Um estudo recente publicado na revista Science apresentou um dado alarmante sobre a ocupação da órbita baixa da Terra (LEO na sigla em inglês): mais de um milhão de satélites estão programados para chegar a essa região do espaço, localizada abaixo dos dois mil quilômetros de altitude, que já abriga dezenas de milhares de objetos orbitais.
Para chegar a essa estimativa, pesquisadores da Universidade British Columbia, em Vancouver no Canadá, analisaram dados recentes de registros feitos na União Internacional de Telecomunicações (UIT), a agência das Nações Unidas responsável pela concessão de licenças para instalação de satélites na LEO.
Os futuros satélites, protocolados por nações do mundo inteiro, são distribuídos em 300 megaconstelações. Sua instalação efetiva representaria multiplicar por 115 o número de satélites funcionais existentes. O autor principal do estudo, Andrew Falle, alertou ao Space.com que “serão necessárias regras nacionais e internacionais para enfrentar os desafios de sustentabilidade associados, como riscos de colisão, poluição luminosa e riscos de reentrada”.
Satélites "de papel" na órbita da Terra?
Os pedidos de registros de satélite na UIT são maiores do que as empresas pretendem lançar.Fonte: Getty Images
Analisando os registros da UIT entre 2017 e 2022, os pesquisadores perceberam que os países têm solicitado constelações infinitamente maiores que a da veterana Starlink, da SpaceX, atualmente com cerca de 4,5 mil satélites em órbita. Para se ter uma ideia, uma única constelação — a Cinnamon-937 do Ruanda — projeta um total de 337.320 corpos celestes artificiais.
De acordo com Ewan Wright, coautor do estudo, o que chamou a atenção da equipe não foram apenas esses números estratosféricos, mas o fato de os governos e empresas estarem inflando propositalmente as propostas. Ou seja, solicitam espaço orbital para um número muito maior de satélites do que pretendem realmente lançar, afirmou o pesquisador ao Space.com.
Isso pode ser um claro indicativo que essas entidades privadas e públicas pretendem capitalizar diferentes regulamentações entre países com o objetivo de minimizar a supervisão do órgão regulador. “Quanto mais analisávamos as questões em torno destas constelações, mais víamos que a UIT teria dificuldade em dar conta [das demandas]”, afirmou Wright.
O lixo espacial polui a Terra de forma invisível, diz nova pesquisa
Coincidentemente, o estudo que defende a limitação dos registros de satélite pela UIT ocorre quatro dias antes de uma importante descoberta feita por pesquisadores da Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA). Eles descobriram que, mesmo queimando ao reentrar na atmosfera terrestre, os foguetes, estações espaciais e satélites "mortos" deixam minúsculos vestígios de metal que poluem nossa atmosfera.
Usando o instrumento Particle Analysis by Laser Mass Spectrometer (PALMS) a bordo da aeronave WB-57 da NASA., a equipe descobriu que cerca de 10% dos aerossóis na estratosfera acima de um determinado tamanho retinham partículas de espaçonaves vaporizadas. Essa ocorrência pode ter reflexos desconhecidos nas inclusões e nucleações de gelo, processo naturais que regulam a formação de nuvens, com influência no clima e no meio ambiente.
O estudo conclui que, com o dramático aumento de eventos de reentrada na atmosfera, é provável que "a percentagem de partículas de ácido sulfúrico estratosférico que contêm alumínio e outros metais provenientes da reentrada de satélites seja comparável à cerca de 50% das que agora contêm metais meteóricos".
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