Poucos questionamentos na cultura contemporânea instigam tanto a nossa curiosidade e imaginação quanto este: é possível viajar no tempo?
Respondendo de forma curta e direta: sim, e estamos fazendo isso agora mesmo!
Por exemplo, viajamos um ano entre nossos aniversários, cerca de 24 horas entre dois dias e estamos todos, em média, viajando no tempo à mesma taxa de um segundo por segundo. Mas não é este tipo de viagem no tempo enfadonha que cativou inúmeros fãs de ficção científica ao longo de décadas e produziu inúmeros filmes e obras literárias sobre o gênero.
No filme De volta para o futuro, a máquina do tempo é um DeLorean.Fonte: Getty Images
Em franquias clássicas como De volta para o futuro, Star Trek e Doctor Who, os personagens sobem em alguma máquina estranha e rumam ao passado ou em direção ao futuro. Nesses diferentes intervalos temporais, eles enfrentam uma série de consequências que nossa mente julgaria acontecer se o passado for alterado ou o futuro conhecido.
Entretanto será mesmo possível usar os aspectos fundamentais do tempo e espaço para explorar não apenas as consequências do presente no futuro, mas também eventos do passado?
No início do século passado, Albert Einstein, com sua teoria da relatividade, lançou as bases para nossa compreensão moderna do tempo e espaço. Em 1905, Einstein desenvolveu uma parte restrita de sua teoria, chamada de relatividade especial. Esta, juntamente com sua expansão posterior, a teoria da relatividade geral, publicada pela primeira vez em 1915, se tornou um dos princípios fundamentais da física moderna.
Einstein explicando a Teoria da Relatividade em uma palestra na década de 20.Fonte: Domínio Público
A teoria da relatividade especial
A relatividade especial descreve a relação entre espaço e tempo para objetos que se movem a velocidades constantes em linha reta. A versão resumida da teoria se fundamenta em duas ideias aparentemente simples: a primeira é que todas as coisas são medidas em relação a alguma outra coisa (isto é, não existe um quadro de referência “absoluto”) e, em segundo, a velocidade da luz é constante e um limite máximo na natureza.
A partir desses princípios simples, desdobra-se uma viagem no tempo real e mensurável: um observador viajando em alta velocidade experimentará o tempo em um ritmo mais lento do que um observador que não esteja acelerando. Em outras palavras, quanto mais rápido você viaja, mais devagar você experimenta a passagem do tempo.
Como a velocidade afeta a passagem do tempo na representação do Paradoxo dos Gêmeos.Fonte: Lumen Learning
Embora não seja possível acelerar objetos macroscópicos a velocidades próximas à da luz, os cientistas já realizaram uma série de experimentos para mostrar que isso é verdade. Em um dos mais clássicos, usa-se dois relógios perfeitamente sincronizados na mesma hora. Um destes relógios permanece na Terra, enquanto o outro segue em um avião que viaja na mesma direção de rotação da Terra.
Depois que o avião deu a volta ao mundo, os cientistas compararam os dois relógios e verificaram que o relógio do avião em alta velocidade estava levemente atrasado em relação ao relógio que ficou na superfície, constatando que o relógio do avião estava viajando um pouco mais devagar do que a taxa de um segundo por segundo.
Em suma, se você quer viajar rapidamente no tempo, basta acelerar! A depender da qualidade do seu equipamento, em teoria, seria possível viajar dias, meses, décadas e até mesmo bilhões de anos no futuro. Você poderia, então, testemunhar a evolução e a destruição da humanidade, o fim da Terra e do Sol, a colisão da Via Láctea com Andrômeda.
O problema é mesmo tentar viajar no tempo em direção ao passado. Nesse caso, precisamos da versão completa da teoria de Einstein, a relatividade geral, que apresenta a relação entre espaço, tempo, matéria e energia. Nela, o espaço-tempo é um tecido inseparável e a matéria e a energia é o que o deforma e provoca alterações nesse tecido.
Representação da distorção no espaço-tempo causado por corpos massivos.Fonte: GettyImages
O famoso buraco na minhoca
Segundo a teoria da relatividade geral, a presença de corpos massivos distorce o tecido do espaço-tempo, resultando também em efeitos de dilatação do tempo. Quanto maior a proximidade do corpo massivo, maior será a distorção temporal e, portanto, mais lentamente o tempo passará em relação a um outro observador situado mais afastado.
Algumas soluções específicas para as equações de Einstein sugerem a possibilidade teórica para a existência de buracos de minhoca (pontes de Einstein-Rosen), estruturas de passagem no espaço-tempo que conectariam diretamente dois universos distintos ou duas regiões distantes dentro do mesmo universo.
Se essas estruturas pudessem ser estabilizadas e manipuladas, em teoria, seria possível usá-las para viajar no tempo, inclusive para o passado, lugar onde residem alguns dos mais curiosos paradoxos científicos e filosóficos já discutidos.
Representação de um buraco de minhoca.Fonte: Getty Images
Até agora e possivelmente por muito e muito tempo no futuro, viagens no tempo significativas existirão apenas na possibilidade matemática e nas páginas dos livros de ficção científica. A descoberta e qualquer nível de manipulação prática de estruturas ou máquinas que nos possibilitem viajar ao futuro ou voltar ao passado para corrigir nossos erros, continuará, provavelmente, apenas na nossa imaginação.