Um startup chamada Frank começou no início desta semana uma campanha de financiamento coletivo, ou crowdfunding, para tirar do papel um smartphone capaz de “fazer tudo o que você precisa, mas por um baixo custo”. Nenhum problema até aqui, certo? Quem não quer um celular bom e barato?
O problema é que que o smartphone da Frank, que leva o mesmo nome da empresa, não foi desenvolvido em parte alguma pela startup. Eles simplesmente escolheram um celular barato e com especificações boas o suficiente no Alibaba e pediram para a fabricante entregar alguns milhares de unidades personalizadas para que eles vendessem nos EUA.
Isso de forma alguma é um crime ou trapaça, mas é totalmente diferente do etos do crowdfunding tradicional, que consiste em desenvolver ideias originais e tirá-las do papel com a ajuda de pessoas interessadas no seu futuro produto. Com o dinheiro delas é que você termina o desenvolvimento, faz os testes e manda fabricar o aparelho. A Frank quis simplesmente vender um monte de celulares “remarcados” como se fossem produtos únicos e originais.
Para piorar a situação, a Frank deu a entender com clareza na sua campanha que o celular tinha sido criado por ela, desde desenvolvimento até o design. Ou seja, eles tentaram omitir o fato de que se tratava de um celular remarcado mesmo afirmando que seriam completamente honestos com os compradores. Contudo, assim que a campanha foi ao ar, internautas notaram que o dispositivo era exatamente igual a um modelo oferecido no Alibaba por uma fabricante chamada Leegoog.
Depois das acusações, o CEO da startup, admitiu que se tratava de um projeto personalizado a partir de um produto chinês disponível para compra no Alibaba. Contudo, ele se justifica dizendo que aquele celular em específico só poderia ser comprado em lotes de 3 mil ou mais unidades. Ou seja, não haveria a possibilidade de um consumidor comum colocar suas mãos naquele dispositivo não fosse pela Frank.
Por um lado, ele tem razão, mas o fato é que o celular custa US$ 180 e, por esse valor, é possível comprar smartphones de fabricantes chinesas reconhecidas, como a Xiaomi, e não correr o risco de acabar com um produto ruim nas mãos e não ter para quem reclamar.
Coisas compradas por financiamento coletivo muitas vezes não são cobertas por garantia, pois são tratadas como “prêmios” ou “recompensas” para os que ajudaram no financiamento. Muitas vezes, as pessoas nunca recebem seus produtos e ainda perdem seu dinheiro.
De qualquer maneira, o que a Frank fez não é tão diferente do que fazem muitas outras startups que financiam seus projetos coletivamente. Elas normalmente pegam alguma ideia de produto já disponível no Alibaba para compra em lote e colocam a ideia para funcionar dentro de outro design, talvez mais amigável para o ocidente. Não há pesquisa e desenvolvimento de fato. Por isso, dispositivos como o Frank acabam sendo tão baratos.
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