Nem todo filme sobre um crime precisa ser carregado por um bom mistério. Em alguns casos, um bom roteiro, direção ou uma boa montagem são capazes de construir histórias instigantes, apresentando ao público quem cometeu o crime, suas motivações entre outros detalhes, mas reservando para a conclusão algum detalhe que justificará ao público a espera.
Às vezes, nenhum dos elementos centrais da história (roteiro, direção e edição) consegue se mostrar interessante — nem manter a solução do crime para os segundos finais — e prender a atenção das pessoas que se propuseram a assistir ao filme. O Limite da Traição é um desses casos. Mas será que, apesar de todos os problemas, ainda vale a pena assisti-lo?
Onde a Netflix errou?
Crystal Fox, Walter Fauntleroy, Bresha Webb, Donovan Christie Jr. e Matthew Law em 'O Limite da Traição'.Fonte: IMDb
Antes de entender se vale ou não a pena, é importante entender o que faz do novo filme da Netflix, dirigido, roteirizado e coestrelado por Tyler Perry, tão problemático. Na trama, Jasmine Bryant (Bresha Webb) é uma jovem advogada que fica responsável pelo, aparentemente, simples caso de Grace Waters (Crystal Fox), uma mulher acusada de assassinar o marido. Embora Grace assuma a responsabilidade do crime, conforme Jasmine começa a fazer uma investigação por conta própria, percebe que nem tudo é o que parece.
Perry contou com apenas cinco dias de produção para trabalhar no seu filme, e isso é facilmente sentido aqui. A pressa que o diretor teve para concluir seu projeto, foi transferida para a história (e todo o fã de filmes de mistério sabe que pressa é um terrível inimigo do gênero), deixando todo o suspense sem qualquer tipo de graça. O sentimento é que a sensação de angústia, tão importante para um longa como este, nunca atinge o seu ápice. Tudo é muito rápido, da apresentação da trama à conclusão, fazendo com que o conflito principal seja simplesmente mal desenvolvido. Isso se torna um pouco pior, quando os flashbacks começam a se tornar mais frequentes.
Com isso, o que poderiam ser pequenas e elegantes pistas, se tornam evidências cada vez mais fortes do crime, deixando o filme cada vez mais óbvio com o tempo. Apesar disso, é notável a dedicação do elenco principal na tentativa de entregar a melhor atuação possível. Se não funciona em todos os casos, as boas atuações podem ser a motivação que uma parte do público precisa para seguir a história até a sua conclusão.
E entre erros e acertos, o diretor tenta oferecer nas sequências finais algumas reviravoltas, que entreguem ao público algum tipo de recompensa por chegar até ali. Naturalmente, nem todas vão surpreender o espectador mais atento, mas funcionam dentro do que Perry se propõe a entregar. Considerando que ele contou com apenas cinco dias para entregar o filme, talvez seja um feito digno de reconhecimento. Ou talvez sirva apenas de lição para a Netflix: boas histórias de mistério não podem ser feitas às pressas.
Vale a pena?
Não são raros os filmes da Netflix que apelam para algum tipo de exposição simples e pouco trabalhada. Normalmente oscilando entre cenas de ação megalomaníacas e cenas picantes, a gigante do streaming sabe que esse tipo de sequência costuma funcionar o suficiente para manter o público prestando atenção durante a duração do filme. Talvez, o que tenha faltado em O Limite da Traição, foi ter encontrado a mesma fórmula para o suspense. Pensar em como o público poderia se manter interessado por duas horas de um suspense simples.
Certamente, O Limite da Traição não é nem um filme espetacular, nem mesmo memorável. Porém, ignorando todos os seus problemas, ele pode ser uma distração para quem não está procurando por algo muito complexo. Talvez seja uma boa opção para um domingo chuvoso, quando você não tem muita concentração para uma série como Dark, ou para encerrar um dia cansativo, quando você está procurando um filme que vai te ajudar a dormir.
Você já assistiu ao filme? Conte para a gente o que achou.
Categorias