Na madrugada desta segunda-feira (8), a NASA marcou o seu retorno à Lua, após uma ausência de mais de meio século, com o envio da Peregrine Mission One ao nosso satélite natural. Lançado a bordo do foguete Vulcan da United Launch Alliance (ULA) às 2h18 EST (4h18 de Brasília), o módulo de pouso Peregrine da Astrobotic tem uma jornada de cerca de 46 dias para chegar à superfície lunar.
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Primeira missão a voar sob a iniciativa dos Serviços de Carga Lunar Comercial (CLPS) da NASA, a sonda lunar, que tem uma capacidade total de 90 kg, está transportando instrumentos científicos importantes, como retrorrefletores a laser e diversos espectrômetros (de nêutrons, de transferência de energia linear, de voláteis por infravermelho próximo, e de massa).
Porém, além dos equipamentos científicos, o módulo de pouso robótico está levando uma carga controversa de duas empresas de voos espaciais memoriais: a Elysium Space e Celestis. São restos mortais cremados e amostras de DNA de diversas pessoas que compraram planos funerários lunares.
Peregrine Mission: primeiro módulo robótico funerário
A perspectiva da transformação da Lua em um cemitério particular provocou a reação de diversas comunidades. “É crucial enfatizar que a Lua ocupa uma posição sagrada em muitas culturas indígenas, incluindo a nossa”, escreveu formalmente à NASA o presidente da Nação Navajo, Buu Nygren, chamando a negociação de ato de profanação.
Em um briefing científico de pré-lançamento, os representantes da agência espacial norte-americana abordaram o assunto, mas "tiraram o corpo fora".
Afirmaram que, por ser um empreendimento comercial privado, a NASA apenas contratou suas cargas científicas, mas não tem "estrutura para lhes dizer o que podem ou não transportar" afirmou o gerente do CLPS, Chris Culbert, explicando que “o processo de aprovação não passa pela NASA”.
A Lua como playground dos privilegiados: uma questão ética
A Elysium Space oferece mausoléus profundos e prepara uma missão para enterros no espaço profundo.Fonte: Elysium Space
A NASA foi pioneira na questão de memoriais lunares. Em 1998, a agência espacial transportou as cinzas do fundador da astrogeologia, Gene Shoemaker, a borda da sonda espacial Lunar Prospector. No ano seguinte, o veículo espacial colidiu propositalmente com a cratera Shoemaker, fazendo do astrônomo o primeiro ser humano a ter seus restos mortais fora da Terra. Até agora.
O CEO e cofundador da Celestis, Charles Chafer, irritou-se com a manifestação dos navajos. "Ninguém, nem nenhuma religião, é dono da Lua e, se fossem consideradas as crenças da multidão de religiões do mundo, é bastante provável que nenhuma missão fosse aprovada", afirmou em comunicado ao Space.com.
Diversos cientistas usaram a plataforma BlueSky para se manifestar sobre o que chamaram de lado sombrio das viagens espaciais comerciais. “O lado comercial da exploração espacial tornou-se o playground dos privilegiados”, postou Rami Mandow, um radioastrônomo da Austrália.
A expectativa é que a sonda faça seu pouso na superfície lunar em 23 de fevereiro, porém foi relatado pela Astrobotic Technology, que o equipamento sofreu uma anomalia, poucas horas após a sua decolagem, o que pode comprometer o sucesso na missão.
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