A vida como a conhecemos é baseada em três dimensões: altura, largura e comprimento. Observações e experimentos científicos sugerem que realmente vivemos em um universo 3D; em um mundo 4D, seria acrescentada a dimensão do espaço-tempo – o astrofísico e astrônomo Carl Sagan acreditava na existência de um universo 4D.
Mas será que poderia existir um lugar completamente em duas dimensões (2D)? E, se existir, será que seres vivos poderiam habitar esse ambiente?
Em um estudo sobre o tema, um grupo de cientistas aponta que universos com mais de três dimensões podem existir de forma diferente do nosso. Por exemplo, por serem muito imprevisíveis e instáveis, eles não suportariam nenhum tipo de vida como a conhecemos; seriam tão caóticos que até os átomos não se comportariam de forma normal. Além disso, alguns cientistas preveem a existência de até 26 dimensões.
A maioria dos pesquisadores afirma que a vida não poderia existir em um universo 2D, pois faltariam elementos necessários para a formação de seres vivos. Por exemplo, provavelmente, um ambiente com duas dimensões não permitiria o desenvolvimento da gravidade. Sem gravidade, o desenvolvimento da vida seria impossível.
Em um artigo publicado em 2020, o físico James Scargill sugere exatamente o contrário: talvez exista uma maneira de a vida ser formada em um ambiente de apenas duas dimensões. Existe a possibilidade da gravidade se desenvolver a partir de alguns processos que podem ocorrer em um universo desse tipo.
“Outra objeção que frequentemente surge é que a vida complexa enfrentaria obstáculos topológicos em duas dimensões; sistemas digestivos unidirecionais certamente não seriam possíveis, embora presumivelmente a vida que evoluiu em tal mundo não teria os mesmos escrúpulos que nós, sobre isso. Por outro lado, os neurônios no cérebro seriam incapazes de se cruzar e, portanto, a rede neural de um cérebro teria que ser planar, o que, de certo modo, limita sua complexidade”, o artigo descreve.
Uma vida além das três dimensões
Scargill sugere que a gravidade em um mundo bidimensional poderia oferecer órbitas estáveis em torno de fontes pontuais, o que permitiria um desenvolvimento complexo o suficiente para a existência de diferentes tipos de vida, complexas. No entanto, as coisas seriam um pouco diferentes do que estamos acostumados.
Se esse espaço 2D existisse com algum tipo de ser vivo, é provável que sua estrutura corporal fosse muito diferente. Por exemplo, um trato digestivo não poderia ser como o dos humanos. Os cérebros também poderiam existir nesse ambiente, mas seriam muito diferentes do normal; a estrutura cerebral teria uma construção hierárquica e modular.
No fim, Scargill sugere que poderia existir vida em um universo 2D, mas não da mesma forma que estamos acostumados.
Talvez um dia, por meio da computação quântica, a humanidade seja capaz de realizar simulações que apresentem um universo composto por apenas duas dimensões (2D).Fonte: Getty Images
O cientista demonstra que existem certos tipos de grafos planares bidimensionais que compartilham semelhanças com redes neurais, oferecendo um nível de complexidade suficiente para garantir que realmente se trate de um ‘ser vivo’. Isso enfraquece o argumento antrópico do universo, uma ideia que sugere que as leis físicas são como são e que, se fossem diferentes, não seria possível observá-las.
De qualquer forma, não é possível comprovar nenhuma dessas afirmações, pois não sabemos se realmente existe um universo 2D escondido em alguma parte do cosmos; trata-se de uma reflexão teórica que tenta quebrar os paradigmas das dimensões.
Inclusive, talvez já estejamos vivendo em uma realidade de duas dimensões. Alguns cientistas acreditam que a civilização vive em um tipo de simulação, um holograma em 2D que esconde que não somos seres de três dimensões.
"Apresentei uma teoria puramente escalar da gravidade que permite órbitas estáveis em torno de fontes pontuais e tem uma cosmologia não obviamente fatal (embora incomum); ela poderia ser potencialmente melhorada tornando toda a dinâmica métrica. Também se poderia imaginar um cenário de mundo-brana em que o gráviton sem massa não está localizado na brana, permitindo assim que a vida bidimensional desfrute de uma gravidade totalmente quadridimensional", o artigo acrescenta.
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