A hipótese científica do Grande Impacto, que relata a colisão da Terra com um protoplaneta chamado Theia há 4,5 bilhões de anos, pode ter produzido mais do que a criação da Lua. Um estudo recente, publicado por três geólogos e sismólogos do Instituto de Tecnologia da Califórnia, propõe que o fenômeno possa ter impulsionado as placas tectônicas em nosso planeta.
Conforme o estudo, publicado na Geophyscial Research Letters, bolhas misteriosas, chamadas cientificamente de grandes províncias de baixa velocidade (LLVPs) foram deixadas para trás durante a gigantesca colisão. Esse material quente e menos denso pode ter empurrado a crosta oceânica mais antiga e densa para abaixo, inaugurando a primeira subducção do nosso planeta.
Fenômeno exclusivo da Terra entre todos os planetas conhecidos, o regime de placas tectônicas, no qual a mais densa afunda sob outra menos densa em seus limites convergentes, é o processo geológico que alimenta todos os terremotos e vulcões, mas também criou condições propícias para a evolução da vida.
Como os cientistas simularam a formação de placas tectônicas?
Evolução temporal mostrando iniciação de subducção induzida por bolhas.Fonte: Qian Yuan et al.
Para testar suas teorias, a equipe direcionou modelos computacionais para mostrar diferentes tipos de impacto que as LLVPs possam ter causado à crosta terrestre desde o éon Hadeano, a ponto de serem os responsáveis pelas atuais placas tectônicas. Um dado já revelado por leituras sísmicas é que os materiais das LLVPs e do manto são diferentes.
Os modelos mostraram que, cerca de 200 milhões de anos após o Impacto, a pressão das LLVPs criou plumas quentes (as tais bolhas) que subiram do núcleo à superfície, fazendo com que algumas seções afundassem, ou seja, a estreia da subducção na Terra.
Impacto de grande rocha pode gerar vida por meio de placas tectônicas?
Esquema ilustrativo do percurso desde o Grande Impacto até a formação de bolhas, no éon Hadeano.Fonte: Qian Yuan et al.
Além de ajudar a explicar o antigo mistério da origem de bolhas gigantes de material desconhecido perto do centro da Terra, o novo estudo também propõe que o grande impacto "também definiu as condições iniciais da nossa Terra", afirma o coautor do trabalho, Qian Yuan, ao The Washington Post.
Afinal, o constante movimento das placas tectônicas favorece a reciclagem de elementos químicos no interior do planeta. Conhecido como ciclo tectônico, o processo libera não só minerais, mas nutrientes essenciais à vida, na superfície. Além disso, o funcionamento conjunto da crosta terrestre com o manto pode ter funcionado como um termostato natural.
Mas se tudo isso, a vida incluída, só começou com a queda de um protoplaneta, e se essa for uma condição para um planeta suportar vida avançada, então a existência de planetas parecidos com o nosso pode ser raríssima. Ou seja, se o estudo estiver certo, a existência de vida fora da Terra pode até ser possível, mas bastante improvável.
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