Que tal a aparência da recepção do escritório do Buscapé, em São Paulo? (Fonte da imagem: Reprodução/Tecmundo)
Prestes a completar 15 anos, o Buscapé continua sendo líder quando o assunto é comparação de preços na internet. Desde que começou a ser desenvolvido, em 1998, a empresa lançou inúmeros produtos e se adaptou às novas demandas da internet; por exemplo, aumentando a presença em plataformas móveis.
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Na última quinta-feira (21), o Tecmundo visitou a sede da companhia, em São Paulo, e aproveitou para bater um papo com o vice-presidente de comparação de preços do Buscapé, Rodrigo Borer, que contou um pouco sobre a situação atual da empresa, a aquisição do site Bondfaro e planos do Buscapé para o futuro.
Qual é a situação atual do Buscapé e como ele se posiciona em relação à concorrência?
O Buscapé existe há muito tempo no Brasil. Nós começamos a operar em 1999, sendo que os fundadores tiveram a ideia em 98, quando se reuniram e começaram a desenvolver o site “na garagem”. Nessa época, quase não tinha e-commerce no Brasil e, então, o site acompanhou o crescimento dessa atividade no país. Hoje, o Buscapé é visto pelo consumidor como uma referência. Felizmente — não por sorte, mas por trabalho, evidentemente —, nós somos o ponto de partida para quem precisa comprar alguma coisa pela internet.
Essa posição, que começou em 99, foi carregada ao longo do tempo e continuamos sendo líder até hoje. E a liderança mais importante para nós é no mindset do consumidor, ou seja, quando questionado sobre onde comprar uma geladeira, por exemplo, o consumidor já sugere que a pessoa entre no Buscapé para encontrar o produto.
Rodrigo Borer, vice-presidente de Comparação de Preços do Buscapé (Fonte da imagem: Reprodução/Tecmundo)
Em 2006, nós compramos o Bondfaro, outro site que estava presente na internet brasileira e que focava também na comparação de preços. A diferença entre os sites é o foco: no Buscapé você encontra até anões de jardim, por exemplo. No Bondfaro não, pois o site está focado em determinadas categorias e nas principais lojas do mercado, que são definidas pelas pesquisas da e-bit.
Como funciona a e-bit e a avaliação das lojas?
A e-bit é uma empresa que compramos em 2007, que é referência de inteligência no mercado de e-commerce hoje no Brasil. Ela possui uma rede de 4,5 mil lojas afiliadas que disponibilizam, ao final de uma compra, um link para saber como foi a experiência do consumidor durante o processo, desde a escolha dos produtos até o pagamento.
Com isso, a empresa coleta cerca de 200 mil respostas dessa pesquisa por mês, que revelam dados como hábito de consumo e satisfação do cliente. A e-bit coleta essa massa de dados e gera um monte de informações de mercado. Algumas dessas informações são divulgadas gratuitamente, por meio do WebShoppers, um relatório semestral que faz um panorama do e-commerce brasileiro, enquanto outras são vendidas para os próprios varejistas e fabricantes, já que são informações mais detalhadas.
Então, por causa do e-bit, a gente conhece exatamente quem são os maiores players do mercado, as lojas mais bem avaliadas, e assim podemos decidir quais delas entram no Bondfaro.
(Fonte da imagem: Reprodução/Tecmundo)
Aproveitando o assunto sobre as lojas, a internet brasileira está repleta de lojas com reputações muito discutíveis. Muitas delas agem de má fé e ludibriam consumidores com a promessa de iPhones por menos de mil reais, por exemplo. Como o Buscapé consegue filtrar esse tipo de comércio?
Bom, para começar, nós já aprendemos que ninguém faz um golpe desses para vender pão de mel ou anões de jardim. Esses casos usam produtos mais chamativos, como smartphones, produtos de informática, eletrônicos ou eletrodomésticos de alto valor. Assim, ao longo do tempo nós aprendemos quais são essas categorias e, a partir disso, sempre que uma nova loja nova quer cadastrar produtos nessas categorias, nós colocamos uma etapa a mais de verificação no cadastro.
