Em um estudo publicado na revista científica Nature Geoscience, um grupo de cientistas sugere que a rotação do núcleo da Terra começou a diminuir em 2019; esse processo foi tão intenso que, recentemente, o centro do planeta pode ter começado a girar na direção oposta.
Os pesquisadores do artigo afirmaram que esse novo ciclo pode durar até 70 anos e que poderia influenciar na duração dos dias. Mas calma, trata-se de um evento estrutural da Terra, não de um evento apocalíptico.
Os autores da pesquisa utilizaram registros sísmicos para compreender a mudança de rotação no núcleo da Terra — inclusive, eles afirmam que o processo pode ter iniciado alguns desastres naturais.
Após analisarem dados do núcleo interno do planeta entre as décadas de 1990 e 2020, os cientistas afirmam que foi identificada uma mudança perceptível nos últimos anos. Essa possibilidade não é apenas mais um "achismo" abordado pelos investigadores da pesquisa.
O professor reitor de Ciências da Terra na Faculdade de Letras, Artes e Ciências de California Dornsife (USC Dornsife), John Vidale, confirmou que o planeta passou por uma lenta desaceleração até começar a girar ao contrário nos últimos anos. Isso poderia causar diferentes mudanças que afetariam o planeta profundamente.
Após anos de discussões, a comunidade científica compreendeu que a rotação do núcleo não é completamente consistente, pois aparentava estar desacelerando constantemente. Apesar de parecer um debate relativamente simples, a verdade é que a palavra "simples" passa bem longe desse tema. Segundo os especialistas, compreender o núcleo da Terra é extremamente difícil porque não podemos realizar nenhuma observação direta.
“Aqui analisamos ondas sísmicas repetidas do início da década de 1990 e mostramos que todos os caminhos que anteriormente apresentavam mudanças temporais significativas exibiram poucas mudanças ao longo da última década. Este padrão globalmente consistente sugere que a rotação diferencial do núcleo interno foi recentemente interrompida”, é descrito no estudo que sugere a mudança de rotação.
Por que o núcleo da Terra está girando ao contrário
O núcleo interno da Terra foi compreendido pela primeira vez em um estudo da sismóloga dinamarquesa Inge Lehmann, em 1936. Na época, a cientista descobriu que a região funcionava como uma 'bola de metal sólida', mas a diferenciação da velocidade de rotação só começou a ser estudada entre as décadas de 1970 e 1980. As primeiras evidências sismológicas só foram apresentadas no início dos anos 1990.
Na maioria das vezes, os pesquisadores utilizaram dados de ondas sísmicas e de terremotos para compreender suas interações com o núcleo interno do planeta. Contudo, nem toda a comunidade científica concorda com essa hipótese. Alguns cientistas afirmam que os dados ainda são limitados devido à dificuldade em coletar amostras e realizar observações.
O núcleo externo líquido se encontra com o núcleo interno sólido; essa atividade é um dos fatores responsáveis pelo campo magnético da Terra.Fonte: USC Graphic / Edward Sotelo
Segundo um novo estudo liderado por Vidale, os dados sugerem que a Terra começou realmente a desacelerar significativamente até parar nos últimos anos e, então, começou a girar ao contrário. O cientista afirma que essas mudanças na rotação do núcleo terrestre aparentam ter um ciclo de 70 anos. Porém, o artigo aponta que essa reação do planeta continua sendo um mistério sem resolução.
A relação entre o núcleo e o campo magnético da Terra
Alguns pesquisadores acreditam que o processo de rotação mencionado tem relação com o campo magnético da Terra, pois ele possui um fluxo de empurrar e puxar que influencia na solidez e posicionamento do núcleo interno. A rotação mais lenta poderia afetar o campo magnético e reduzir a duração de um dia na Terra. De qualquer forma, a ciência continua tentando compreender o impacto dessa mudança.
“Quando vi pela primeira vez os sismogramas que sugeriam esta mudança, fiquei perplexo. Mas quando encontramos mais duas dúzias de observações sinalizando o mesmo padrão, o resultado foi inevitável. O núcleo interno desacelerou pela primeira vez em muitas décadas. Outros cientistas defenderam recentemente modelos semelhantes e diferentes, mas o nosso estudo mais recente fornece a resolução mais convincente”, disse Vidale em um comunicado oficial da USC Dornsife.
A equipe de Vidale sugere que o planeta deve começar a experimentar novamente um aumento na rotação do núcleo interno em aproximadamente cinco a dez anos. Com o avanço da tecnologia e do método científico, é possível que alcancemos uma melhor compreensão da estrutura da Terra e da estranha rotação que 'vai e volta'.
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