A fama de Andy Wachowski e Lana Wachowski não surgiu por acaso. Os diretores começaram sua carreira lá em 1999, quando tiveram a brilhante ideia de fazer a trilogia Matrix — apesar de que já haviam ingressado no cinema um pouco antes.
De lá para cá, os dois tiveram boas ideias e embarcaram em diversos projetos, mas nem todo mundo acredita que eles conseguiram manter o hype que criaram em sua obra-prima. Agora, os irmãos se unem novamente para um título ousado: O Destino de Júpiter.
Depois de uma enrolação sem fim no ano passado, com direito a troca de data de estreia, para liberar o longa-metragem, a Warner finalmente lançou, ontem, o filme nos principais cinemas de todo o Brasil. A expectativa é grande, já que o filme tem nomes como Mila Kunis, Channing Tatum, Sean Bean e Eddie Redmayne.
O enredo se resume a aventura de Jupiter Jones (Kunis), uma moça que limpava banheiros e que não tinha grandes perspectivas para o futuro. Entretanto, tudo muda quando ela conhece Caine (Tatum), um ex-caçador militar geneticamente modificado que veio do espaço. Logo, Jupiter descobre que faz parte da realeza e que ela pode alterar o equilíbrio do cosmos.
Alerta spoiler
Antes de dar continuidade à crítica, vale uma pausa para deixar bem claro que vamos abordar diversos detalhes da trama no desenvolvimento deste texto. É recomendável efetuar a leitura após ter conferido o filme, pois algumas informações aqui presentes podem prejudicar sua experiência no cinema. Nós avisamos.
Visualmente fantástico
Antes de entrar em detalhes sobre o roteiro, vamos falar do que os irmãos Wachowski sabem fazer de melhor: os visuais. Por se tratar de uma ficção, todo mundo já esperava ver uma obra recheada de boas ideias tanto no espaço quanto em solo firme. E, de fato, “O Destino de Júpiter” se apresenta de forma estonteante.
O filme começa na Terra, mas traz diversos elementos de fora para bagunçar o cenário e já deixar o ritmo eufórico nos primeiros minutos. Não demora muito para que possamos vislumbrar os efeitos do armamento alienígena e das tecnologias de locomoção que os extraterrestres trouxeram para cá. É importante ressaltar que quase tudo soa plausível e o roteiro faz questão de explicar os pormenores.
Com o desenrolar da trama, logo somos jogados em uma nave espacial junto aos protagonistas, rumo às estrelas. Fazemos uma parada em um planeta, que tem paisagens soberbas, criaturas com características ousadas (palmas para a maquiagem) e construções gigantescas que mostram como o universo lá fora é avançado.
A história nos leva posteriormente a diversas outras naves, estações espaciais e outros tantos locais que nos permitem ter uma ideia de como o espaço sideral é desenvolvido e recheado de diferentes formas de vida. A criatividade rola solta, mas não dá para dizer que tudo aqui é extremamente surpreendente. A impressão que dá é que os Wachowski queriam seguir algo na linha de Star Wars, mas não conseguiram ir muito além de criaturas genéricas.
Há alguns “ETs” bem toscos, que são apenas humanos com cabelos bagunçados. Outros são os clássicos clichês de criaturinhas pequenas e cabeçudas. Contudo, felizmente, a diversidade de monstros é bem aproveitada nos combates. Há alguns alienígenas que dão um espetáculo de luta quando se enfrentam com Channing Tatum.
A pancada rola solta mesmo e empolga em diversos momentos. O jogo de câmera continua com a mesma pegada de outros filmes dos irmãos da Matrix, com direito a efeitos em câmera lenta, piruetas impossíveis e detalhamento da ação. Ponto para a produção!
Precisava ser tão enrolado?
Bom, por um lado, o filme acerta nos efeitos visuais e na ação, mas, por outro, ele tem alguns probleminhas em seu desenvolvimento. A história de “O Destino de Júpiter” tem seus méritos, com uma pitada de ineditismo e algumas boas sacadas para levar o público a novos cenários no universo, porém a narrativa é muito cansativa.
“O Destino de Júpiter” tenta criar uma empatia desnecessária, mostrando o drama da protagonista, com sua vida medíocre e os problemas familiares. Depois, há uma longa sequência de cenas desnecessárias para mostrar o porquê de ela ser tão especial, sendo que o motivo de toda a bronca acaba sendo explicado só no meio da trama — e possivelmente nem chega a convencer muita gente.
Até aqui, tudo bem, nem toda história é perfeita, mas o filme carece de vilões imponentes e aposta em clichês que chegam a dar desgosto. Tudo é tão óbvio, com diálogos tão sem sal e piadinhas pouco inteligentes que fazem a plateia pensar que este é um filme bem genérico de ficção.
As atuações, como um todo, acabam decepcionando um bocado. Mila Kunis não consegue convencer que é da realeza, aceita tudo de forma tão fácil, não faz caretas, não se mostra preocupada, não demonstra sentimentos. Uma verdadeira decepção. Ela é mais um rostinho bonito, do que uma presença importante capaz de captar a atenção da plateia.
Os vilões de “O Destino de Júpiter” também não se mostram donos do universo. Com expressões caricatas e pouco jogo de cintura, o público não parece se sentir oprimido pela presença dos inimigos. O que vemos de qualidade por parte de Eddie Redmayne em “A Teoria de Tudo” acaba faltando aqui. O ator parece ter incorporado tanto Stephen Hawking, que não conseguiu sair do papel. Ver o mesmo personagem aqui é bem estranho.
Se a protagonista e alguns secundários não ajudam muito, Channing Tatum, por outro lado, se sai melhor do que o esperado. Ele se esforça para fazer o filme acontecer e tem mais presença nos diálogos. Não adianta pensar também que ele é o suprassumo da atuação, pois o roteiro acaba não favorecendo seu personagem e o ator tem que seguir suas falas.
No fim, o novo filme dos Wachowski é mais bonito do que bom, mas efeitos caprichados não são capazes de sustentar uma história mal contada. Ainda bem que não vai ter continuação. Agora, os diretores devem repensar e tentar criar uma obra que sirva de referência posterior — porque será difícil levar os dizeres “dos mesmos criadores de Matrix” em outros títulos por muito mais tempo.
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