Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Vivemos hoje praticamente o dia inteiro sentados. Conseguimos quase tudo que precisamos mexendo apenas os polegares e pedindo via aplicativos no smartphone. Apesar do conforto, existem consequências graves disso. A principal delas é aumentar o risco de morte. A questão que surge é: existe um modo de reduzir ou eliminar esse risco?
Talvez você pense que não há muito o que fazer, visto que o ambiente fomenta ficarmos mais sentados. Eu concordo em parte, pois provavelmente não vamos conseguir frear o avanço tecnológico que faz com que fiquemos cada vez mais parados, ou melhor, sentados. Enquanto escrevo essa coluna, máquinas estão trabalhando por mim na minha casa: um robô varre e aspira o chão, a máquina lava as roupas, outra lava as louças e por aí vai.
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As transformações não são de hoje, apesar da brusca aceleração no processo ser recente. Primeiro, percebemos a Revolução Agrícola, marcada pela transição do estilo de vida caçador-coletor nômade para um sedentário (no sentido de permanecer no mesmo local) que cultiva seu alimento, plantando e colhendo. Depois, a Revolução Industrial, com o uso de máquinas em vez de trabalho humano. Mas segundo o pesquisador Daniel Lieberman, hoje a Evolução
Cultural é a mais notável força de mudança no planeta, impactando radicalmente nossos corpos.
Uma associação está clara a partir dos achados científicos ao longo das últimas décadas: entre comportamento sedentário e mortalidade. Comportamento sedentário corresponde ao tempo que ficamos sentados, com baixo gasto energético. Ficar mais tempo sentado durante o dia implica em maior risco de morte.
Ir de bicicleta para o trabalho, além de funcionar como uma atividade física também contribui com o meio ambiente. Fonte: Getty Images
Porém, algo não está claro ainda: se fazer atividade física modifica essa relação, podendo esse ser um fator que ameniza ou elimina os riscos de ficar muito tempo sentado por dia. Uma nova evidência nos mostra um caminho.
22 minutos de atividade física por dia
Uma publicação científica há uma semana ganhou repercussão nos principais sites de notícias: um estudo com análise de quase 12 mil pessoas acima de 50 anos, entre 2003 e 2016, dos Estados Unidos, Noruega e Suécia, que usaram dispositivos para verificar seu movimento físico durante 10 horas por dia, por pelo menos quatro dias. Eles queriam saber se atividade física seria um antídoto para os males de ficar sentado por muito tempo.
E foi. Nas pessoas que cumpriram a recomendação de atividade física, o tempo em comportamento sedentário não foi associado com mortalidade. Quem ficou mais de 12 horas sentado por dia, apresentou risco de mortalidade 38% maior, mas isso somente para aqueles que não conseguiram cumprir o mínimo necessário de atividade física.
Qual o mínimo? Duas horas e meia por semana. O que dá em torno de 22 minutos por dia de atividade física. Estamos falando aqui de atividade física e não necessariamente exercícios, que seria ir a uma academia fazer musculação, por exemplo:
- Atividades físicas são realizadas em diversos contextos: quando você limpa a casa;
- Se desloca de bicicleta para o trabalho;
- Sobe escadas e caminha pequenas distâncias durante o dia.
Pequenos afazeres domésticos como varrer a casa, por exemplo, já nos ajudam a movimentar o corpo durante o dia.Fonte: Getty Images
No estudo, a dose de atividade física foi importante, sendo que mais foi melhor e mesmo pouco foi associado a menor risco de morte precoce. Mais atividade física implicou em menor risco: apenas 10 minutos a mais de atividade física por dia foram associados a um risco de mortalidade 15% menor nos menos sedentários (que ficavam sentados menos que 10 horas por dia), e 35% menor nos que ficavam mais que 10 horas por dia sentados.
Além da dose, a intensidade da atividade física também foi determinante, pois somente quem era altamente sedentário, se beneficiou de atividades leves. Então para quem fica muito tempo sentado por dia, qualquer movimento conta.
Dicas para aumentar suas atividades físicas incluem gerar oportunidades para se mover mais durante o seu dia, como reuniões caminhando ou a simples ação de tomar bastante água enquanto está sentado, a demanda de ter que ir ao banheiro constantemente te fará levantar e dar alguns passos, quebrando o tempo em comportamento sedentário. O fato é que podemos obter mais benefícios ainda através de exercícios físicos, especialmente para saúde mental.
Uma ressalva é que provavelmente saber desses resultados não implicará diretamente em motivação para nos movimentarmos mais através de exercícios, que são uma forma específica e organizada de atividade física. Saber que faz bem para a saúde não é um motivo forte o suficiente para fazer exercícios, a não ser que estejamos doentes.
O que mais importa são as experiências que temos com os exercícios. Se positivas, elas têm o potencial de nos mantermos engajados com os treinos, com prazer, socialização, interesse e diversão, assim o fator saúde será consequência. Apenas 22 minutos por dia que podem te fazer viver mais e melhor.
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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/CEFID/UDESC). É autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos, e apresenta o programa Exercício Físico e Ciência na rádio UDESC Joinville (91,9 FM); o programa também está disponível em podcast no Spotify.