O cinema hollywoodiano atravessa um momento ambíguo para seus filmes. Ao mesmo tempo que as produções parecem estar mais caras, elas precisam ser cada vez mais lucrativas. Para que isso aconteça, é necessário investir mais dinheiro ainda na divulgação; mas quanto um filme precisa lucrar para que o investimento feito pelo estúdio tenha algum retorno positivo?
De modo geral, um filme deve render para o estúdio pelo menos o dobro do valor investido; ou seja, o custo da produção mais o que foi gasto em marketing tem que valer metade do que a bilheteria irá arrecadar. Na prática, a conta não é tão simples. Isso porque o estúdio não é o único a receber o lucro do filme, uma vez que a maioria das obras recebe financiamento de mais de uma produtora.
Além disso, é preciso levar em conta que os estúdios recebem cerca de 50% da bilheteria doméstica, caso seja uma grande estreia. Para a bilheteria internacional, esse valor costuma cair para 30%, mas ambos valem para a primeira semana apenas. Para que um filme continue em cartaz, normalmente o percentual que os estúdios faturam costuma reduzir gradativamente nas semanas seguintes à estreia.
Uma matemática complicada
Para demonstrar como a situação pode ser delicada, um filme que tenha custado US$ 150 milhões (produção + marketing) precisaria lucrar US$ 350 milhões na bilheteria internacional e US$ 90 milhões no mercado interno para ser considerado rentável. Isso faz com que um estúdio (através dos seus produtores) precise avaliar cuidadosamente um projeto antes de determinar qual vai ser o orçamento total de uma obra.
Um bom exemplo pode ser visto nas produções de terror. Apesar de ser tido como um gênero menor, costuma ter um público fiel nos Estados Unidos e tem como base um faturamento de US$ 20 milhões no mercado doméstico*. Por esse motivo, os estúdios costumam gastar entre US$ 2 milhões e US$ 4 milhões, sabendo que o filme irá se pagar e garantir rendimento. Nos casos em que as produções conseguem um lucro muito acima do esperado, os estúdios investem em sequências, com orçamentos maiores também, como aconteceu com A Morte Te Dá Parabéns.
Quanto ao investimento em marketing, a situação é mais complexa, uma vez que ele deve se reverter mais expressivamente em ganhos. Um filme com Dwayne Johnson, por exemplo, leva muitas pessoas ao cinema apenas pela presença do ator. Mas, para que isso aconteça, o estúdio precisa investir em uma campanha pesada de marketing para que um número grande de pessoas saiba que tal filme será lançado. Para isso, pode haver investimento em propagandas de TV, outdoors, anúncios em diferentes produtos e, em alguns casos, viagens do ator para diferentes países para divulgar o filme.
E os streamings?
O cenário para serviços como o da Netflix é bastante diferente. Isso porque o streaming não depende tanto de quantas pessoas assistem a determinado filme, mas sim do número de assinantes do serviço. Naturalmente, longas que conseguem um maior número de visualizações podem render sequências, com orçamentos maiores, mas esses dados costumam ser mais relevantes para que a empresa mantenha seus acionistas animados.
Então o que justificaria financiar um filme como O Irlandês? Nesse caso, o prestígio de nomes como Martin Scorsese, Robert De Niro e Al Pacino pode atrair novos inscritos, além de manter o catálogo da plataforma com filmes elogiados pela crítica. Soma-se a isso a variedade que a plataforma ganha, oferecendo um catálogo mais diversificado e exclusivo, o que pode ser fator decisivo para que consiga novos assinantes.
*Dados apresentados pelo The Numbers considerando a bilheteria de filmes de terror entre 2010 e 2019.
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