Observar estrelas é uma atividade a que milhões de pessoas no mundo se dedicam, pode não ser motivada apenas pelo encantamento ou interesse científico, mas também pela ausência de poluição luminosa.
Segundo dois pesquisadores da Universidade de Wisconsin, nos EUA, a emoção humana e o interesse comportamental pela astronomia dependem diretamente da oportunidade de ver, ou não, o céu estrelado.
A hipótese dos autores, Rodolfo Cortes Barragan e Andrew Meltzoff, do Instituto de Aprendizagem e Ciências do Cérebro da Universidade de Wisconsin (I-LABS), é que o interesse das pessoas pela astronomia, “’porta de entrada’ para a ciência de forma mais ampla”, está relacionado à poluição luminosa.
O estudo, publicado na revista Scientific Reports, é o primeiro a analisar os efeitos da poluição luminosa de uma perspectiva das ciências sociais. Para Barragan, a influência do excesso de luz artificial, que interfere na escuridão natural do céu noturno, ainda não havia sido estudado nas emoções e comportamentos humanos.
Medindo o interesse por astronomia
Para tentar mensurar isso, os especialistas realizaram uma pesquisa ampla com mais de 35 mil residentes dos EUA. A pesquisa incluiu uma pergunta para medir o grau de deslumbramento das pessoas em relação ao universo. Os resultados da pesquisa foram comparados com medições da poluição luminosa, resultando em uma conexão perceptível.
Em um comunicado, Barragan afirma: "Descobrimos que as populações dos EUA que vivem sob baixa poluição luminosa relatam sentir mais ‘encantamento sobre o universo’. Essa era uma relação específica. A poluição luminosa não estava ligada a outras emoções avaliadas na mesma pesquisa do Pew Research Center, mas fortemente conectada ao maravilhamento".
Acessibilidade equitativa ao céu noturno
Os autores propõem que todas as crianças e adultos tenham a mesma oportunidade de inspiração e ciência. No entanto, os resultados do estudo mostram que os habitantes dos EUA, dependendo de onde vivem, “não têm acesso equitativo ao céu escuro da noite, o que frequentemente promove um desinteresse pela ciência”.
A ideia é que despertar a curiosidade nos jovens e a motivação científica podem depender de uma experiência inigualável, o qual é a alegria de ver o céu noturno cheio de estrelas. A falta desse acesso, por outro lado, pode desestimular a inclinação do indivíduo por atividades científicas.
Apostando em uma interdisciplinaridade entre artes e ciências, os autores esperam que seu trabalho inspire mais trabalhos destacando a importância de preservas essas vistas de céus estrelados, destacando que “crescer sem nunca ver toda a varredura da Via Láctea” é uma perda de nossa conexão com o universo, e também com nosso desejo de explorá-lo e entendê-lo.
Como reduzir a poluição luminosa?
Para restabelecer o acesso equitativo a um céu noturno escuro, os autores sugerem algumas medidas, como luzes blindadas nas cidades ou a criação de mais parques de céu escuro, áreas protegidas onde a poluição luminosa é mínima ou inexistente. Essas medidas visam criar espaços onde as pessoas possam experimentar o deslumbramento proporcionado pelas estrelas.
Além disso, outras iniciativas podem despertar a curiosidade e incentivar futuros cientistas, como programas de acessibilidade à astronomia, principalmente em áreas urbanas, mediante a oferta de recursos educacionais, eventos públicos, observações noturnas, telescópios acessíveis e workshops.
Para Meltzoff, o estudo reuniu dois tipos de maravilhamentos que inspiraram tanto cientistas quanto poetas através dos tempos: os céus acima de nós e nossas ações humanas aqui na Terra. A primeira é estudada por astrônomos e a segunda, por psicólogos. "Podemos conectar as duas? Uma pergunta infantil, com certeza, mas que nos motiva a tentar cavar mais fundo e descobrir mais", conclui.
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