Quer aparecer no Buscapé? Não tem problema: envie o cartão do CNPJ, a Inscrição Estadual etc. Nós também investigamos o histórico dos sócios dessas empresas, para ver se está tudo limpo com eles. Se encontrarmos algum problema, tiramos a loja do Buscapé e explicamos a situação.
Porém, pode acontecer de a loja ser aprovada, passando nessa etapa por algum descuido ou simplesmente por ser uma empresa nova, que não possui pendências. Nesse caso, se a loja for uma fraude, nós banimos a loja de vez: o nome dela vai para uma lista, que pode, inclusive, ser consultada online. Enquanto isso, o CPF dos picaretas fica para consulta interna do Buscapé, pois eles costumam fechar lojas e abrir novas, repetindo o mesmo golpe.
Além disso, há outro recurso: cada vez que o consumidor entra no Buscapé e escolhe a oferta de uma loja nova e desconhecida, nós o avisamos sobre a situação daquela empresa. Quando ele clica na oferta, o Buscapé exibe uma página de alerta antes de redirecioná-lo, explicando que não temos dados e nem avaliações suficientes daquela loja e, assim, ele pode decidir sozinho se deve ou não continuar com o processo de compra.
Funcionários podem relaxar em uma das redes espalhadas na "varanda" do escritório (Fonte da imagem: Reprodução/Tecmundo)
No início deste ano vocês lançaram dois recursos novos, que são o cálculo de frete e a possibilidade de realizar a compra pelo Buscapé, sem a necessidade de ser redirecionado para a loja. Como surgiu essa demanda e como tem sido a aceitação dessas funcionalidades?
A necessidade desses recursos surgiu da seguinte maneira: nós percebemos que muitas compras não eram finalizadas quando o consumidor saía do Buscapé e passava para o site da loja. Isso se dava por diversas razões: a descrição do produto não estava clara o suficiente, o cliente via o prazo de entrega ou custo de frete e se decepcionava, a plataforma de compra era ruim etc.
Além disso, sempre ouvíamos dos usuários mais próximos frases como “ontem eu comprei uma câmera no Buscapé”. E por mais que explicássemos que nós não estávamos vendendo o produto em si, a impressão era sempre de que o responsável pela venda era o Buscapé.
Outro ponto que nos levou à inclusão dessas funcionalidades também foi o aumento de navegação na internet pelo celular, demanda que muitas lojas online não estão preparadas para atender. Então, se o usuário acha que está comprando no Buscapé e existem muitas lojas que perdem vendas, por que não ajudar essas empresas a concluírem esses processos com sucesso?
Assim, uma das primeiras medidas nossas foi desenvolver um aplicativo para smartphone em que, sem sair de sua interface, o cliente fosse capaz de finalizar a compra. A venda, entretanto, continua sendo finalizada pela loja: o Buscapé apenas intermedeia a transação. Depois, nós portamos essa função do aplicativo para o site, possibilitando que o usuário escolha se deseja comprar por ele ou ser direcionado para a loja.
Está estressado? Distraia praticando arremessos! (Fonte da imagem: Reprodução/Tecmundo)
A aceitação tem sido boa. O cliente adora isso e a loja também, pois aumenta as vendas dela. Na internet, quanto mais passos tiver o processo de compra, pior. Por isso, nós estamos encurtando esse processo. Se os dados do usuário estiverem cadastrados no site, a compra pode ser feita com um clique.
E o Bcash?
O Bcash surgiu com a compra de uma empresa do interior de São Paulo, a Pagamento Digital, em janeiro de 2008, com o objetivo de preencher uma lacuna que existia no mercado brasileiro. Depois, compramos uma empresa colombiana e outra argentina que fazem exatamente o mesmo tipo de negócio e, assim, nos tornamos um player nesse segmento da transação.
