'Beijo' de Plutão ajudou a capturar sua maior Lua; saiba como

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Ao observarmos o céu noturno da Terra, podemos admirar o espetáculo da Lua brilhando em sua plenitude; diferente de outros planetas, nosso mundo possui apenas um satélite natural. Já em Plutão, se estivéssemos em sua superfície, seríamos surpreendidos por cinco luas orbitando o planeta anão. Inclusive, uma delas pode ter sido capturada em um evento semelhante a um ‘beijo’ cósmico.

Atualmente, os cientistas não conhecem os detalhes exatos que possibilitaram a formação da nossa Lua, mas existem algumas teorias que podem explicar por que esse satélite natural faz parte da dança orbital do nosso planeta.

A hipótese mais aceita sugere que Theia, um corpo celeste do tamanho de Marte, colidiu com a Terra durante o início da formação planetária — as evidências coletadas nos últimos anos apoiam essa teoria.

Como resultado, os fragmentos expelidos formaram um disco de detritos que, ao se aglomerarem, deram origem à Lua. Então, ela ficou ‘presa’ à nossa órbita e se tornou parte importante das estruturas que modelam o funcionamento da Terra.

No caso de Plutão, que orbita com suas luas Caronte, Nix, Hidra, Cérbero e Estige, os cientistas acreditavam que algumas dessas luas poderiam ter se formado de maneira semelhante à da Terra. Por exemplo, muitos especialistas sugeriam que Caronte, a maior e mais próxima lua do planeta anão, teria se originado por um processo parecido com o que formou a nossa Lua.

Em um novo estudo publicado na revista científica Nature Geoscience, uma equipe de cientistas da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, aponta que Caronte não se formou a partir de um impacto gigantesco, como o que ocorreu entre a Terra e Theia há bilhões de anos. 

Na verdade, sua origem foi resultado de uma colisão, mas pode ter acontecido em circunstâncias bastante diferentes do que a ciência acreditava.

“Plutão e Caronte são o maior sistema binário na população conhecida de objetos transnetunianos no Sistema Solar externo. Seu eixo orbital externo compartilhado sugere uma história evolutiva vinculada e origem da colisão... Aqui modelamos numericamente a captura colisional de Caronte por Plutão usando simulações que incluem a resistência do material”, é descrito na introdução do estudo.

O ‘beijo’ de Plutão e a lua Caronte

Segundo o novo estudo, há bilhões de anos, Plutão pode ter capturado Caronte por meio de um ‘beijo’ gelado. Mas o que significa esse ‘beijo e captura’? Bom, é apenas uma metáfora usada para descrever o processo de colisão que resultou na captura de Caronte, a maior lua de Plutão e uma de suas principais companheiras orbitais.

Segundo a cientista planetária Adeene Denton, da Universidade do Arizona, a maioria das colisões planetárias ocorre de duas formas: espalhando os materiais resultantes da explosão ou fundindo os corpos envolvidos.

Contudo, Caronte se formou de maneira totalmente diferente. Durante o chamado ‘beijo’ cósmico, os objetos colidiram, permaneceram unidos por um breve período, até que se separaram. Em seguida, Caronte ficou presa na órbita de Plutão.

Plutão foi reclassificado como planeta anão em 2006 pela União Astronômica Internacional, pois não atende a todos os critérios exigidos para ser considerado um planeta.
Plutão foi reclassificado como planeta anão em 2006 pela União Astronômica Internacional, pois não atende a todos os critérios exigidos para ser considerado um planeta. (Fonte Getty Images)

Eles se referem a uma ‘beijoca’ gelada porque Plutão e Caronte são objetos celestes extremamente frios, assim como outros corpos do Cinturão de Kuiper. Por estarem muito distantes do Sol, as temperaturas em ambos são extremamente baixas, e essa colisão, chamada de beijo, ocorre justamente nesse ambiente gelado.

Além disso, os cientistas acreditam que esse impacto, que os uniu e separou brevemente, desempenhou um papel crucial na atual forma de Plutão.

"Estamos particularmente interessados em entender como essa configuração inicial afeta a evolução geológica de Plutão. O calor do impacto e as forças de maré subsequentes podem ter desempenhado um papel crucial na formação das características que vemos na superfície de Plutão hoje", disse Denton.

Formação de Plutão e Caronte

Ao contrário do que ocorreu entre a Terra e a Lua, os dados dos cientistas indicam que Caronte e Plutão permaneceram juntos por um certo período, relativamente intactos e com as composições originais. Assim, ao se separarem, mantiveram algumas características em comum. Esses resultados foram obtidos por meio de simulações computacionais do evento.

Durante a colisão do nosso planeta e de seu satélite natural, os dois corpos se comportaram como fluidos devido às altas temperaturas e condições maleáveis de suas composições. No caso de Plutão e Caronte, os cientistas ainda não compreenderam exatamente como essa interação ocorreu.

A imagem mostra Caronte, em uma fotografia produzida a partir de dados coletados pela missão New Horizons, da NASA. Fonte: NASA / JHUAPL / SwRI
A imagem mostra Caronte, em uma fotografia produzida a partir de dados coletados pela missão New Horizons, da NASA. (Fonte: NASA / JHUAPL / SwRI)

Plutão tem um diâmetro de 2.376 quilômetros, enquanto Caronte mede 1.214 quilômetros, e os dois estão separados por uma distância de 19.500 quilômetros. Esses fatores tornam o entendimento completo do ‘beijo’ cósmico mais desafiador.

Os pesquisadores acreditam que, como o eixo orbital de Plutão está quase perfeitamente alinhado com o de sua maior lua, a colisão pode ter causado uma rotação na mesma direção. Contudo, eles ainda não conseguem explicar o motivo do tamanho e da órbita de Caronte.

“Em nossas simulações, o atrito distribui o momento do impacto, levando Caronte e Plutão a se conectarem temporariamente, em vez de se fundirem, para impactos alinhados com a rotação do alvo. Neste regime de "beijo e captura", a coalescência dos corpos é impedida pela força”, o estudo conclui.

As simulações sugerem que Caronte pode ter se afastado de Plutão devido à influência da força de maré, o que resultou em uma órbita quase circular. Como as características químicas de ambos os corpos permaneceram praticamente inalteradas após a colisão, os cientistas consideram essa uma possível evidência de que Caronte tenha a mesma idade que Plutão.

Existem muitos objetos gelados como Plutão no Sistema Solar, o que desperta grande interesse dos cientistas em estudar esses mundos gelados. Ficou curioso? Descubra mais sobre o Cinturão de Kuiper, a região que abriga vários desses corpos. Até mais!

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