Oxigênio, o ótimo filme do diretor francês Alexandre Aja que estreou na Netflix na semana passada (12). A obra transcorre inteiramente em uma câmara de criogenia e, nela, uma mulher chamada Liz Hansen (Mélanie Laurent) acorda por acidente e tem que aprender a lidar com a inteligência artificial MILO para solucionar o problema da queda de oxigênio no claustrofóbico ambiente.
De cara, Liz tem que enfrentar uma questão que é das mais delicadas quando se fala em criogenia na vida real: a memória. A mulher não se lembra, a princípio, nem do seu nome, tampouco como chegou àquela câmara. No roteiro cheio de reviravoltas, muitas vezes a memória, que chega em flashes, confunde-se com alucinações assustadoras.
Em entrevista, o médico fundador do Centro de Criogenia Brasil (CCB), Carlos Alexandre Ayoub, explica a grande questão: "a memória se apaga 15 minutos depois que para a circulação; ela 'zera'". Por ser um sistema elétrico que se movimenta o tempo todo em nosso cérebro, quando essas ondas param de funcionar, a memória simplesmente desaparece.
Pandemia e criogenia
Fonte: Netflix/DivulgaçãoFonte: Netflix
Embora não cite especificamente um paralelo entre a covid-19 e a necessidade de manter corpos conservados, o filme da Netflix aborda a criogenia de humanos, conhecida cientificamente como crônica, para solucionar o destino da raça humana, que está sendo igualmente dizimada por uma pandemia.
Muitas lembranças de Elizabeth Hansen, que se descobre uma criobióloga, são baseadas em fatos. Hoje, a criogenia permite refrigerar corpos até uma temperatura de -196 ºC para interromper o processo de deterioração e envelhecimento. A ideia é manter os corpos nas mesmas condições durante vários anos, para serem reanimados no futuro, o que faz todo sentido no filme.
A criogenia é feita hoje em três laboratórios do mundo: o Cryonics Institute, o Alcor Life Extension Foundation, ambos nos Estados Unidos, e o KrioRus, na Rússia. Disponível para qualquer pessoa após a morte, a tecnologia tem sido utilizada principalmente em pacientes em fase terminal de doenças graves, como o câncer, na esperança de serem reanimados quando a cura da doença for descoberta.
O que é criogenia?
Fonte: Netflix/DivulgaçãoFonte: Netflix
Apesar de envolver temperaturas extremamente frias, a criogenia nada tem a ver com congelamento. Ela é na verdade um processo de vitrificação para manter todos os fluidos corporais em um estado intermediário, nem sólido nem líquido, semelhante ao vidro, mas sem formar cristais que poderiam perfurar as células.
Para chegar a esse estado, existem algumas regras reais a serem seguidas. Veja o passo a passo:
- Fazer suplementação com antioxidantes e vitaminas durante a fase terminal da doença, para diminuir as lesões nos órgãos vitais.
- Manter o corpo resfriado após a morte, especialmente o cérebro.
- Injetar anticoagulantes para impedir o congelamento do sangue.
- Durante o transporte do corpo ao laboratório de criogenia, manter a circulação sanguínea por meio de compressões torácicas ou máquina para manter os batimentos cardíacos, a fim de não interromper a oxigenação corporal.
- No laboratório, substituir todo o sangue por um líquido crioprotetor, o M-22, à base de glicerina, que impede a formação de cristais de gelo.
- Guardar o corpo, de ponta a cabeça, dentro de um recipiente hermeticamente fechado, e reduzir lentamente a temperatura até atingir os -196 ºC.
O processo literalmente mais vital na criogenia é a reanimação dos corpos. No filme, esse método é controlado de uma forma muito criativa, principalmente para garantir o frescor dos tecidos. Porém, na vida real ainda não é possível reavivar pessoas.
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