O Universo, tal qual o conhecemos hoje, é repleto de incontáveis estrelas e galáxias espalhadas na imensidão cósmica. De todos os grandes mistérios que existem nele, talvez o maior de todos seja este: de onde veio tudo isto?
Durante incontáveis milênios, contamos histórias sobre nossa origem cósmica: um nascimento ardente, uma separação entre a luz e as trevas, uma ordem emergindo do caos, a emersão de um estado escuro, vazio e sem forma.
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Algumas histórias envolveram a presença de uma entidade criadora, outras contavam com a intervenção única da própria natureza. Com o surgimento da ciência moderna, contudo, ganhamos uma perspectiva inteiramente nova.
Representação da história cósmica desde o Big Bang até hoje.Fonte: NASA/WMAP
Uma das maiores descobertas da Física e da Cosmologia que se iniciava no século XX foi que o Cosmos teve, sim, uma origem em um evento cósmico conhecido como o Big Bang, ocorrido há cerca de 13,8 bilhões de anos. A ideia, contada de forma simplificada, originou-se da observação de que o Universo estava se expandindo, ficando menos denso e se esfriando com o passar do tempo. O passo lógico que se seguiu foi, então, retroceder no tempo, para imaginar um Universo no passado cada vez mais próximo, mais denso e mais quente.
Embora o Big Bang seja considerado hoje como uma informação fundamental nos principais modelos cosmológicos, a teoria, quando proposta pela primeira vez, foi imensamente debatida e até mesmo ridicularizada pelos defensores de teorias concorrentes. No entanto, evidências futuras foram conclusivas para decidir que o Big Bang foi, de fato, um acontecimento chave na origem do nosso Universo.
Representação artística do Big Bang.Fonte: GettyImages
Contudo, este evento ainda é pouco compreendido pelo público geral e está envolto por diversas ideais equivocadas que causam desentendimento e confusão. Aqui estão os 3 principais mitos que as pessoas acreditam sobre o Big Bang.
Conheça os principais mitos sobre o Big Bang
O Big Bang foi uma explosão
Ao olhar para galáxias distantes no Universo, vemos surgir, no geral, o mesmo comportamento: quanto mais longe a galáxia está, mais rapidamente ela se afasta de nós. Faz muito sentido, então, pensar que os objetos mais distantes se estão a afastar de nós a velocidades mais rápidas e que poderíamos rastrear cada galáxia que vemos hoje até um único ponto no passado: uma enorme explosão. Mas este é um equívoco sobre o que realmente é o Big Bang.
Não é que estas galáxias estejam a mover-se através do Universo, mas sim que a estrutura do espaço que constitui o próprio Universo que está a expandir.
Uma forma simples de entender isso é imaginar uma bexiga de aniversário vazia que foi marcada com uma caneta, onde se pintaram bolinhas. À medida que alguém enche essa bexiga de ar, as bolinhas desenhadas se afastarão entre si proporcionalmente à sua distância inicial, não porque se movem na bexiga, mas porque a própria bexiga está inflando.
Ponto em um balão se afastam entre si quando o balão é enchido de ar.Fonte: NASA
Em suma, não foi uma explosão inicial que fez com que as galáxias se afastassem umas das outras, mas sim a física do Universo em expansão, governada pela Relatividade Geral de Einstein, que faz com que o espaço – e as galáxias contidas nele – se expanda. Não houve explosão, apenas uma rápida expansão que tem evoluído com base no conteúdo de matéria e energia que está contido no nosso Universo.
O Big Bang ocorreu no meio do Universo
O Universo não surgiu em um “ponto central” no espaço. Embora você possa inicialmente pensar que, se tudo parece estar se expandindo para longe de todo o resto, então podemos extrapolar o tempo para trás quando todos se originaram no mesmo local, como uma granada que tem uma localização central de onde todos os estilhaços se originam.
No Big Bang, todos os pontos se expandem juntamente ao espaço.Fonte: BBC
Contudo, novamente, o Universo não explodiu, apenas se expandiu. Num Universo em expansão, todos os locais no espaço parecem iguais, quando se considera um volume suficientemente grande.
Na média de grande escala, o Universo parece ter a mesma densidade, a mesma temperatura e o mesmo número de galáxias em todo o lado. E se você extrapolar para trás no tempo, ele parecerá mais quente e mais denso, mas isso ocorre porque o próprio espaço também está evoluindo e se expandindo.
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Logo, o Big Bang não aconteceu em um único ponto, mas ocorreu em todos os pontos do espaço ao mesmo tempo, e aconteceu há um período finito de tempo. Quando olhamos para as regiões mais distantes do Universo, estamos olhando para trás no tempo, e o mesmo acontece com todos os outros observadores de todas as outras perspectivas que o Universo oferece.
O Big Bang ocorreu em um ponto de densidade e temperatura infinita
Se o Universo está se expandindo e esfriando hoje, então deve ter sido infinitamente menor, mais denso e mais quente no passado. Ao testar essa hipótese através da observação e medição das microflutuações de temperatura que vemos hoje na radiação cósmica de fundo, os cosmólogos perceberam que o Universo nunca passou de um certo nível específico de temperatura.
As flutuações de temperatura (diferentes colorações) na Radiação Cósmica de Fundo.Fonte: ESA
As flutuações de temperatura observadas são significativamente inferiores àquelas previstas por um estado infinitamente quente do Big Bang. A única conclusão possível para esse resultado é que o Universo teve um corte de temperatura no passado, nunca ultrapassando um limite crítico.