Embora estejamos habituados ao oxigênio como uma parte inerente à nossa vida (afinal respiramos esse gás diatônico cerca de 20 mil vezes por dia), esse precioso elemento nem sempre fez parte da atmosfera terrestre. Na verdade, a sua formação ocorreu há cerca de 2,5 bilhões de anos, quando o chamado oxigênio livre (O2) começou a se acumular de forma considerável.
Esse fenômeno, referido pelos cientistas como Grande Evento de Oxidação (na sigla em inglês), não tem nada de eventual, segundo uma pesquisa recente liderada pelo biólogo Chadlin Ostrander, professor da Universidade de Utah, nos EUA.
O processo, que propiciou o surgimento de vida complexa na Terra, pode ter durado até 200 milhões de anos, dizem os autores. Entretanto, pondera o biólogo, o surgimento do O2 ocorreu de forma irregular e intermitente, com a atmosfera e o oceano se tornando oxigenados e desoxigenados juntos, diz o estudo.
Qual foi a prova geoquímica de uma atmosfera anóxica?
Depósitos de pirita são uma forte evidência da ausência de oxigênio.Fonte: Getty Images
Conforme Ostrander, como a ciência não tinha conhecimento do que estava acontecendo nos oceanos, local onde as primeiras formas de vida terrestres provavelmente se originaram, a equipe se concentrou no estudo de xistos marinhos encontrados no chamado Supergrupo Transvaal, um conjunto de rochas antigas formado na África do Sul entre 2,5 bilhões e 2,1 bilhões de anos atrás.
Analisando proporções estáveis de isótopos do metal tálio e outros elementos sensíveis redox (perda e ganho de elétrons), eles identificaram oscilações importantes nos níveis de O2 marinho.
Já no caso da comprovação de uma atmosfera anóxica (sem oxigênio), uma evidência "matadora" é a presença de assinatura de isótopos de enxofre em rochas sedimentares antigas. Na ausência de oxigênio, o enxofre se combina com o ferro, e forma depósitos de pirita (FeS2), conhecida como "ouro dos tolos".
Qual a conclusão do estudo sobre o Grande Evento de Oxidação?
Estromatólitos, rochas criadas por microrganismos fotossintetizadores que começaram a produzir o oxigênio da Terra.Fonte: NASA Astrobiology Institute
Produzido por cianobactérias já na segunda metade de existência da Terra, o O2 chegou aos oceanos antes do GOE, dizem os pesquisadores, mas foi rapidamente destruído em reações com minerais expostos e gases vulcânicos. No entanto, as raras assinaturas de isótopos de enxofre desaparecem e reaparecem, sugerindo múltiplos aumentos e quedas do gás.
Enquanto isso, a equipe que examinou o tálio no fundo do mar detectou um aumento da proporção do isótopo mais leve (203TI) em relação ao mais pesado (205Tl). A ocorrência é compatível com a presença de óxido de manganês na água, o que indica acúmulo de O2.
Além disso, esses enriquecimentos foram encontrados em amostras sem as raras assinaturas de isótopos de enxofre, que também são um sinal da presença de oxigênio. Ou seja, quando a atmosfera fica oxigenada, o oceano também fica. E vice-versa.
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