Limites planetários e o desafio da humanidade para evitar o colapso

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Apenas um mês após divulgar um artigo descrevendo como o setor pecuário está transgredindo de forma ameaçadora vários limites planetários, o professor Klaus Hubacek, da Universidade de Groningen, na Holanda, volta à carga com um novo alerta global: o estudo “Mantendo o consumo global dentro dos limites planetários”.

Publicado recentemente na revista Nature, a justificativa da pesquisa atual é extremamente simples: estudar como a humanidade tem se saído até agora em termos de limites planetários, e o que precisa mudar para não continuar a ultrapassá-los. No estudo, há um cálculo básico: “dado um certo número de pessoas no planeta e os limites planetários, quanto podemos consumir para permanecer dentro desses limites?”, questionam os autores.

A pesquisa, na verdade, é um balanço: quanta terra, água e demais recursos são demandados pelos oito bilhões de habitantes do planeta, e de que forma podemos adaptar o estilo de vida desses consumidores de recursos, para não ultrapassarem os limites que a Terra tem condições de oferecer? Com “políticas baseadas em evidências científicas”, é possível, diz Hubacek em um comunicado.

Os limites planetários

Influências das pegadas de seis indicadores ambientais nos limites planetários. (Fonte: Shao et al., Nature, 2024)
Influências das pegadas de seis indicadores ambientais nos limites planetários. (Fonte: Shao et al., Nature, 2024)

Em 2009, os cientistas Johan Rockström e Will Steffen identificaram nove limites planetários fundamentais. Didáticos, esses marcadores representam um limiar, que, quando ultrapassado, pode resultar em danos irreversíveis à própria integridade do sistema terrestre. 

Os limites planetários, em outras palavras, quantidade de consumo humano que a Terra aguenta, inclui diversos indicadores como a acidificação dos oceanos, o uso global de água doce, perda da biodiversidade e poluição química, entre outros. Fato é que, em 2023, seis desses limites planetários já haviam sido ultrapassados.

Os efeitos negativos disso já foram sentidos, em maior ou menor escala, por cada habitante do planeta. A concentração acelerada de CO2 tem provocado mudanças climáticas, que se refletem em eventos extremos como aumento das temperaturas globais, derretimento das calotas polares, elevação do nível dos oceanos, com profundos impactos nos ecossistemas e na biodiversidade planetária.

Impactos de ricos e pobres nos limite planetários

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1% dos mais ricos produz 50 vezes mais gases de efeito estufa que 50% mais pobres. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

A imensa desproporção na responsabilidade climática entre ricos e pobres do mundo tem sido o tema central no trabalho de Hubacek. Ele mostra, por exemplo, que o 1% mais rico da população mundial produz 50 vezes mais gases de efeito estufa do que os quatro bilhões de pessoas nos 50% mais pobres.

Em outro artigo recente, também publicado na Nature, o pesquisador explora detalhadamente essa questão. Para isso, emprega um extenso conjunto de dados que abrange 201 grupos de consumo em 168 países. Ao final, é feita a análise individual do impacto de padrões de gastos em cada um dos seis indicadores ambientais.

Observando como os diversos comportamentos de consumidores impulsionam as transgressões planetárias, os autores concluem que se 20% dos maiores consumidores do mundo mudassem seus hábitos para padrões mais sustentáveis, eles reduziriam o impacto ambiental entre 25% e 53%. Ainda que limitadas aos setores de alimentos e serviços, as mudanças poderiam trazer os limites planetários de volta a patamares seguros.

A humanidade ainda pode permanecer dentro dos limites planetários?

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Governos subsidiam maus comportamentos, diz estudo. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Embora se preocupe em apontar soluções tão logo identifica ameaças aos limites planetários, Hubacek entende que essas transgressões não irão parar, enquanto "a maioria dos governos subsidia o mau comportamento". Para ele, não adianta nada continuar criando novas alternativas técnicas, se ninguém implanta as soluções já teorizadas.

A criação de impostos sobre carbono e esquemas de comércio de carbonos, por exemplo, estão sendo claramente neutralizados pela continuação dos subsídios globais para combustíveis fósseis.

Embora demonstre com seus trabalhos que nem toda esperança está perdida, Hubacek diz que faz suas pesquisas devido ao interesse acadêmico, mas alerta: "não quero perder meu tempo com algo que não tem sentido. O que precisamos mesmo são de políticas baseadas em provas".

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