O que o maior estudo sobre felicidade humana nos ensina

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Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

“Relações sociais de qualidade são o fator mais importante para o bem-estar humano. Bons relacionamentos nos mantêm mais felizes e saudáveis, ponto final”, essa é a fala que finaliza uma das palestras TED mais vistas de todos os tempos.  Quem fala é Robert Waldinger, atual diretor do mais longo estudo sobre felicidade humana já realizado até hoje.

Vamos entender como foi realizado esse estudo e como os resultados dele podem contribuir para construir um hábito tão desejado: fazer exercícios físicos.

O estudo e o livro

O livro “Uma boa vida” (The good life), lançado em 2022 por dois diretores do estudo, conta histórias reais de participantes do mais longo estudo longitudinal da vida humana – O estudo do desenvolvimento adulto de Harvard, que busca responder à questão: O que nos faz feliz na vida?

Bons relacionamentos nos mantêm mais felizes e saudáveis, é a conclusão do estudo de Harvard.Bons relacionamentos nos mantêm mais felizes e saudáveis, é a conclusão do estudo de Harvard.Fonte:  Getty Images 

O estudo iniciou em 1938 envolvendo 724 participantes na primeira geração: 268 rapazes alunos de Harvard e 456 rapazes do subúrbio de Boston. Já são 85 anos de pesquisa e hoje os filhos (cerca de 1300 pessoas) dos participantes originais são alvo das investigações sobre sua vida, sobre especialmente a saúde física e mental.

Eles respondem questionários a cada 2 anos, sobre sua saúde, qualidade do casamento, sobre trabalho e carreira, envelhecimento e diversos outros aspectos. A cada 5 anos, são coletados alguns dados de saúde e a cada 10 anos é realizada uma entrevista profunda. O principal resultado do estudo de acompanhamento é que bons relacionamentos nos mantêm mais felizes, mais saudáveis e nos ajudam a viver mais.

Analogia com exercícios

Tal como temos a aptidão física, em que precisamos nos exercitar para manter e melhorar o físico corporal, como ganhar força ao levantar pesos na academia, os autores enfatizam a importância da aptidão social, e ela precisa de esforço para manter as relações sociais saudáveis.

Um interessante conceito abordado no livro é o de curiosidade radical e você pode aplicar isso na sua vida. Basicamente, é reverter o quadro social que temos com algumas pessoas próximas, quando vivemos anos ao lado delas e perdemos a curiosidade sobre elas, pois achamos que já as conhecemos suficiente.

Na verdade, quando estamos juntos há cinco, dez, vinte anos, sabemos muito menos o que a pessoa sente. Despertar novamente a curiosidade sobre a vida das pessoas é uma forma de aptidão social. Relacionamentos podem nos tornar mais felizes e ajudam também em um comportamento muito importante: atividade física.

Entenda como os relacionamentos são importantes para atividade física

Para um hábito saudável como atividade física, um aspecto importante tem sido tornar os exercícios uma atividade social. Diferente do que as redes sociais nos impõem, com a frase “fecha a cara e treina”, o exercício é uma oportunidade diária de socializar.

Vínculos sociais são uma necessidade psicológica básica do ser humano. Em uma pesquisa em academias na Coreia, foram os mais fortes preditores que mantiveram as pessoas se exercitando nos três primeiros meses, período, geralmente, caracterizado por desistências.

Tornar o exercício físico uma atividade social parece ser uma boa estratégia para mantê-lo na rotinaTornar o exercício físico uma atividade social parece ser uma boa estratégia para mantê-lo na rotinaFonte:  Getty Images 

Parece que se conectar socialmente é uma boa medida para ajudar na construção do hábito de exercícios. É natural de nossa espécie socializar e pertencer.

Sentimentos de apoio e conexão do ambiente social e o pertencimento a outras pessoas faz parte da nossa origem e evolução.

Outro estudo mostrou o poder do senso de comunidade, com uma adesão aos exercícios de 96% em um box de CrossFit, sucesso que tem relação com a construção de quatro elementos-chave:

  • Afiliação: sentimento de pertencimento ou relacionamento pessoal com outras pessoas do grupo;
  • Influência: sentimento de que você é importante e/ou pode fazer a diferença dentro do grupo;
  • Integração e o cumprimento de necessidades: sentir que suas necessidades serão atendidas pela participação em grupo;
  • Conexão emocional compartilhada: compromisso e crença de compartilhar semelhanças e experiências ao longo do tempo.

Além de tornar o exercício uma atividade mais agradável, pois há prazer derivado da companhia de pessoas que gostamos, o suporte social pode se manifestar emocionalmente, mediante encorajamento, incentivos e orgulho; instrumentalmente como na logística (transporte para o local de exercícios – uma carona) e de maneira informacional, como ensino e instruções entre as pessoas.

Convidar um amigo ou familiar para fazer exercício junto ou se inserir em um grupo de exercícios pode ser uma atitude favorável para sua saúde em pelo menos dois âmbitos: relacionamentos e movimento corporal. Juntos, esses comportamentos têm potencial para uma vida mais feliz e satisfatória.

Uma medida simples, efetiva e científica para fomentar o hábito de exercícios é torná-lo uma atividade social. A conexão humana através das relações sociais é chave para saúde e bem-estar, os exercícios físicos são uma oportunidade valiosa para isso. Aproveite.

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Fábio Dominski 
é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos.

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