Embora a vida na Terra não parece ter sido fácil para os dinossauros, são justamente as condições da atmosfera planetária daquele período, chamado Éon Fanerozoico, que estão sendo usadas por astrônomas, em uma pesquisa recente, como modelo para encontrar vida em exoplanetas rochosos.
Publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters, o estudo afirma que a “impressão digital da luz” daquelas condições que permitiram a vida eclodir aqui pode ser a peça que faltava em nossa busca de sinais de vida em planetas orbitando outros sistemas estelares.
Usando estimativas de dois modelos climáticos estabelecidos (chamados GEOCARB e COPSE), as pesquisadoras da Universidade de Cornell, de Ithaca nos EUA, simularam a composição da atmosfera terrestre nos últimos 540 milhões de anos de evolução. A sua hipótese é de que os telescópios terão mais facilidade em detectar potenciais assinaturas químicas de vida em exoplanetas parecidos com a Terra farenozoica.
Como funcionam as "impressões digitais de luz" da Terra?
Resumo da modelagem feita pelas astrônomas da Cornell.Fonte: Rebecca Payne/Carl Sagan Institute.
As chamadas impressões digitais ou traços de luz dos planetas são espectros de transmissão gerados quando a atmosfera local absorve determinadas cores da luz da estrela hospedeira, mas permite que outras cores passem. No caso da Terra, dois pares principais de bioassinaturas — oxigénio e metano, e ozono e metano – eram mais fortes nos modelos da Terra há cerca de 100-300 milhões de anos, quando havia mais oxigênio.
Coautora do trabalho, a diretora do Carl Sagan Institute (CSI), Lisa Kaltenegger, explica em um release que “a impressão digital de luz da Terra moderna tem sido o nosso modelo para identificar planetas potencialmente habitáveis, mas houve um tempo em que esta impressão digital era ainda mais pronunciada — melhor para mostrar sinais de vida”.
A expectativa é de que a ampliação da faixa do espectro possa facilitar a busca de sinais de vida em exoplanetas, "mesmo de vida grande e complexa", enfatiza a professora de astronomia da Cornell.
Usando modelos evolutivos da Terra para buscar vida no cosmos
Exoplaneta Kepler 621 pode ser a representação de uma Terra prebiótica.Fonte: Getty Images
Kaltenegger trabalha com modelos evolutivos da Terra para observadores distantes desde 2020. Suas observações se concentram em alterações geológicas, climáticas e atmosféricas ocorridas ao longo do tempo, para estabelecer o que ela chama de "verdade básica”, capaz de identificar evidências de vidas em outros planetas como o nosso.
Dos 35 exoplanetas rochosos descobertos em zonas habitáveis até o momento, pondera a pesquisadora, há uma possibilidade de exame de suas atmosferas pelo Telescópio Espacial James Webb. No entanto, os cientistas precisam saber o que estão procurando e, nesse sentido, as assinaturas digitais da Terra Farenozoica podem ser mais promissores.
Isso significa que, se os observadores detectarem um suposto exoplaneta habitável com 30% de oxigênio, a vida lá poderia ter ultrapassado a fase microbiana e incluir criaturas como megalossauros ou microrraptores.
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