A Endless nasceu em 2012 com um único objetivo: permitir que indivíduos em países em desenvolvimento tenham acesso a um computador. A ideia surgiu da cabeça de Matt Dalio, CEO e fundador da companhia, durante uma viagem para a Índia. O executivo descobriu que a maioria dos cidadãos possuíam um televisor, mas não tinham dinheiro suficiente para comprar um PC.
“Eu olhei para meu smartphone e percebi que ali estava um computador completo”, explica Matt, no vídeo institucional da companhia. Foi então que o empreendedor resolveu usar o processador de um celular – produto cada vez mais comum e barato – para desenvolver um desktop acessível focando nos mercados emergentes. Afinal, estima-se que pelo menos 4,4 bilhões de pessoas ao redor do planeta não têm um computador.
Mas havia ainda um segundo problema a ser resolvido: a falta de conectividade. Muitas regiões do mundo ainda não dispõem de uma infraestrutura de internet banda larga. Com isso em mente, a equipe de Matt projetou o Endless OS, um sistema operacional próprio baseado em Linux que acompanha mais de 100 apps que podem ser usados offline (incluindo games, softwares de produtividade, materiais de educação etc.).
O mais bacana é que todo o processo de desenvolvimento – tanto do hardware quanto do software – teve como base pesquisas feitas em comunidades carentes, incluindo a favela da Rocinha e o Complexo do Alemão, ambos no Rio de Janeiro. Foram três anos de muito estudo e testes para garantir que o produto final agradasse o perfil de consumidor proposto: indivíduos com baixo poder aquisitivo, que querem usar um computador para trabalhar, estudar e se divertir.
Obstáculos e oportunidades
Hoje em dia, a empresa conta com dois gadgets no seu portfólio: o Endless, que é mais robusto e equipado com um processador Intel Celeron, e o Endless Mini, que custa apenas US$ 79 (ou US$ 99, na versão mais completa) e sai de fábrica com um chipset Amlogic 5805. São quatro núcleos ARM Cortex 5 trabalhando a 1,50 GHz e uma GPU Mali-450. Recentemente, a startup anunciou que trará este segundo modelo para o Brasil por R$ 699.
A realidade é que, infelizmente, a carga tributária faz com que o preço do Endless no Brasil seja o mais caro
Espera, R$ 699? Sim, é um valor bem mais alto do que o preço praticado lá fora, fazendo com que o produto desvie um pouco da ideia de PC acessível. “A realidade é que, infelizmente, a carga tributária faz com que o preço do Endless no Brasil seja mais alto do que nos outros países onde atuamos”, explica Roberta Antunes, diretora-geral da marca para o nosso país. A executiva conversou com o TecMundo sobre a chegada da empresa a terras tupiniquins.
Um dos principais destaques do Endless Mini é que ele pode ser ligado a um televisor de tubo convencional através de um cabo de vídeo composto – o consumidor não precisa gastar com um monitor com HDMI ou VGA. Basta conectar um mouse, um teclado e usar à vontade. A internet pode ser obtida via WiFi ou cabo ethernet, mas, novamente, não é obrigatório estar conectado à web para usar o computador.
“Apesar da queda nas vendas de computador, a fatia de novos entrantes, ou seja, de quem está adquirindo um computador pela primeira vez, é de mais de 20%”, afirma Roberta, questionada se já não é tarde demais para investir em um desktop diante do aumento vertiginoso no mercado de dispositivos móveis. “Ou seja, um percentual grande das vendas vai para quem nunca tinha tido a chance de comprar um computador antes”, afirma Roberta.
O Endless pode ser conectado até mesmo a uma TV de tubo
Planos para o futuro
Além de atuar no Brasil, a Endless já está também nos Estados Unidos, no México e na Guatemala (em parceria com a operadora Claro). O próximo passo é atingir a China, e, posteriormente, pensar em uma expansão global. Além de comercializar o computador em si, a companhia quer oferecer o Endless OS em máquinas de outras manufaturadoras – a ASUS, por exemplo, começará a vender máquinas com o sistema em um futuro próximo.
A versão do Mini que chegará no Brasil possui 2 GB de memória RAM, 32 GB de armazenamento interno, três portas USB, entrada ethernet, conexão para fones de ouvido, uma saída HDMI, uma saída de vídeo composto, receptor de sinal WiFi e um módulo Bluetooth 4.0 – acessórios como mouse e teclado precisam ser adquiridos separadamente. Confira abaixo a entrevista completa que fizemos com Roberta Antunes a respeito da chegada da marca ao Brasil.
Dispositivos foram projetados com base nas necessidades do mercado emergente
TecMundo: O mercado de desktops vem caindo vertiginosamente, enquanto o setor de smartphones apresenta um crescimento estável (mesmo com o cenário econômico conturbado do Brasil). Olhando para esse fato, como vocês acreditam que o Endless possa realmente emplacar no mercado e ter uma boa aceitação do público?
Roberta Antunes: A Endless enxerga o computador como uma importante ferramenta de trabalho, de produtividade e de educação. A grande maioria das pessoas no mundo gostaria de ter um computador. Os dois motivos pelos quais elas não têm são: preço e conectividade.
