Dois homens morrem ao usar fezes de morcego para cultivar maconha; afinal, o que houve?

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Nem sempre “inovar” no cultivo das plantas é uma boa ideia. Que digam os dois sujeitos que resolveram usar nada menos que cocô de morcego para cultivar canábis em casa.

O caso aconteceu em Nova York, e envolveu o desenvolvimento de uma infecção gravíssima provocada por fungos presentes nas fezes desse animal.

O que aconteceu?

Os dejetos do morcego podem conter fungos que causam infecções graves. (Fonte: Getty Images / Reprodução)

A história narrada aqui envolve duas pessoas: um homem de 59 anos e outro de 64 anos, habitantes de Rochester, Nova York. Os dois foram parar no hospital com sintomas graves.

O primeiro foi internado com insuficiência respiratória após apresentar vários sintomas, o que incluía dor de garganta, dificuldade para engolir e perda de peso extensa, que vinha ocorrendo já há seis semanas. Ao chegar ao hospital, os médicos solicitaram uma tomografia computadorizada do pescoço do paciente, que acabou revelando que ele tinha muco obstruindo sua caixa vocal superior e corda vocal do lado direito.

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Já o segundo paciente foi internado por ter baixos níveis de sal no sangue, o que causou inchaço no seu corpo. Seus dentes também estavam em más condições, o que tornava mais difícil para ele comer ou beber, levando à perda de peso. Para completar, ele apresentava uma tosse crônica.

Depois dos primeiros exames, o primeiro paciente recebeu um diagnóstico que apontava a um envenenamento bacteriano no sangue. Foi solicitada uma tomografia computadorizada adicional, dessa vez do tórax, que mostrou um acúmulo de fluido nos seus pulmões. Ele foi tratado com antibióticos e ventilação artificial. Por fim, novas análises encontraram traços de fungos na urina do paciente e no muco expelido pela tosse do trato respiratório.

Enquanto isso, o segundo paciente, que apresentava febre alta, também passou por uma tomografia, que revelou múltiplas lesões em seu peito e abdômen. Além disso, traços de fungos também foram detectados em sua urina.

Os homens não tinham qualquer ligação entre si. Contudo, eles foram por fim diagnosticados com a mesma doença: uma infecção pulmonar fúngica rara chamada de histoplasmose. Trata-se de um problema causado pela inalação de esporos de um fungo nocivo chamado Histoplasma capsulatum, que geralmente cresce no solo e nas fezes de pássaros e morcegos.

A condição é tida como grave, e ataca anualmente de 1 a 2 pessoas por cada 100 mil habitantes nos Estados Unidos. A maior parte das pessoas expostas ao fungo não apresenta sintomas. No entanto, ela tende a causar problemas sérios em pessoas com questões pulmonares prévias ou sistemas imunológicos enfraquecidos. Era o caso dos dois homens, já que um deles tinha enfisema.

A participação dos morcegos

O contato com as fezes dos morcegos deve ser evitado ao máximo. (Fonte: Getty Images / Reprodução)

Os dois homens receberam medicamentos antifúngicos para combater suas infecções. Infelizmente, mesmo tendo sido tratados, os dois acabaram morrendo. Mas os médicos ainda estavam intrigados para saber o que havia causado aquela situação.

Eles acabaram encontrando algo em comum entre os dois: ambos estavam usando cocô de morcego como fertilizante para cultivar canábis para uso pessoal. O primeiro sujeito havia encomendado e recebido o guano (nome técnico dado a essa substância) na internet, enquanto o outro já usava o material na sua plantação.

O guano de morcego é um fertilizante orgânico natural que se origina da mistura de excrementos de morcegos com minerais provindos das águas de infiltração no interior das cavernas onde eles vivem. Muita gente comercializa essa substância na internet como um "superalimento natural" para plantas, por ela conter muitos nutrientes, como nitrogênio, fósforo e potássio. Com a legalização da maconha recreativa em alguns estados americano, pode ter ocorrido um aumento deste comércio.

Acontece que usar guano na jardinagem pode ser algo perigoso. Quando inalado, ingerido ou manuseado, ele provoca o risco da histoplasmose, mas não apenas isso. É possível também contrair a salmonelose, doença causada pela ingestão de salmonela do guano e da urina de morcego. 

Por isso, é muito importante ter consciência do risco assumido ao mexer com guano. E isso não envolve apenas a compra do material. Quando se vive perto de áreas com a presença de morcegos, deve-se evitar o contato com qualquer tipo de resíduo dos animais.

Sempre que tiver de mexer com esse tipo de dejeto, deve-se usar máscaras e luvas. Mas, por vias das dúvidas, é sempre indicado preferir outros fertilizantes menos arriscados.

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