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A ficção científica no cinema sempre ofereceu um prato-cheio de hipóteses no ramo da bioeletrônica, principalmente nos anos 80 e 90, trazendo clássicos como “O Império Contra-ataca”, “O Exterminador do Futuro” e “Robocop” (além de uma série de outras produções menos notáveis). Entretanto, o conceito de simplesmente incluir próteses de membros e órgãos eletrônicos em um corpo humano, fazendo dele “parte máquina”, tem se tornado rudimentar comparado ao que as pesquisas mais recentes têm revelado sobre o assunto.
No futuro, a ideia de um corpo com propriedades bioeletrônicas pode estar mais ligada a um processo tecnológico em que modificações menores são feitas no corpo de uma pessoa ao longo de um período, e isto talvez se apresente de forma mais visualmente discreta do que possamos imaginar.
Parte homem, parte máquina, todo bioeletrônico
A bioeletrônica pode ser definida basicamente como o campo de pesquisa que busca estabelecer uma combinação entre elementos eletrônicos e biológicos para fins clínicos, terapêuticos ou de teste. A origem de seu estudo deu-se no fim do século XIX, com o primeiro registro de precisão do eletrocardiograma em 1895. A partir deste evento foi possível perceber o impacto que os sistemas eletrônicos poderiam causar na medicina.
No século XX, a tecnologia permitiu que esta disciplina fosse aplicada de forma mais prática, trazendo invenções como o marca-passo e as próteses robóticas. Porém, com o tempo, cientistas do ramo, pensando em impulsionar o conceito de bioeletrônica mais além, passaram a cogitar a chance de que em vez de construir dispositivos eletrônicos para ser implantados em sistemas biológicos, talvez pudesse ser mais efetivo construir dispositivos que se tornassem parte deles.
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Computadores vivos
O estudo do tema tem sido levado ao nível celular. Testes com nanochips já foram feitos no estabelecimento de conexões diretas entre células vivas e circuitos eletrônicos, assim como o desenvolvimento de protocomputadores biológicos, programados para detectar e destruir células cancerígenas, e que vêm obtendo certo êxito.
Mais recentemente, um time de cientistas liderado pelo pesquisador de Stanford Drew Endy obteve mais resultados em sua experiência com o DNA que armazena dados, construindo um sistema de transmissão de informação genética.
A capacidade de armazenar informação, transmiti-la e executar uma função de acordo com um sistema de lógica vem sendo testada através de transistores biológicos que podem realmente possibilitar no futuro a construção de um biocomputador totalmente funcional.
Tecido Ciborgue
Entretanto, a manipulação eletrônica de células não constitui propriamente a essência da bioeletrônica. Este cerne está mais próximo de invenções como o tecido híbrido carregado com nanoeletrodos desenvolvido por cientistas de Harvard, em 2012.
A tecnologia batizada de “tecido ciborgue” compõe um tecido artificial que é funcional, biocompatível e que possui fios em nanoescala em sua estrutura, permitindo o monitoramento de alterações no organismo biológico e atividade celular. O primeiro passo rumo à perfeita sinergia entre matéria biológica e eletrônica.
De acordo com o Prof. Charles Lieber, que lidera esta pesquisa, o objetivo é fundir o tecido biológico com o eletrônico de forma que se torne difícil determinar onde um começa e o outro termina. Sendo o corpo humano controlado por sinais elétricos, os fios em nanoescala funcionariam como uma espécie de nervos, conduzindo à existência de um sistema nervoso autônomo.
Sinais elétricos celulares e a cura para o câncer
É claro que, tendo em vista que estes estudos estão ainda em estágio inicial, as possibilidades de aplicação destas tecnologias ainda são apenas hipóteses. No entanto, a expectativa é que no futuro o impacto da evolução destas descobertas possa revolucionar para sempre as mais diversas áreas da medicina, como a oncologia.
O biólogo Michael Levin, da Universidade de Tufts, acredita que seja possível modificar os sinais elétricos das células, provocando novos padrões de crescimento. Em um artigo publicado pela equipe do cientista, estes sinais elétricos são associados diretamente a fatores que definem o desenvolvimento de tumores. Em outras palavras: monitorando sinais elétricos divergentes nas células, seria possível localizar um tumor antes mesmo de seu surgimento.
Na verdade, em uma projeção ainda mais ambiciosa, a manipulação destes sinais poderia também parar o câncer já em níveis avançados, criar reações em cadeia que alterariam totalmente o curso de desenvolvimento de doenças, identificar ameaças das mais diversas no organismo e até mesmo possibilitar a regeneração de membros.
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Em breve nas melhores lojas
Como dito anteriormente, a bioeletrônica do futuro, praticável e disseminada entre a população, provavelmente não virá em forma de melhoramentos agressivos à la filmes sci-fi, em propostas de trans-humanismo e substituição de membros orgânicos por próteses aperfeiçoadas. Ela virá — ou pelo menos se iniciará — com dispositivos de caráter médico, aparelhos e sensores mais sutis que monitorarão seu corpo e que com o tempo estarão disponíveis no mercado.
Alguns destes dispositivos ainda dependem de um computador para serem controlados, mas a previsão é de que em algum tempo surjam versões que operem de modo autônomo, independentes de fios ou até mesmo baterias. Quando chegarmos a este ponto, a tecnologia bioeletrônica que vêm permeando nosso imaginário há décadas através da ficção científica parecerá risivelmente ultrapassada.
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