Como seria a Terra com anéis?

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Imagem: Ron Miller

A partir de março do próximo ano, os anéis de Saturno ficarão invisíveis para nós, terrestres. Embora continuem no mesmo lugar, majestosos como sempre, eles simplesmente não aparecerão devido ao alinhamento do eixo de rotação do gigante gasoso com a órbita da Terra. Mas, e se tivéssemos o nosso próprio sistema de anéis, com as mesmas proporções que as de Saturno?

Essa ideia maluca, mas extremamente charmosa, tornou-se uma obsessão para o artista Ron Miller, um dos maiores ilustradores do mundo, especializado em livros de astronomia, astronáutica e ficção científica. Trabalhando como freelancer após atuar muitos anos como diretor de arte do Planetário Albert Einstein, nos EUA, ele criou uma série chamada Terras Imaginárias, onde retrata nosso planeta em cenários alterados.

Parecidos com os de Saturno, os anéis hipotéticos da Terra criados por Miller apresentam uma única diferença fundamental em relação ao do sexto planeta do Sistema Solar: nossos anéis não teriam gelo. Como a Terra fica muito mais perto do Sol, a radiação da nossa estrela certamente derreteria qualquer material gelado em nossa órbita.

Como seria a Terra com "anéis de Saturno"?

Se tivéssemos anéis ao redor do nosso planeta, eles provavelmente se alinhariam em torno da linha do equador, pois à medida que a Terra gira, vai se tornando mais protuberante no local, formando uma espécie de "barriga".

Pessoas que moram naquela latitude terrestre, como os habitantes de Quito, teriam o mesmo problema que teremos em 2025 em relação a Saturno: observar apenas a borda dos anéis, como uma fatia fina de luz no céu noturno. Já os poucos moradores do Círculo Polar Ártico veriam os anéis como um grande semicírculo no horizonte.

Nas latitudes mais temperadas do planeta, como Europa, Ásia, África, norte da América do Norte e sul da América do Sul, os anéis apareceriam de uma extremidade a outra do céu como um arco gigante. Brilhantes, eles não iriam nem subir, nem se pôr, aparecendo exatamente todo dia, inclusive à noite, no mesmo lugar. 

Anéis de rocha não pareceriam escuros da Terra?

Anéis da Terra vistos da perspectiva de Quito, no Equador.Anéis da Terra vistos da perspectiva de Quito, no Equador.Fonte:  Ron Miller 

Como sabemos que os anéis de Saturno são compostos em sua maioria por partículas de gelo de água, excelentes refletores da luz solar, poderíamos pensar que anéis feitos inteiramente de rocha pareceriam escuros. Falando ao WordsSideKick.com, o diretor de astrobiologia da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, Caleb Scharf diz que não.

Comparando as hipotéticas faixas orbitais com a Lua, ela própria resultado da coalescência de anéis em um passado distante da Terra, Scharf lembra que a rocha lunar é em sua maioria cinza, e reflete apenas 12% da luz solar. Ainda assim, a lua cheia “parece muito brilhante porque há muita luz incidindo sobre ela e porque está muito perto de nós”, explica.

Levando-se em conta que a irradiância solar média no topo da atmosfera é de cerca de 1,3 mil watts por metro quadrado, diz Scharf, "se os anéis refletissem pelo menos 10% disso, estamos a falar de que cada metro quadrado refletiria tanta luz como a produzida por uma lâmpada de 130 watts".

Anéis da Terra seriam perigosos para viagens aéreas?

Habitantes de Washington D.C. veriam os anéis como um arco-íris brilhante.Habitantes de Washington D.C. veriam os anéis como um arco-íris brilhante.Fonte:  Ron Miller 

Teoricamente, anéis rochosos não seriam perigosos nem para aviões, nem para os habitantes da Terra. Segundo a Corporação Universitária de Pesquisa Atmosférica (UCAR), o mais próximo que os anéis conseguiriam chegar seria acima da camada atmosférica conhecida como termosfera, a 1 mil km de altitude. Portanto, aviões comerciais (que voam no máximo até 11 km) não passariam nem perto dos anéis.

Quanto ao perigo de essas pedras caírem nas nossas cabeças, é bom lembrar que o arrasto atmosférico, força que se opõe ao movimento de qualquer objeto através da atmosfera, queimaria qualquer matéria que eventualmente descesse muito baixo, como acontece com as estrelas cadentes.

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