O vício em redes sociais não é um tema novo. Ao contrário, especialistas discutem o tema e alertam para os riscos de estarmos o tempo todo conectados há pelo menos uma década. Apesar disso, a situação parece estar apenas se intensificando. E o que é pior, cada vez mais temos bons motivos para acreditar que esse problema é estimulado pelas próprias big techs.
Mas como isso acontece? Responder esta pergunta é um dos objetivos de O Dilema das Redes. Dirigido por Jeff Orlowski, o documentário da Netflix expõe, a partir de entrevistas com ex-funcionários e executivos de empresas como Facebook, Google e Twitter, as abordagens utilizadas para estimular os usuários a se manterem conectados por mais tempo.
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Jeff Orlowski, diretor do documentário.Fonte: IMDb
Para podermos postar fotos no Instagram sem pagar por isso, é necessário que as empresas tenham algum tipo de lucro. E a maneira como isso acontece na maioria das redes sociais é através de anúncios. Para que o Facebook tenha algum lucro para cada um de seus usuários cadastrados, eles devem se manter conectados, recebendo anúncios, que mantêm as big techs.
Esse bombardeio de anúncios considera uma série de fatores, que o documentário explica, utilizando vários exemplos. Em um primeiro momento, pode parecer uma troca inocente, ou sem perigos, mas ela pode estar associada a problemas psicológicos. Orlowski aborda esta questão e enfatiza como existem diversas técnicas adotadas para garantir que os usuários não saiam de suas contas, mesmo quando não há nenhuma informação nova.
Sorria, seus dados estão sendo armazenados
Quem assistiu a terceira temporada de Westworld deve se lembrar de como os episódios abordavam a capacidade de prever certos comportamentos sociais. Embora essa ficção seja usada de uma maneira ainda distante da nossa realidade, o seu conceito é mais real do que poderíamos (ou gostaríamos de) imaginar.
Quem explica como isso acontece é o Jeff Seibert, que trabalhou no Twitter e relata no documentário como a plataforma utiliza algoritmos e inteligência artificial, para avaliar o que nós escrevemos, quais fotos curtimos, quanto tempo ficamos diante de um tweet, entre outras ações. Tudo o que acontece ali é cuidadosamente monitorado, armazenado e avaliado, para que possa ser utilizado para nos entregar determinados conteúdos que nos mantenham por mais tempo conectados, ou nos entregue o “tipo certo” de anúncio.
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Dilema das Redes.Fonte: IMDb
A ansiedade para que estejamos por dentro de tudo o que acontece é outro recurso exposto por Orlowski. Existem técnicas apresentadas que mostram como as empresas nos estimulam a consumir cada vez mais conteúdo. A ideia é convencer que há sempre uma informação nova, e que nós precisamos dela.
A psicologia chama isso de “reforço positivo intermitente”. Nesta condição, apenas alguns tipos de respostas são reforçadas, garantindo que os usuários sejam “recompensados” a cada “novidade”. Com o tempo, isso pode causar vício em redes sociais, fazendo com que a pessoa não consiga realizar ações simples, que dependam de concentração, por exemplo.
Presos na bolha
Outra técnica apresentada no documentário é transformar o feed dos usuários em uma realidade que reforce ou confirme suas próprias crenças. Além disso, o conteúdo exibido deve ser sempre do agrado do usuário. Essa “bolha” na qual as pessoas são presas nas redes sociais, costumam oferecer algum tipo de satisfação individual.
Mas qual seria o problema disso? Um dos argumentos levantados é o risco às democracias. Com as pessoas cada vez menos interessadas em consumir conteúdo que seja divergente das suas próprias opiniões, existe uma tendência a nos tornarmos mais intolerantes e suscetíveis a teorias da conspiração, como acontece com as pessoas que se recusam a tomar vacina, por exemplo.
O Dilema das Redes mostra o lado obscuro de empresa de tecnologia, que lucram com o nosso acesso. É irônico que, algumas das técnicas adotadas por essas empresas, também são utilizadas pela própria Netflix, para estimular o consumo de suas séries, por exemplo. Apesar disso, é importante estarmos cientes dos riscos que o consumo excessivo pode causar.
E, para quem tiver interesse em assistir ao documentário, ele está disponível na Netflix.
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