Em 2013, uma equipe de cientistas nomeou um fenômeno quântico de efeito quântico do gato Cheshire, em inspiração ao gato homônimo presente na obra Alice no País das Maravilhas do autor inglês, Lewis Carroll.
Assim como o gato desapareceu deixando apenas vestígios do seu sorriso, os pesquisadores sugeriram que as partículas quânticas podem se separar das suas propriedades — em outras palavras, as propriedades poderiam viajar por caminhos que a partícula não conseguiria. Mas parece que as coisas não são bem assim.
Além de se separar das propriedades, o efeito quântico do gato de Cheshire também poderia desincorporar múltiplas propriedades simultaneamente e até separar a dualidade onda-partícula de uma partícula. No entanto, um estudo recente publicado na revista científica New Journal of Physics sugere que os experimentos que nomearam o efeito em 2013 não apresentaram resultados assertivos.
Ao analisar o efeito quântico do gato de Cheshire, os pesquisadores descobriram que talvez ele não exista.Fonte: Shutterstock
Os pesquisadores explicam que as partículas não estavam se separando das suas propriedades, na realidade, eles estavam apresentando uma característica da mecânica quântica: a contextualidade. Eles explicam que não existe nenhum efeito quântico do gato Cheshire e que os experimentos produzem um resultado divergente quanto diferentes medições são realizadas.
“A maioria das pessoas sabe que a mecânica quântica é estranha, mas identificar o que causa essa estranheza ainda é uma área ativa de pesquisa. Isso foi lentamente formalizado em uma noção chamada contextualidade — que os sistemas quânticos mudam dependendo das medições que você faz neles”, disse o pesquisador e um dos autores do estudo, Jonte Hance, da Universidade de Hiroshima (Japão) e da Universidade de Bristol (Inglaterra).
Efeito quântico do gato Cheshire? Não.
Em um comunicado oficial, os cientistas explicam que a sequência de medições em um sistema quântico pode produzir diferentes resultados a depender da ordem na qual a medição é realizada.
Esse efeito é exatamente o que eles chamam de contextualidade, pois a forma que o experimento é observado afetará o resultado dos dados. Eles explicam que as medições realizadas em 2013 foram essenciais para produzir o efeito quântico do gato de Cheshire, mas que elas não estavam corretas.
- Leia também: O momento eureka da 'superquímica quântica'
Como o efeito quântico do gato de Cheshire é paradoxal e foi 'desbancado', a equipe planeja investigar outros efeitos considerados paradoxais para compreender se eles fazem parte da contextualidade da física quântica. A partir dos dados e das futuras pesquisas, os cientistas buscam explicar o motivo das medições mudarem em diferentes sistemas quânticos.
"Queremos corrigir isso mostrando que resultados diferentes são obtidos se um sistema quântico for medido de maneiras diferentes e que a interpretação original do gato de Cheshire quântico só acontece se você combinar os resultados dessas diferentes medições de uma maneira muito específica, e ignorar esta mudança relacionada à medição", disse outro professor da Universidade de Hiroshima, Holger Hofmann.
Mantenha-se atualizado com os mais recentes estudos sobre física quântica aqui no TecMundo. Se desejar, aproveite entender como a computação quântica conseguiu reduzir reação química em até 100 bilhões de vezes.