A saga Duna, do escritor americano Frank Herbert, se transformou no cinema, sob a competente direção de Denis Villeneuve, em uma mensagem ambiental e até mesmo uma esperança na busca por exoplanetas habitáveis. Na trama, vários personagens tentam transformar o desértico Arrakis em um planeta verde, como alguns cientistas têm cogitado para Marte atualmente.
Em um artigo recente, publicado no site de pesquisas acadêmicas The Conversation, três pesquisadores das universidades britânicas de Bristol e Sheffield usaram um modelo climático gerado por computador, para explorar o potencial de terraformação de Arrakis. Eles concluíram que o mundo de Herbert, elaborado em 1965, é "notavelmente preciso — e seria habitável, se não hospitaleiro", diz o artigo.
Inundando Arrakis com seus oceanos originais
Arrakis, origem única da "especiaria", um recurso indispensável para a realização de viagens interestelares, nem sempre foi o árido deserto visto nas histórias. A tradição das dunas jura que imensos oceanos já envolveram o planeta, até que uma catástrofe ambiental misteriosa iniciou o processo de desertificação, depois intensificada pelas trutas de areia, que removeram toda a água líquida residual.
Utilizando seu modelo climático, os autores inundaram uma parte significativa de Arrakis, logo percebendo uma diminuição de 4 °C na temperatura média no planeta inteiro. O resfriamento foi atribuído não só à elevação da umidade atmosférica, mas também a mais neve e à cobertura de nuvens refletoras, um método artificial frequentemente sugerido para reduzir o aquecimento global na Terra, mas nunca implantado.
Assim como os oceanos terrestres, os mares de Arrakis também emitiriam compostos químicos que contêm halogênios (flúor, cloro, bromo e iodo), com potencial para resfriar o planeta ao esgotar o ozônio (gás de efeito estufa) na atmosfera. Com a adição dos oceanos, Arrakis se tornou 86 vezes mais úmido. Dessa forma, a escassez de água deixou de ser uma questão para o crescimento de plantas e desenvolvimento dos ecossistemas.
A transformação de Arrakis em um planeta habitável
Os pesquisadores usaram a Dune Encyclopedia para construir seu modelo original.Fonte: Farnsworth et al./The Conversation
Repetindo o que acontece na Grã-Bretanha terrestre, cercada de oceanos, o clima de Arrakis também se tornou mais ameno, com redução dos extremos de temperatura. Isso acontece porque a água demora naturalmente mais tempo para aquecer ou esfriar do que a terra. A conclusão óbvia é que o clima de um planeta oceânico é mais estável do que um mundo desértico.
Mesmo com temperaturas acima de 70 °C em seu deserto, Arrakis poderia teoricamente abrigar um oceano cuja temperatura máxima seria de aproximadamente 45 °C, suficiente para garantir a habitabilidade do planeta durante o ano inteiro, mesmo durante o verão.
A estabilização do clima permitiria um planeta com polos permanentemente nevados e gelados, além de verdejantes florestas tropicais e terras aráveis produtivas. Por outro lado, os mesmos oceanos volumosos e quentes poderiam gerar um risco para as regiões costeiras: a formação de colossais ciclones.
Um laboratório de pesquisa para exoplanetas
Tanto o deserto quanto o oceano Arrakis são mais habitáveis do que qualquer exoplaneta conhecido.Fonte: Farnsworth et al./The Conversation
O estudo sobre a habitabilidade de Arrakis tem algumas implicações importantes para a pesquisa real de exoplanetas. Atualmente, só podemos buscá-los em galáxias distantes, usando poderosos telescópios espaciais para selecionar os mais parecidos com a Terra em quesitos como tamanho, temperatura, presença de água, entre outros fatores.
Compreender os desafios incomuns apresentados por mundos desérticos, como Arrakis, poderá fornecer subsídios em futuros projetos de terraformação de planetas como Marte, e além.
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