Enquanto pensava estar trabalhando com fragmentos de uma placa tectônica conhecida, uma geóloga da Universidade de Utrecht (UU), nos Países Baixos, fez uma grande descoberta geológica: um pedaço gigantesco da crosta terrestre do tamanho de um quarto do atual Oceano Pacífico. Essa megaplaca, que pode datar de até 160 milhões de anos, era procurada há mais de dez anos por seus colegas.
A autora da descoberta, Suzanna van de Lagemaat, trabalhava na reconstrução de placas perdidas, usando antigas pesquisas de campo e descrição de dados dos cinturões montanhosos do Japão, Bornéu, Filipinas, Nova Guiné e Nova Zelândia. Ao examinar vestígios oceânicos de Bornéo, a pesquisadora notou similaridades com a antiga placa até então apenas intuída, batizada pelos cientistas de Pontus.
De acordo com van de Lagemaat, que fará a apresentação da pesquisa como sua tese de doutorado no próximo dia 13 de outubro, a investigação de laboratório magnético mostrou que as rochas que estudou no norte de Bornéu “eram originárias de muito mais ao norte e deviam ser restos de uma placa diferente e até então desconhecida".
A reconstrução da placa tectônica Pontus
Assim que Pangeia, a massa terrestre original, se desfez há´175 milhões de anos, a placa Pontus foi subduzida (engolida) ao longo de milhões de anos por placas superiores que arrastaram Bornéu e Filipinas para suas localizações atuais. As pesquisas de van de Lagemaat tinham foco na chamada região de junção, que vai do Japão à Nova Zelândia, passando por Bornéu, Filipinas e Nova Guiné.
No entanto, diferentemente das reconstruções anteriores da junção, van de Lagemaat e seu orientador Douwe van Hinsbergen não utilizaram dados paleogeomagnéticos, optando por avaliar a região ocidental inteira do Pacífico e do superoceano Panthalasssa que o antecedeu, e rodeava Pangeia.
“Assumimos o modelo de placas mais simples, com a menor quantidade de limites de placas necessários para explicar a geologia atual”, explica a dupla de pesquisadores no artigo publicado na revista Gondwana Research.
Relevância da descoberta da nova placa tectônica
Resumo gráfico da pesquisa.Fonte: Van de Lagemaat, S. et al.
Previsões anteriores da existência da placa Pontus só foram possíveis porque, quando é subduzida, uma placa tectônica deixa uma espécie de "impressão digital" ao afundar no manto terrestre: zonas com temperaturas ou composições específicas. Essas anomalias são percebidas quando os sismógrafos captam sinais de terremotos, e têm os sinais interrompidos nesses pontos.
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Baseado nesses dados, o estudo de quase 11 anos feito na mesma UU revelou que uma suposta grande zona de subducção pode ter atravessado o Oceano Paleo-Pacífico que separava todas as placas conhecidas na região, que ficavam no leste, da hipotética placa Pontus, que ficava no oeste.
Por isso, a atual pesquisa é tão importante. "Foi somente depois que Suzanna reconstruiu sistematicamente metade dos cinturões de montanhas do 'Anel de Fogo', do Japão, passando pela Nova Guiné, até a Nova Zelândia, que a proposta placa Pontus se revelou, e incluía as rochas que estudamos em Bornéu", destaca van Hinsbergen.
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