Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Sentindo na pele os efeitos da sobrecarga de trabalho, me motivei a estudar sobre estresse. Após alguns episódios agudos de estresse como resposta às situações da vida, encontrei, ironicamente, no principal tema do meu trabalho, uma alternativa não farmacológica para amortecer as consequências do estresse na minha vida.
Dentre os benefícios que o exercício físico nos proporciona, os mais rápidos ocorrem sobre a saúde mental. São gratificações imediatas que ocorrem a partir de poucos minutos, quando começamos a nos movimentar, especialmente se fazemos algo que gostamos como exercício, resultando em redução da ansiedade e sintomas depressivos, aumento do prazer e bem-estar e amortecimento do estresse.
Quando estamos estressados ou esgotados física e mentalmente, fazer exercícios parece ser a última coisa que queremos fazer. No entanto, é exatamente isso que pode nos fazer sentir melhor. Entenda como isso ocorre e saiba de um ingrediente fundamental para que o movimento físico amorteça seu estresse psicológico.
Exercícios e estresse. Estresse e exercícios
Uma relação de via dupla deve ser reconhecida:
- O exercício leva a redução no estresse percebido;
- Um elevado estresse percebido pode reduzir a quantidade de exercício que realizamos.
Exercício físico é um estressor por definição, pois implica em uma perturbação ao equilíbrio fisiológico normal do corpo, porém o movimento corporal não é como os outros estressores que possuem efeitos adversos negativos.
O estresse causado pelo exercício, em dose adequada, é um dos melhores que podemos gerar ao corpo humano.
Apesar de um estresse, o exercício reduz o efeito nocivo de outros fatores de estresse, especialmente quando realizado em intensidades moderadas. O exercício faz isso regulando vários mecanismos fisiológicos, como o ajuste do eixo HPA - um eixo endócrino de resposta ao estresse, bem como na regulação do neuropeptídeo Y, que ajuda a acalmar a amígdala cerebral, região envolvida com a regulação do estresse e ansiedade. "Uma amígdala ansiosa é nosso pior inimigo", disse Jennifer Heisz – pesquisadora na área, em entrevista. A amígdala cerebral reporta ao hipotálamo que causa uma resposta ao estresse.
O exercício por meio de vários mecanismos amortece o estresse.Fonte: Getty Images
Adrenalina e cortisol sobem para notificar corpo e mente da ameaça. O estresse crônico é apontado como uma via importante para o aumento dos casos de depressão no mundo, através da inflamação – aspecto que o exercício também auxilia.
Um dia com exercícios pode ser um dia com menos estresse
Um treino pode funcionar como uma espécie de escudo “antiabsortivo” para situações estressantes. Nos dias em que as pessoas se exercitam, eventos estressantes afetam menos o seu bem-estar mental. Pessoas ativas reagiram melhor ao estresse do que as inativas fisicamente, em 14%. Nos ativos, a reatividade aos eventos estressantes foi menor (17%) em dias com treino.
O exercício pode reforçar a capacidade das pessoas de gerir psicologicamente o estressor de uma forma mais eficaz, mas esse é apenas um dos mecanismos que explica os efeitos "anti-stress".
O amortecimento do estresse
O exercício por meio de 4 mecanismos realiza um efeito de amortecimento do estresse (stress-buffering):
1) Prevenindo a percepção de estresse. Pessoas fisicamente ativas podem simplesmente ter menos probabilidade de considerar as situações estressantes.
2) Fortalecendo os recursos pessoais e sociais, como a autoeficácia (crença de ser capaz) e apoio social, que por sua vez podem ajudar a reduzir o estresse.
3) Impactando nas reações de estresse psicológico e/ou fisiológico. Neste caso, a tensão/ansiedade induzida pelo estresse ou a liberação de cortisol diminuem após atividade física aguda, ou após treinamento físico crônico.
4) Gerando efeitos compensatórios através do aumento de saúde, não funcionando diretamente como um amortecedor de estresse, mas melhorando níveis de saúde.
Um ingrediente importante
Quando escrevi “especialmente se fazemos algo que gostamos como exercício” no início da coluna, foi motivado por um interessante estudo publicado anos atrás. Pesquisadores investigaram se o estresse teve um efeito negativo na satisfação com a vida de mais de 800 estudantes em duas escolas na Suíça, examinando se a atividade física poderia amortecer esse efeito e se isso era fortalecido pela motivação intrínseca – aquela caracterizada por sentimentos positivos como alegria, diversão e prazer.
O mantra "sem dor, sem ganhos" dá lugar ao "sem diversão, sem ganhos" quando falamos em saúde mental.Fonte: Getty Images
Conforme esperado, o estresse levou a níveis mais baixos de satisfação com a vida. Porém, contrariamente as expectativas, a atividade física não funcionou como um amortecedor de estresse nos estudantes. O efeito amortecedor ocorreu apenas quando a motivação intrínseca dos estudantes para atividade física foi elevada, ou seja, quando gostavam do que faziam.
Os sentimos positivos promovidos pela atividade física podem ser os ingredientes-chave da relação com o estresse. O título do artigo não poderia ser melhor: No fun, no gain (sem diversão, sem ganhos).
Até Arnold Schwarzenegger, conhecido pelos efeitos físicos que o exercício lhe proporcionou reconheceu: “O treino nos dá uma saída para as energias reprimidas criadas pelo estresse e, assim, tonifica o espírito, tal como o exercício condiciona o corpo”.
***
Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos.
Cupom Centauro
Procurando um novo par de tênis ou roupas para seus treinos? Aproveite o Cupom Centauro e economize no site da varejista.
Fontes
