Alguns setores da tecnologia evoluem tão rápido que, às vezes, parece que já estamos vivendo no futuro – ou, pelo menos, em uma mistura de presente com elementos de ficção científica. O destaque da vez fica por conta de um projeto desenvolvido por cientistas e biomédicos do Massachusetts General Hospital, que conseguiram criar em laboratório uma pata de rato praticamente completa. Assim, teoricamente, a equipe pode estar próxima de conseguir substituir membros perdidos em acidentes, por exemplo, por cópias feitas com as próprias celulas do paciente ou vítima.
Diferentemente de outros estudos do tipo, que buscam criar tecidos e estruturas biológicas praticamente do zero, a operação chefiada por Harold Ott, especialista em regeneração de órgãos, se apoia em uma técnica chamada decel – ou descelularização. Usado por quem trabalha no ramo da bioengenharia de tecidos, o processo é utilizado para desenvolver pulmões, rins e até corações dentro dos recipientes conhecidos como placas de Petri. Para criar essas maravilhas, é preciso que haja um material original do mesmo tipo, geralmente fruto de doadores que já faleceram.
Foto: B.J. Jank.
Parece complicado – e, com certeza, não é o tipo de coisa que se faz na cozinha de casa –, mas não é difícil de entender. Conforme descrito pelo site New Scientist, é como se os cientistas pegassem o membro doado e “lavassem” ele com uma solução química que o limpa completamente, retirando 100% do material genético de seu antigo dono. O que resta, então, é estrutura-base desse órgão, que, depois de devidamente preparado, se transforma em uma espécie de forma ou recipiente pronto para receber novas informações biológica de seu futuro usuário.
Como mencionado anteriormente, isso já havia sido feito com elementos mais simples do corpo de animais, mas o projeto de Harold e sua equipe acabou desenvolvendo algo bem mais complexo. Após a pata do roedor original ser descelularizada – em um processo que durou 52 horas –, os cientistas adicionaram novas celulas ao conjunto e ligaram tudo a uma máquina que mantém os tecidos biológicos vivos. Em três semanas de testes, músculos e vasos sanguíneos cresceram por todo o membro, o deixando com uma aparência bem sadia – se ignorarmos a falta de pele ou pelos.
O que esperar disso?
Não é exatamente como se, a partir disso, seres humanos feridos pudessem ter braços e pernas substituídos facilmente – como se fôssemos bonecos ou action figures –, mas é uma grande avanço no sentido de remover algumas dificuldades bastante comuns em transplantes. Um dos principais problemas nessa área, por exemplo, é o alto índice de rejeição do corpo do transplantado em relação ao novo órgão, que muitas vezes é visto pelo sistema imunológico como um invasor. Muitos dos pacientes precisam tomar remédios pela vida toda para evitar que a operação falhe.
Agora, se o membro original for usado como um simples molde, apenas para receber todo material biológico do paciente final, as chances de rejeição são baixíssimas – isso se não forem eliminadas completamente. A boa notícia é que a pata criada pelo grupo de Harold, além de ser capaz de se mexer e flexionar com impulsos elétricos, realmente provou que pode ser aceita ao ser implantada em um outro roedor, receber sangue normalmente e continuar viva.
Mesmo com o cenário favorável, talvez ainda precisemos esperar um bom tempo para ver o procedimento sendo usado em humanos ou em larga escala, visto que o nosso corpo e estrutura genética é bem mais complexa que a de ratos de laboratório. De qualquer maneira, não deixa de ser um belo salto na medicina e uma esperança para qualquer um que precise passar por uma operação do tipo, não é?
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