A Endless foi criada com a proposta de resolver esses dois problemas e, com isso, abrir um mercado de 3 bilhões de pessoas. Apesar da queda nas vendas de computador, a fatia de novos entrantes, ou seja, de quem está adquirindo equipamento do tipo pela primeira vez, é de mais de 20%. Ou seja, um percentual grande das vendas vai para quem nunca tinha tido a chance de comprar um computador antes.
Um dos modelos da companhia chegará ao Brasil por R$ 699
TecMundo: A ideia por trás do projeto é oferecer um hardware acessível para todas as classes sociais. Porém, de US$ 99, o Endless Mini está chegando ao Brasil por R$ 699, um valor um pouco alto para pessoas de baixa renda e muito superior ao preço que teríamos em uma conversão direta. Sabemos que nosso país tem muitos encargos tributários, mas que razões fizeram com que o produto chegasse com um preço tão superior?
Roberta: Adoraríamos chegar com o preço de US$ 100. Esse preço de R$ 699 é resultado de câmbio e impostos de importação. Recentemente, caíram benefícios da Lei do Bem, e o custo de eletrônicos no país subiu muito. A realidade é que, infelizmente, a carga tributária faz com que o preço do Endless no Brasil seja mais alto do que nos outros países onde atuamos. Queremos de fato fazer um computador para todos.
O Endless OS é intuitivo e tem uma variedade enorme de apps offline
TecMundo: Vocês prometem fabricar o Endless Mini aqui no Brasil em um futuro próximo. Isso pode diminuir o valor final do computador para o consumidor?
Roberta: Temos conversas com os principais fabricantes de hardware para viabilizar a nacionalização da produção e, com isso, tentar baixar o preço para o consumidor final. Vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para reduzir o preço, mas o cenário com o câmbio não ajuda.
TecMundo: Como se dará a venda do Endless Mini aqui no Brasil? Ele será comercializado somente pelo site oficial da marca ou também estará disponível em varejistas, revendedores, pontos de venda físicos etc.? Vocês venderão o aparelho no atacado também para escolas ou somente para o consumidor final?
Roberta: Vamos começar as vendas por meio de uma parceria com um grande varejista, cujo nome vamos anunciar no momento oportuno. Estamos abertos a oportunidades de venda sob demanda no atacado. Além disso, o Endless OS estará presente em máquinas da ASUS vendidas no Brasil.
TecMundo: Haverá algum investimento em marketing aqui no Brasil para divulgar o Endless para seu público-alvo?
Roberta: A Endless pretende manter o engajamento com os usuários através de mídias sociais e se aproximar de escolas e grupos que incentivam a educação.
O computador pode ser usado para fins educacionais e profissionais
TecMundo: É possível que a Endless, no futuro, firme uma parceria com o governo brasileiro ou prefeituras para distribuir o Mini dentro de instituições de ensino ou programas de incentivo à inclusão digital, como os telecentros? Vocês planejam fazer algo nessa linha?
Roberta: O Endless OS é um sistema muito intuitivo, desenvolvido a partir de estudos com usuários que nunca tinham tido contato com um computador antes. A navegação é muito iconográfica e visual, bastante próxima da do celular, o que facilita o aprendizado, reduz os custos de treinamento e estimula a exploração de novos recursos, tornando o computador perfeito para a sala de aula.
O conteúdo incluso no computador é rico em recursos para a educação, como a Enciclopédia, videoaulas da Khan Academy, jogos de matemática, entre outros. Isso permite que escolas localizadas em áreas remotas e sem internet tenham acesso à informação. Certamente, temos interesse em contribuir para a educação no Brasil, porém ainda não temos nada fechado nesse sentido que possamos falar neste momento.
TecMundo: Um dos principais pontos do Endless Mini é seu sistema operacional próprio, baseado em Linux, que permite ao usuário acessar vários conteúdos mesmo sem internet. Vocês temem que o consumidor apresente estranhamento a esse sistema operacional, já que estamos "condicionados" a relacionar desktops com o sistema Windows?
Roberta: Como disse anteriormente, nosso sistema é muito intuitivo e fácil de usar. Ele é resultado de quase três anos de pesquisas de campo e de conversas com usuários. A linguagem visual, com apps na tela central, como nos smartphones, é mais intuitiva e possivelmente mais familiar para nossos clientes potenciais do que a linguagem do outro sistema.
Além disso, o Endless foi desenhado de forma a permitir uma melhor usabilidade mesmo sem internet ou com um sinal fraco, o que torna a experiência de navegação mais ágil e agradável se comparada à de uma máquina bem mais potente combinada com uma internet ruim.
TecMundo: Em quantos países a Endless já atua? Vocês planejam expandir para mais territórios?
Roberta: Atualmente, os computadores Endless estão à venda na Guatemala (por meio de quiosques próprios, em lojas da Claro e pelo nosso site), nos EUA e no México (pela internet). Os próximos países são Brasil e China. Depois disso, planejamos uma expansão global.
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