dos ícones em forma de "V" que mostram se o seu contato visualizou a mensagem e deu aquela ignorada. Muita gente não gostou, e na mesma semana uma atualização deu a opção pra você desabilitar essa função.
Em janeiro de 2015, surge o WhatsApp Web, a aguardada versão desktop pro mensageiro. Só que ele funciona pelo navegador e ainda precisa do telefone pareado pra funcionar, mas é melhor que nada. Nesse mesmo ano, chegam as chamadas em voz e os emojis com diferentes tons de pele. Em março de 2016, foi adicionado o comando de enviar documentos, no começo só com PDFs.
O app também ganha uma versão pra Windows e Mac, só que ele é só um espelho do telefone igual ao Web. As chamadas de vídeo finalmente são adicionadas, com uma qualidade de imagem bem instável.
O recurso de apagar mensagens já enviadas antes que a pessoa visualize foi introduzido em 2017 e já deve ter salvado a vida de muita gente por aí. O ano também marcou a estreia das contas verificadas pra empresas, do Status que é uma cópia descarada do Snapchat e do compartilhamento de localização atual.
O app também teve alguns problemas com segurança ao longo dos anos. Até 2011, as mensagens trocadas tinham criptografia zero, o que significa que as suas mensagens podiam ser filtradas quase sem dificuldade.
Em 2012, as mensagens passaram a ser codificadas por um método não divulgado, mas as vulnerabilidades não acabaram. A senha de acesso era simples, baseada no IMEI do telefone ou no Mac Adress. Ele só adotou a criptografia ponta a ponta pra que ninguém além de você e o seu contato leiam as mensagens compartilhadas em 2016.
O WhatsApp no Brasil
E não tem como falar de WhatsApp sem falar do Brasil, né. O brasileiro é completamente apaixonado pelo mensageiro, e a intimidade é tanta que a gente até transformou o nome dele em ZapiZapi ou só Zap mesmo.
Só que a nossa maior marca é mesmo a dos bloqueios. O WhatsApp foi bloqueado judicialmente por aqui pela primeira vez em dezembro de 2015, pela Justiça de São Paulo, e ficou quase 48 horas fora do ar. Aconteceu o mesmo em maio e julho de 2016, por períodos menores.
A situação é sempre a mesma: o WhatsApp não colabora em investigações policiais em que conversas poderiam ser usadas como prova, por motivos de privacidade.
Aí um juiz ordena a proibição do app até que ele mude de ideia, além de aplicar uma multa. Até hoje ele sofre algumas instabilidades e vive caindo por algumas horas, o que gera pânico na população. Mas normalmente é só um problema técnico mesmo.
Um dos golpes mais clássicos: o do FGTS.
O Brasil ainda vê o WhatsApp ser muito usado em golpes, numa evolução natural daquelas promoções imperdíveis de SMS com passagens aéreas grátis, nudes falsos ou coisas do tipo. Você pode até achar óbvio quando é fraude, mas acredite: tem muita gente que cai. A gente também transformou os grupos em uma verdadeira instituição nacional, desde aqueles com a família toda até os do condomínio que é só briga e recado de bom dia.
E foi daqui que veio o gemidão, né. Que atire a primeira pedra quem não caiu ou viu gente caindo na pegadinha de áudio ou vídeo que gerou muitas situações constrangedoras em 2017.
Muito cuidado com os áudios.
O fato é que o Brasil é um dos principais países do serviço, e a gente já usa ele muito mais do que só pra trocar mensagens, fotos e vídeos com a galera. É só ver quando você vai contratar um serviço, marcar uma consulta ou comprar um produto: tem lá o ícone do WhatsApp pro contato mais direto.
O WhatsApp hoje
E a concorrência? Bom, agora tem muitos, mas nenhum chega aos pés dele em tamanho. Muita gente ainda prefere o Telegram, que tem várias funções únicas e até copiadas pelo rival, e é o preferido quando o WhatsApp cai ou é bloqueado. Nesse grupo tem também o Viber, o Line, o ChatOn, o chinês WeChat, o Google Allo e até o Messenger do Facebook.
O Telegram é talvez o rival mais famoso do WhatsApp.
O WhatsApp tem números absurdos. Em julho de 2017, ele confirmou 1 bilhão de usuários ativos diários, 55 bilhões de mensagens enviadas todo dia, 4,5 bilhões de fotos compartilhadas todo dia, 1 bilhão de vídeos enviados todo o ano e 60 idiomas suportados. Atualmente, o Jan continua na companhia. O colega Brian Acton saiu em setembro de 2017 pra se dedicar a organizações sem fins lucrativos.
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E essa é a história do WhatsApp, o mensageiro mais popular do mundo e que ainda tem muita história pra contar daqui pra frente. Se você quiser ver a história de um serviço, produto ou empresa contada aqui no TecMundo, é só deixar o seu comentário. Até a próxima!