Dois extremos climáticos: a seca na Amazônia e as inundações no Saara

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Imagem: World Weather Attribution/Divulgação

Sabíamos que mais cedo ou mais tarde a crescente poluição por combustíveis fósseis que continua a superaquecer o planeta acabaria por interromper o ciclo da água. Foi mais cedo que pensávamos. Recentemente dois ecossistemas aparentemente antagônicos, a Amazônia e o Saara, protagonizaram uma inédita inversão de padrões climáticos que desafia os modelos de projeções climatológicas.

Nossa Amazônia, o chamado pulmão do mundo, está desidratada: experimenta uma seca sem precedentes na história. Já o deserto mais quente e árido do planeta surpreende a todos com inundações devastadoras. Essas anomalias climáticas evidenciam mudanças extremas no clima e ameaçam de forma imprevisível os diversos ecossistemas do planeta.

Na floresta tropical brasileira, períodos prolongados de estiagem têm deixado os rios com níveis historicamente baixos, resultando na morte maciça de peixes, causando impactos severos comunidades ribeirinhas. Enquanto isso, no Saara, conhecido por sua costumeira aridez, chuvas torrenciais causaram inundações mortais em cidades e vilas do Marrocos.

Mudanças climáticas induzem seca extrema na Amazônia

A Amazônia pode estar a caminha de um "ponto de inflexão" e se transformar em uma savana.A Amazônia pode estar a caminha de um "ponto de inflexão" e se transformar em uma savana.Fonte:  Getty Images 

Em 2023, a Amazônia experimentou tanto uma seca histórica quanto as maiores temperaturas de sua história. Um estudo realizado por cientistas do grupo World Weather Attribution (WWA), publicado em janeiro de 2024, “descobriu que a mudança climática causada pela poluição de carbono que aquece o planeta foi a principal culpada”, afirma o relatório divulgado no site da organização.

Para testar o papel que a mudança climática pode ter desempenhado na seca amazônica, os autores trabalharam com dados meteorológicos existentes e simulações computacionais. O estudo comparou dois cenários: o clima contemporâneo, já aquecido em 1,2 °C desde a era pré-industrial, com a situação antes do aquecimento global.

A conclusão do estudo foi que o aquecimento global tornou a escassez de chuva 10 vezes provável e a seca agrícola cerca de 30 vezes mais alta. Embora a seca ocorra atualmente a cada 50 anos, a ocorrência de um provável incremento de 2 °C no clima acima dos níveis pré-industriais levaria a uma combinação devastadora dos dois fenômenos a cada 13 anos.

Isso poderia levar a Amazônia a um “ponto de inflexão” climático: a transição acelerada de floresta tropical para savana, com baixa capacidade de armazenar carbono.

Extremos climáticos podem ter causado inundações no Deserto do Saara

Satélites capturaram recentemente uma cor incomum nas imagens do sul do deserto do Saara: o verde. Detectada pela primeira vez no sul do icônico deserto que atravessa vários países do norte da África, a tonalidade se refere ao florescimento de vida vegetal, que chegou àquela região depois que tempestades se tornaram presentes naquele local. O aquecimento mundial é apontado pelos cientistas como causa provável do fenômeno.

A monção (ventos sazonais) da África Ocidental, que tradicionalmente trazem chuvas para o norte do equador entre julho e setembro, deslocou-se anormalmente para o norte este ano, segundo a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (NOAA), causando tempestades inéditas no Saara. Países da região registraram níveis de umidade até seis vezes maiores que o habitual.

Um estudo publicado em junho na revista Nature concluiu que os deslocamentos mais ao norte da Zona de Convergência Intertropical podem se tornar mais frequentes à medida que aumentam as concentrações de dióxido de carbono, resultado das emissões provenientes da queima de combustíveis fósseis, que aquecem o planeta.

Embora chuvas possam ser normalmente vistas como uma boa notícia, essas tempestades que ocorreram causaram inundações devastadoras no Chade, na Nigéria e no Sudão. Para Karsten Haustein, da Universidade de Leipzig, à medida que o mundo esquenta, ele poderá reter mais umidade, explicou o pesquisador climático à CNN. O resultado pode ser monções mais úmidas e inundações ainda mais severas.

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