Desde que olhamos para os céus, somos fascinados com a ideia de que outros mundos, tal como a Terra, possam conter e abrigar a vida. Embora os únicos passeios humanos para fora do planeta – isto é, nossas visitas à Lua – nos tenha mostrado uma vizinhança árida e desabitada, outros mundos do nosso Sistema Solar continuam a povoar nosso imaginário com possibilidades.
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O planeta Vênus, por exemplo, pode ter vida nas altas camadas de sua atmosfera. As luas de Júpiter e Saturno, Europa e Encélado, podem ter vida abundante em oceanos subterrâneos de água líquida. Até mesmo os lagos de hidrocarbonetos líquidos de Titã constituem um local fascinante para a procura de organismos vivos exóticos.
Comparação da água líquida na Terra e em Europa (acima à esquerda).Fonte: Kevin Hand (JPL/Caltech)
Contudo, desde sempre, a possibilidade mais fascinante na mente humana reside no nosso vizinho avermelhado: o planeta Marte. Afinal, já sabemos que nosso irmão menor, mais frio e mais distante teve um passado molhado, onde a água líquida fluiu com abundância em sua superfície por mais de um bilhão de anos.
Com as sondas e rovers que já enviamos para lá, obtivemos algumas evidências circunstanciais que indicam a possibilidade da existência de vida em Marte, não apenas em um passado remoto, mas também ainda hoje. Será que um dia a humanidade habitará realmente o planeta vermelho?
Representação de um astronauta em Marte.Fonte: Getty Images
Sem dúvida alguma, a ideia de haver astronautas pilotando rovers em Marte e montando bases permanentes é empolgante e animadora, porém, infelizmente, temos boas razões para sermos pessimistas sobre esta empreitada.
A primeira destas razões não é, na verdade, tão complicada assim: o solo de Marte pode ser tóxico. Porém, diversos solos aqui na Terra também o são e sabemos que eles podem ser tratados ou reabilitados por meio de reações químicas simples.
Não há razão para duvidar que não poderíamos fazer algo semelhante em Marte. Mas essa é a parte fácil.
O problema é que ele também é extremamente seco. Não que não haja vapor d'água ou gelo lá, já sabemos que existe. A dificuldade é colocar altas quantidades de água, de forma estável, na fase líquida que, como sabemos, é essencial para os processos vitais aqui na Terra.
O solo de Marte, hoje seco e árido, mostra evidências de fluxo de antigos rios extintos.Fonte: NASA
Este não é um problema meramente tecnológico, trata-se também de uma dificuldade natural: a atmosfera de Marte é demasiado rarefeita para suportar água líquida na superfície. A existência da água líquida requer uma certa pressão atmosférica mínima de cerca de 1% da pressão atmosférica terrestre.
Marte tem apenas cerca de 0,7% da pressão atmosférica da Terra, tornando a fase líquida praticamente impossível (na verdade, se os humanos fossem deixados desprotegidos na superfície marciana, o líquido nos seus corpos ferveria, mas falemos disso em outro momento).
Então, para reabilitar o solo, criar uma biosfera habitável e ter oceanos e outras formas de água estável na superfície, seria necessário adicionar mais atmosfera. Para ter uma atmosfera comparável à da Terra, na verdade, seria necessário adicionar cerca de 140 vezes a quantidade de atmosfera presentemente em Marte: cerca de 3.500 teratoneladas. Precisaríamos transportar muita massa de nitrogênio e oxigênio para chegar lá.
Diferente da Terra, Marte não possui um campo magnético para proteger sua atmosfera e superfície do vento solar.Fonte: NASA
Ainda que conseguíssemos esse feito incrível, ainda assim Marte não tem campo magnético para proteger a superfície (e a própria atmosfera!) do vento solar. Graças às partículas carregadas que colidem com as moléculas da atmosfera, com o tempo, estas moléculas escapam da atração gravitacional do planeta.
Ou seja, se quiséssemos habitar Marte, não precisaríamos apenas adicionar uma grande atmosfera, adicionar a água necessária e depois transformar quimicamente a superfície para torná-la hospitaleira, mas também teríamos que proteger essa atmosfera adicional. Isso sem mencionar os problemas que a alta exposição à radiação e a uma gravidade inferior à da Terra causariam nos seres humanos.
Se você está pensando em ir para Marte como um lugar para onde podemos nos mudar após destruirmos a Terra, sugiro que se atente ao fato de que, até onde sabemos e pelo menos por muitos séculos, a Terra ainda será o único planeta possível do Sistema Solar a abrigar a vida que nela foi criada. Marte pode ser uma parte disso a longo prazo, mas, certamente, até lá o máximo que poderemos fazer são viagens espaciais temporárias.
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