Em um estudo publicado em julho do ano passado, o astrofísico Kyu-Hyun Chae, da Universidade Sejong, na Coreia do Sul, relatou a descoberta do que chamou “quebra da gravidade padrão Newton-Einstein”. Observando movimentos orbitais de binários amplos, pares de estrelas gravitacionalmente ligadas, ele detectou anomalias que não se encaixavam nas duas maiores leis sobre gravidade na física mecânica.
Contestado à época por alguns físicos, ele refez suas observações e cálculos e publicou recentemente um novo estudo, publicado na revista The Astrophysical Journal, no qual não apenas apresenta novas evidência da quebra da gravidade padrão, mas reforça sua hipótese de 2023, a partir de uma nova análise dos movimentos orbitais de estrelas fortemente separadas (mais de duas mil unidades astronômicas), mas gravitacionalmente ligadas.
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Trabalhando com dados do telescópio espacial Gaia da Agência Espacial Europeia, Chae descobriu que, quando a aceleração gravitacional mútua entre as duas estrelas gigantes é inferior a 0,1 nanômetro por segundo ao quadrado, ela se torna cerca de 30% a 40% maior do que o previsto na teoria clássica.
Como foi realizado o novo estudo de estrelas gêmeas?
O novo estudo excluiu sistemas que pudessem contaminar os binários puros.Fonte: Universidade de Sejong/Departamento de Física e Astronomia
No novo estudo, Chae se concentrou em uma amostra limpa de binários amplos "puros", para evitar as alegações de "contaminação" do estudo anterior. Dessa forma, ele se assegurou de remover quaisquer outros sistemas que pudessem abrigar estrelas adicionais não observadas.
A ideia foi de suprimir potenciais efeitos gravitacionais ocultos, e também comparar a nova amostra pura com as do estudo anterior.
Para isso, o astrofísico de Sejong selecionou, de forma cautelosa, até 2.463 binários puros, menos de 10% da amostra anterior. Em seguida, aplicou dois algoritmos para testar a gravidade a partir de uma amostra de binários puros. Os dois parâmetros produziram resultados consistentes, que apoiam a tese da anomalia gravitacional já relatada.
Uma nova mudança nas leis da gravidade?
Chae propõe um novo paradigma científico.Fonte: Kyu-Hyun Chae
A anomalia gravitacional observada repetidamente por Chae mostrou-se consistente com a chamada fenomenologia da gravidade do tipo MOND (Dinâmica Newtoniana Modificada), proposta em 1983 pelo físico israelense Mordehai Milgrom, que defende que a famosa lei da gravidade de Isaac Newton é válida até certo ponto.
Além disso, essa ampla anomalia gravitacional binária lembra muito o comportamento estranho de Mercúrio, observado em 1859 pelo astrônomo e matemático francês Urbain Le Verrier. Na época, o planeta mais próximo ao Sol desviou-se inexplicavelmente de sua órbita, contrariando a precessão do seu periélio prevista pela física newtoniana. A anomalia só foi explicada por Albert Einstein em sua Teoria da Relatividade Geral de 1915.
Para Chae, algo semelhante pode estar acontecendo. "Pelo menos três análises quantitativas independentes feitas por dois grupos independentes revelam essencialmente a mesma anomalia gravitacional. A anomalia gravitacional é real e uma nova mudança de paradigma científico está a caminho", conclui.
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