Desde dezembro de 1996, quando a NASA enviou o seu primeiro rover — Sojourner — ao planeta Marte, uma questão permanece em aberto, mesmo após o envio de outros cinco veículos robóticos: se alguma vez existiu vida em Marte, será que algum vestígio dessas formas biológicas pode ser detectado como bioassinaturas, em um ambiente tão hostil?
Recentemente, uma pesquisa escolar publicada na revista da Sociedade Astronômica Americana, Research Notes of the AAS, testou os limites de detecção dessas bioassinaturas, imprimindo-as por meio de misturas de um tapete microbiano cianobacteriano com sulfato de cálcio (gesso), levadas a um cenário marciano simulado.
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Alunas do ensino médio da St Bernard's Convent High School em Westcliff-On-Sea, na Inglaterra, ajudaram cientistas do Museu de História Natural e da University College London a realizar um experimento para testar se vidas antigas em potencial poderiam ter deixado evidências em locais do Planeta Vermelho.
Como as pesquisadoras simularam a vida e o ambiente em Marte?
As "bolinhas de vida" retornaram à Terra de paraquedas.Fonte: ThalesAlenia Space
Para fazer uma simulação das potenciais bioassinaturas marcianas, a equipe teve que resolver dois problemas: encontrar um simulacro de vida marciana e recriar as condições do planeta. A questão da vida marciana foi suprida por esteiras microbianas, comunidades de microrganismos que se desenvolvem em ambientes aquáticos. Elas são estudadas pela coautora Louisa Preston no Museu de História Natural, em Londres.
Resolvido o problema da vida, o desafio foi simular as condições de Marte. Para isso, a equipe contratou uma empresa chamada Thales Alenia Space, que desde 2014, lança balões meteorológicos que transportam experimentos científicos escolares a altitudes superiores a 30 quilômetros, com temperaturas caindo a -50°C e pressões 1/100 das terrestres.
No balão, as alunas colocaram bolinhas de gesso com amostras da esteira microbiana em recipientes plásticos. Metade ficou na Terra como controle, enquanto as outras foram levadas ao espaço pelo balão, e depois retornaram de paraquedas ao solo terrestre.
A análise das formas de vida vindas do espaço
As amostras vindas do espaço foram analisadas com espectrômetros infravermelhos.Fonte: ThalesAlenia Space
Depois que retornaram à Terra, as amostras foram escaneadas através da técnica de espectroscopia infravermelha, que é capaz de identificar a composição de cada uma delas, observando como absorvem essa radiação.
No caso das amostras de controle, as pesquisadoras apuraram que níveis mais elevados de gesso na mistura encobriram as bioassinaturas na esteira microbiana. Mas, nas amostras que foram ao espaço, o resultado foi diferente: a grande altitude desidratou o gesso, fazendo com que certos aspectos do tapete fossem destacados na análise.
A conclusão do estudo é que "a exposição a um ambiente estratosférico simulado de Marte, mesmo por períodos relativamente curtos, pode causar desidratação parcial da amostra e destacar as impressões digitais espectrais das principais bioassinaturas". Isso significa que os rovers em Marte equipados com espectrômetros infravermelhos conseguirão, sim, detectar bioassinaturas, ainda que estejam preservadas em sulfato de cálcio.
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