À medida que cientistas interpretam os dados enviados de Saturno pela sonda Cassini (que encerrou suas pesquisas em 2017), mais atenção tem sido dedicada à lua oceânica do planeta, Encélado, como fonte de vida em nosso Sistema Solar. Em um estudo recente, ainda sem revisão por pares, pesquisadores relatam a descoberta de elementos consistentes com modelos de possíveis ecossistemas na lua saturniana.
Em um histórico sobrevoo realizado em 2008, a Cassini descobriu plumas de água parecida com gêiseres em erupção através da concha gelada de Encélado. Analisando a água expelida com seu Analisador Cósmico de Poeira (CDA), a sonda encontrou uma mistura rica em substâncias, como dióxido de carbono, vapor d'água e monóxido de carbono. Havia também vestígios de nitrogênio molecular, hidrocarbonetos simples e materiais orgânicos complexos.
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O trabalho focou na existência de amônia e fósforo inorgânico no oceano enceladiano, elementos que têm papel significativo nos ecossistemas aquáticos e terrestres. A partir daí, os autores usaram a teoria metabólica e ecológica para avaliar de que forma esses produtos químicos poderiam tornar essa lua capaz de sustentar vida.
Aplicando a teoria ecológica na lua de Saturno
As plumas geladas de Encélado são ricas em fosfato.Fonte: NASA
A teoria ecológica usada no trabalho é baseada no chamado índice de Redfield, uma relação empírica feita pelo oceanógrafo americano Alfred Redfield, entre os elementos químicos carbono (C), nitrogênio (N) e fósforo (P). Ele sugere que há um equilíbrio entre os componentes do ambiente aquático com os nutrientes do plâncton e zooplâncton.
Em 1934, Redfield fixou a proporção de carbono para nitrogênio e fósforo (C:N:P) válida para toda a biomassa oceânica da Terra em 106:16:1.
Mas, nessa razão, não são os números exatos o ponto crítico, mas sim a parte vital. Por isso o chamado racio de Redfield revela uma notável unidade entre a química dos seres vivos no fundo do oceano com o próprio oceano.
Avaliando as perspectivas de vida em Encélado
Corte transversal de Encélado para modelagem de seus compostos químicos.Fonte: Southwest Research Institute (SwRI)
Usando modelos quimiostáticos, os autores avaliaram a possibilidade da metanogênese (metabolização do metano), como a feita pelas arqueias da Terra, uma vez que a modelagem bioquímica sugere que os metanógenos terrestres são compatíveis com os encontrado no oceano de Encélado.
Aplicando o índice de Redfield, os pesquisadores desenvolveram um modelo novo e mais detalhado para avaliar as perspectivas de surgimento de vida na lua de Saturno. No entanto, apesar da presença de fósforo, a proporção geral foi considerada “limitante para células semelhantes às da Terra”.
Nas considerações finais, os autores argumentam que a grande distância permite apenas a identificação individual de produtos químicos, mas não a química geral de Encélado. Se fosse feita uma observação mais ampla, como a de Redfield, ela poderia revelar que "formas de vida não-terrestres reorganizam os produtos químicos de maneiras totalmente diferentes", concluem.
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