Esse tipo de serviço pode ser útil, principalmente, para pequenos varejistas, que não conseguem um contrato com a Visa, por exemplo, ou que não podem bancar taxas e parcelamentos de produtos. Então, nós podemos fazer essa “ponte” e aproveitar essa oportunidade.
Para o consumidor, o Bcash fornece mais segurança para que a compra seja feita com perfeição, mediando o negócio entre cliente e pequeno varejista. Caso o vendedor não entregue o produto que prometeu, por exemplo, o Bcash tenta solucionar a situação da melhor maneira possível.
Quantas lojas estão cadastradas no Buscapé?
São 60 mil lojas. Se somar os prestadores de serviço (chaveiros, restaurantes etc.), o número passa para 600 mil.
Tênis de mesa é uma das atividades disponíveis para os funcionários do Buscapé (Fonte da imagem: Reprodução/Tecmundo)
Existem muitas lojas internacionais que começam a fazer sucesso no Brasil, em especial algumas chinesas. Como vocês veem o crescimento dessas lojas no Brasil? Há a possibilidade de o Buscapé vir a comparar preços com lojas internacionais?
Nós já tivemos esse tipo de comparação, mas percebemos que existe um descompasso muito grande entre a expectativa do consumidor e a entrega do produto. A maior parte dessas lojas trabalha com o que a gente chama de drop shipping, ou seja, ela não tem o produto em estoque: após receber o pedido, ela importa da China e então entrega.
Mas o prazo de entrega é longo e às vezes demora dois meses para o produto chegar. Eu sei disso e você também. Nós não ficamos nervosos com essa demora, mas 95% dos usuários ficam e, quando eles se irritam, eles vêm bater na porta do Buscapé para cobrar essa demora. Por isso, a gente não colocar esse tipo de loja no Buscapé.
Mas mesmo assim, temos exceções, como algumas lojas no Buscapé que praticam drop shipping e que provaram, com o nível de satisfação dos consumidores, que são capazes de entregar os produtos dentro da expectativa dos clientes, como lojas brasileiras que fazem esse tipo de importação. Além disso, temos livros da Amazon no Buscapé, por exemplo, principalmente porque esse é um produto sem imposto e que não exige cálculos complexos para entregar o preço final para o usuário.
No futuro, à medida que o consumidor se sofisticar e passar a entender que o drop shipping é outra modalidade de compra online, não vejo por que não colocar essas lojas no Buscapé também.
Quais são os planos do Buscapé para 2013?
Para a empresa como um todo, os planos são aprimorar os produtos e serviços que a gente tem e implantar — via desenvolvimento próprio ou via aquisição — outros produtos e serviços ligados à cadeia de valor do e-commerce, sempre sem a intenção de se tornar varejista. Se existirem novas oportunidades em alguma etapa da cadeia de e-commerce, o Buscapé está interessado.
A área de lazer do Buscapé também conta com pebolim e air hockey (Fonte da imagem: Reprodução/Tecmundo)
Não é à toa, por exemplo, que um tempo atrás nós adquirimos três empresas que fazem behavioral targeting, ajudando o varejista a melhorar a conversão em vendas da loja dele. Uma das soluções ofertadas por eles, por exemplo, é a de recuperação de carrinho, com tecnologia que detecta a atividade de um usuário que iniciou uma compra, mas não concluiu. Quer dizer, depois de um tempo, o sistema pode entrar em contato com o cliente, perguntando se ele não quer reconsiderar aquela desistência.
Outra direção estratégica seria expandir verticalmente, ou seja, ser melhor naquilo que a gente faz. Hoje o Buscapé é seguro, eficiente e possui um layout bom, mas não funciona bem em tablets. Então uma das metas para o futuro próximo é otimizar o site para tablets. Mas esse é um dos exemplos, pois estamos em constante busca de aperfeiçoamento dos nossos serviços.
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